Safra menor e real valorizado geram tendência de alta nos preços do café

17 de janeiro de 2019 | Sem comentários Comércio Mercado Interno

Continuidade de avanço da demanda global somada a um cenário de menor oferta e moeda fortalecida no Brasil deve permitir a recuperação das cotações da commodity ao longo de 2019

 

 Volume das exportações de café do Brasil teve crescimento, para 35,2 milhões de sacas no ano de 2018

 

Volume das exportações de café do Brasil teve crescimento, para 35,2 milhões de sacas no ano de 2018

FOTO: DREAMSTIME

A perspectiva de safra menor, real fortalecido e continuidade do crescimento da demanda global devem gerar uma alta dos preços do café em 2019. Mesmo com expectativa de produção reduzida, o Brasil deve aumentar os volume de exportações neste ano.

“Esse ano tende a ser bem diferente de 2018, que foi de grandes volumes. Fisiologicamente, a planta costuma apresentar produtividade menor na safra seguinte”, explica o analista setorial da Tendências Consultoria, Felipe Novaes.

Ele conta que a alta da oferta no ano passado e a desvalorização do real reduziram o preço da commodity, o que pode se traduzir em redução de investimentos na lavoura. “O produtor tende a ficar desestimulado neste cenário, o que limita a expansão do café, especialmente a variedade arábica.”

O analista aponta que o cenário de desvalorização da moeda em relação ao dólar não deve se repetir em 2019. “Não estão no horizonte os mesmos condicionantes que desvalorizaram o real, como a incerteza eleitoral. Isso reforça a tendência de alta de preço”, destaca.

A Tendências estima que os preços internacionais devem valorizar em 6,3% neste ano. “Ainda é cedo para afirmar, mas há indicativos de que outros playersimportantes do mercado internacional, como Vietnã e Colômbia, também devem apresentar quadros de oferta mais restrita”, conta.

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes, declarou em coletiva de imprensa nesta terça-feira (15) que ainda é difícil fazer prognósticos, mas que o ano de 2019 deve ser positivo. “A Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] indica que a safra será um pouco menor. Mas é factível chegar a 37 milhões de sacas exportadas.”

O dirigente aponta que os estoques globais estão baixos e a demanda segue crescente, o que deve fortalecer a tendência de alta dos preços. “O volume necessário para atender é muito alto e a próxima safra será um pouco menor.”

Em 2018, a participação brasileira nas exportações voltou a crescer, após dois anos consecutivos de queda, e chegou a 28,1%. “A seca no Espírito Santo, entre 2014 a 2016, afetou a produção de robusta e fez com que se exportasse menos”, diz Carvalhaes. “É possível que o Brasil volte ao recorde de market share nesse ano.”

Em 2015, a participação das exportações brasileiras no mercado global chegou a 32,3%. “Existem duas variáveis importantes para conquistar mercado: garantia de maior produtividade e qualidade do grão”, destaca Novaes. “Isso passa por um investimento tecnológico na cultura. A safra de 2018, por exemplo, não foi só volumosa devido a condições naturais favoráveis.”

Carvalhaes assinalou que o Brasil investiu muito nas últimas décadas para aumentar sua produtividade. “Custou caro chegar ao atual patamar.”

Resultado consolidado

Conforme dados do Cecafé, o Brasil exportou 35,2 milhões de sacas de café no ano passado, alta de 21,3% em relação a 2017. A receita cambial no período foi de US$ 5 bilhões, decréscimo de 3% na mesma base, e o preço médio da saca foi de US$ 144,53, 14,9% menor do que no ano retrasado. “A desvalorização do real e a volatilidade de um mercado com maior oferta gerou a redução de preço”, explica Carvalhaes.

Em relação às variedades embarcadas, o País exportou 31,5 milhões de sacas de café verde, incremento de 15% sobre 2017. Os cafés industrializados tiveram crescimento anual de 5,8%, totalizando 3,7 milhões de sacas embarcadas. Os principais destinos foram Estados Unidos e Alemanha, com 17,6% e 16% do total do café exportado pelo Brasil em 2018, respectivamente.

Carvalhaes desta o mercado asiático como uma aposta para aumentar o volume das vendas. “A China é um destaque nas exportações na região, Mesmo se tratando de um país produtor, há espaço para o Brasil nesse mercado.”

RICARDO CASARIN • SÃO PAULO

Fonte : DCI

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