Saiba como a 1ª Guerra Mundial influenciou a produção de café em Minas

Primeiro conflito mundial, que completa 100 anos, influenciou a produção do grão em Minas. Se por um lado a venda caiu no exterior, por outro trouxe oportunidade de modernização

26/07/2014


Marcelo da Fonseca – Estado de Minas


(Mauro Homem/EM. Brasil.)  


A pequena participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial, conflito que começou há 100 anos, em 28 de julho de 1914, não impediu que impactos do conflito alcançassem Minas Gerais. Com economia predominantemente agroexportadora no início do século passado – o café era o principal produto –, o combate envolvendo vários países fez com que os brasileiros diminuíssem a venda para o mercado europeu e para os Estados Unidos. Os principais envolvidos na disputa voltaram seus gastos para armamentos e produtos considerados essenciais. O comércio internacional se desorganizou e o preço dos grãos caiu rapidamente, trazendo prejuízo aos produtores locais. No entanto, a situação de crise se transformou em oportunidade para que o setor cafeeiro, principalmente em Minas e São Paulo, buscasse a modernização na produção e melhores formas de escoamento.


O impacto da queda nos preços atingiu em cheio os cafeicultores mineiros, que vinham ampliando as plantações incentivados pelo crescente comércio do produto desde o final do século 19. Nos anos 1910, pouco antes do início da Primeira Guerra, a economia cafeeira turbinava a inauguração de trilhos entre Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. A tensão internacional mudou o cenário de prosperidade. “O Brasil tinha toneladas de café depositadas em vários portos espalhados pelo mundo. Era uma garantia de pagamento para dívidas externas. Por isso, a guerra trouxe grandes prejuízos aos produtores e deixou claro a falta de infraestrutura brasileira para a exportação”, explica o historiador Francisco Teixeira Vinhosa, autor do livro O Brasil e a Primeira Guerra.


Além da necessidade de melhorias na estrutura para e exportação, o conflito apontou também a importância de se diversificar a economia na região. “O presidente mineiro Venceslau Brás teve dificuldades para escolher um ministro da Agricultura. Teve a felicidade de indicar o deputado mineiro Pandiá Calógeras, que buscou uma política de modernização no país. A ideia era aproveitar o momento de crise para desenvolver o país”, conta Vinhosa. No entanto, os incentivos para as melhorias esbarraram principalmente no jogo de interesses da República Velha, em que a política partidária de interesses regionais prevalecia. “O Brasil não saiu da Primeira Guerra industrializado, teve prejuízos, mas se atentou para as vantagens de se modernizar em um ritmo maior. Ainda que isso levasse um longo tempo para se concretizar”, ressaltou.


Sem a entrada de capitais por meio do comércio externo, foi preciso controlar as importações para impedir o aumento da dívida externa. A pretensão de se promover no Brasil uma produção maior de artigos industrializados passou a fazer parte das propostas de governo e ganhou espaço nos órgãos do legislativo. A partir de 1915, o crescimento da produção industrial foi de cerca de 8,5% por ano, até o final do conflito. O comércio cafeeiro buscou se organizar para acompanhar o surgimento de grandes organizações financeiras. Os produtores brasileiros receberam forte influência de empresários e investidores ingleses e passam também a se organizar para fazer frente à concorrência internacional.


O LADO DO BRASIL Quase três anos após o início da guerra, o Brasil foi atacado pela primeira vez. Em abril de 1917, um dos maiores navios da frota mercante, com 4,4 mil toneladas de café, foi torpedeado por um submarino alemão, próximo ao Canal da Mancha, no litoral francês. A embarcação navegava dentro das normas internacionais e tinha uma bandeira brasileira hasteada e a palavra Brasil pintada no casco. Mesmo assim, o navio foi atacado e três tripulantes morreram. Como retaliação, o presidente Venceslau Brás recusou-se a receber explicações do embaixador alemão. Uma semana depois, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.


“O Brasil passou os primeiros anos da Guerra apenas acompanhando. Houve um forte debate interno, envolvendo correntes favoráveis e contrárias à entrada do país na disputa. No espaço militar tínhamos uma força tacanha. Frotas navais velhas e sem qualquer estrutura. Mas o interesse principal era econômico, o governo brasileiro vislumbrava alguma forma de conseguir recursos para entrar na guerra”, diz Vinhosa. Segundo o historiador, em 1914, o Brasil tinha uma grande quantidade de café estocada no porto de Hamburgo, na Alemanha, que servia como garantia para dívidas feitas pelo governo brasileiro. O não pagamento imediato do café brasileiro serviu como um dos pretextos para que o país criticasse os alemães.


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O Brasil declarou guerra às Potências Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) em 26 de outubro de 1917, depois que navios brasileiros foram atacados por embarcações alemãs. A participação no conflito foi pequena, resumindo-se ao envio de militares para se integrar ao Exército britânico. A Marinha enviou o maior número de brasileiros. Uma esquadra naval foi mandada a Dakar, no Senegal, com o objetivo de patrulhar a costa africana. “Nossa esquadra sofreu grandes perdas ao chegar à África. Os marinheiros brasileiros foram atacados pela gripe espanhola, epidemia terrível que se espalhava por vários países. Mais de 150 brasileiros morreram antes mesmo de combater na Primeira Guerra”, conta o historiador Francisco Vinhosa.


LINHA DO TEMPO


1914
– Em 28 de junho, o estudante sérvio Gavrilo Princip assassina o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austro-húngaro, em Sarajevo.
– No dia 28 de julho, a A Áustria-Hungria declara guerra contra a Sérvia. Início da 1º Guerra Mundial.
– O mineiro Venceslau Brás Pereira Gomes assume a presidência da República em 15 de novembro.


1917
– O navio “Paraná” foi torpedeado nas proximidades do Canal da Mancha por submarino alemão em 5 de abril.
– No dia 23 de outubro, outro navio brasileiro, o cargueiro “Macau”, foi atacado no litoral europeu.
– Depois de grande pressão popular, governo brasileiro declara guerra à Alemanha e seus aliados em 26 de outubro.


1918
– A Alemanha assina o armistício de Compiegne em 11 de novembro e põe fim à Primeira Guerra Mundial.
– O mandato de Venceslau Brás termina em 15 de novembro e a chefia do Executivo é assumida por Delfim Moreira, outro político mineiro.

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