Santos chegou a ser considerada refúgio pelos japoneses

Por: 15/05/2008 06:05:29 - Folha de S. Paulo

SEGUNDA GUERRA Em 1943, antes do final do conflito, só puderam ficar na costa brasileira os naturalizados brasileiros


MAURÍCIO KANNO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Santos não foi só a porta de entrada dos imigrantes japoneses no país: serviu também de abrigo para os que se sentiram injustiçados. “Muitos imigrantes, quando se achavam lesados em seus contratos nos cafezais do interior paulista, acabaram fugindo”, explica Sadao Nakai, 47, presidente do Clube Estrela de Ouro Futebol Clube e diretor da Associação Japonesa de Santos. “Eles voltavam para Santos, sua referência como único outro lugar no Brasil.”
Nakai conta que, de acordo com o livro “O Imigrante Japonês”, de Tomo Handa, a comunidade japonesa na cidade portuária começou logo no primeiro ano da imigração, 1908, quando imigrantes da Província de Okinawa foram parar num hotel sírio de Santos.
Um membro da companhia de imigração do governo do Japão, que resolvia problemas assim, quitou o débito no hotel e conseguiu empregos para eles na construção do cais.
Santos era economicamente efervescente graças ao corredor do café e ao processo imigratório: todos passavam por lá. A comunidade nipônica foi se estabelecendo na agricultura, pesca e outros negócios. Há registros das chácaras de imigrantes japoneses ali antes dos bairros serem constituídos.
Os terrenos eram na verdade de grandes proprietários locais, explica o diretor da Associação Japonesa; mas como eram inexplorados, os nipônicos puderam se instalar e produzir hortifrutigranjeiros. Em 1928, no início do auge imigratório, haviam chácaras nos atuais bairros de Vila Matias (centro), Sabó, Campo Grande, Marapé e Ponta da Praia.


“Exílio” da costa
A documentação histórica, porém, é difícil de ser obtida, pois foi confiscada e destruída, junto a outros patrimônios japoneses, na Segunda Guerra Mundial (1939­1945). O então presidente Getúlio Vargas havia promulgado uma lei em 1942, quando o Brasil entrou na guerra, proibindo a difusão da cultura dos países do Eixo: Japão, Itália e Alemanha.
“Toda a faixa litorânea foi ocupada por quartéis, e os integrantes da colônia da baixada sofreram muito”, conta Nakai.
Em 1943, todos os japoneses, italianos e alemães tiveram de sair da costa. Isso fazia parte, afirma Nakai, da pressão norte­americana, com suspeitas de espiões na região. Os imigrantes tiveram de largar casas e bens: “Saíram com a mão no bolso”, diz ele, “e foram para a Hospedaria do Imigrante, no Brás, em São Paulo, e depois ao interior, sempre monitorados pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).”
Só pôde permanecer em Santos quem já era brasileiro naturalizado. Assim, ficaram ali apenas os nisseis (filhos dos japoneses) com idade entre 16 e 19 anos, inquestionavelmente brasileiros ­isso até que os pais pudessem iniciar seu retorno, a partir de 1946.
 

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