Quatro empresas com negócios nas áreas de terminais portuários e operações marítimas vêm enfrentando a turbulência dos mercados financeiros sem encontrar um porto seguro capaz de proteger o valor de suas ações. No acumulado do ano, as ações das empresas de logística Santos Brasil, Log-In, Wilson, Sons e LLX caíram quase 50%, em média, bem acima da queda do Ibovespa no período, de cerca de 28%. O desempenho deve-se, sobretudo, ao movimento de venda de estrangeiros, donos de boa parte das ações dessas companhias negociadas no mercado. Na crise, esses investidores desfizeram-se de papéis menos líquidos, caso das empresas de logística no Brasil, para cobrir perdas com a crise nos Estados Unidos. Silvia Costanti / Valor
Cezar Baião, presidente da Wilson, Sons, prevê problema de financiamento para desenvolvimento de novos projetos
Um fundo de investimentos americano saiu da Wilson, Sons, por exemplo, e abriu espaço para outros acionistas ampliarem participação na empresa. A Gávea Investimentos, gestora de recursos do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, e outro gestor de fundos dos EUA, o Eton Park, aumentaram suas fatias no capital da Wilson, Sons para 5,1% e 5,37%, respectivamente. “Todas as ações caíram muito com a crise, mas, em momentos como este, há investidores interessados em aproveitar oportunidades”, diz Cezar Baião, presidente da Wilson, Sons.
Do capital total da Wilson, Sons, 42% são negociados no mercado, o chamado “free float”. Desse total, 90% das ações estão em mãos de estrangeiros e 10%, de brasileiros. A ação da Wilson, Sons caiu 42% desde a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), em abril de 2007, quando a empresa captou US$ 348,6 milhões, dos quais US$ 125 milhões entraram no caixa da companhia (a diferença ficou com os acionistas controladores). Juntas, Santos Brasil, Wilson, Sons e Log-In captaram, desde 2006, cerca de R$ 2,5 bilhões, entre ofertas primárias e secundárias.
Procurado para falar da operação que permitiu ampliar a participação acionária na Wilson, Sons, Arminio Fraga disse que a gestora não comenta investimentos. “Gostamos do setor e da empresa”, limitou-se a dizer por e-mail. Os principais executivos das grandes companhias de logística integrada avaliam que os fundamentos das empresas continuam sólidos, assim como a geração de caixa, que é forte.
Em alguns casos, como da Wilson, Sons e da Log-In, o caixa, reforçado pelo dinheiro das ofertas iniciais de ações feitas em 2007, dá poder de fogo para as empresas desenvolverem planos de investimento sem necessidade imediata de ir ao mercado fazer novas captações. Com a oferta inicial de ações, a Wilson, Sons queria ter dinheiro em caixa para fazer aquisições, sobretudo no Brasil, mas não encontrou boas oportunidades.
Mauro Dias, presidente da Log-In, diz que a empresa não tem necessidade de revisar, em função da crise, o plano de investimentos porque tem recursos para implementá-lo. Uma eventual captação seria necessária, segundo ele, em caso de nova aquisição. No fim do segundo trimestre, a Log-In tinha em caixa R$ 194 milhões. O investimento total da companhia até 2013 é de R$ 1,5 bilhão, dos R$ 288 milhões serão aplicados em 2008.
Já a LLX Logística, do empresário Eike Batista, precisará, para desenvolver o seu ambicioso plano de investimentos, uma injeção de capital dos acionistas controladores ou encontrar um investidor interessado em ter uma participação acionária na empresa, segundo visão de analistas de mercado ouvidos pelo Valor.
As ações da LLX, que têm participação do fundo de pensão dos professores de Ontário, no Canadá, o OTPP, passaram a ser negociadas em julho deste ano no Novo Mercado da Bovespa. Em um segundo momento, a empresa planejava fazer uma oferta inicial de ações, mas a crise dos mercados deve dificultar a operação a curto prazo. O Valor procurou a diretoria da LLX, mas não teve retorno.
Ontem, em meio à queda de 9,36% do Ibovespa, a ação da LLX caiu 10%. As concorrentes da área de logística portuária foram pelo mesmo caminho. A ação da Log-In recuou 16,53% e a da Wilson, Sons, 4,11%. A Santos Brasil saiu-se melhor, caindo 0,44%. No acumulado do ano, a situação é mais delicada: a ação da Wilson, Sons caiu 46%, a da Santos Brasil, 32%; a da Log-In, 56% e a da LLX, desde a listagem, em julho, 61%.
“Seremos os primeiros a acessar os mercados quando eles voltarem a funcionar normalmente. Hoje ninguém faz nada”, diz Richard Klien, vice-presidente do conselho de administração da Santos Brasil, o principal terminal de contêineres da América do Sul, no porto de Santos. Em 2006, a Santos Brasil captou, via oferta inicial de ações, R$ 933 milhões e, em 30 de junho, tinha disponível em caixa R$ 170 milhões. Klien diz que o investidor acredita na empresa, que, segundo ele, tem um “hedge” natural: “Quando o câmbio sobe e a empresa tem um volume de movimentação de contêineres inferior ao previsto, uma coisa compensa a outra”, afirma.
Cerca de 30% do capital da Santos Brasil está no free float, dos quais dois terços em mãos de estrangeiros. Klien diz que a crise financeira vai encarecer os spreads dos financiamentos, mas acredita que organismos internacionais continuarão a financiar obras de infra-estrutura, como portos. Segundo ele, a Santos Brasil discute com o Jbic, do Japão, financiamento para apoiar parte da expansão da empresa, que também deve ser garantida pela geração própria de caixa.
Cezar Baião, presidente da Wilson, Sons, avalia que a restrição internacional de crédito poderá reduzir a participação de organismos como o International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial de apoio ao setor privado, em novos projetos de portos. “Se for desenvolver novos projetos de porto, posso ter algum problema (em termos de oferta de financiamento)”, previu Baião. Para ele, mesmo com a crise, os resultados continuarão a aparecer apoiados no movimento de cargas na exportação e importação e nas receitas da indústria de petróleo e gás, segmento em que a Wilson, Sons atua com navios.
Editoria: EU &