A produção agrícola mundial não está sendo suficiente para acompanhar o crescimento da demanda por alimentos no mundo por diversos motivos, sendo um dos principais, a forte restrição da oferta de fertilizantes. Essa foi uma das conclusões da palestra ministrada pelo Consultor Sócio da MB Agro, Alexandre Mendonça Barros, no III Fórum Abisolo, realizado entre 13 e 15 de abril, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, interior paulista. “Há três anos, a demanda cresce, mas a oferta continua a mesma. Ano passado, o preço do fertilizante disparou e, com isso, o custo de produção subiu e a rentabilidade do agricultor desapareceu”, disse.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes no mundo, com aproximadamente 11 milhões de toneladas. O líder em consumo é a China, com cerca de 48,5 milhões de toneladas, seguido pela Índia, com 24,2 milhões de toneladas. Os dados são da IFA (Associação Internacional de Fertilizantes). “Além de ser um dos maiores dependentes desses insumos, os produtores brasileiros ainda sofrem mais com a alta dos preços em comparação com os agricultores chineses e indianos, uma vez que nesses dois países, existe um programa de subsídio para a aquisição de fertilizantes”, explicou Barros. “Há uma estimativa que o governo indiano investiu US$ 25 bilhões em subsídios e o produtor daquele país pagou entre US$ 100 e US$ 200 a tonelada de adubo”, complementou.
Para Barros, o programa de subsídios é extremamente importante, porém a formação de preços acaba sendo distorcida, já que o consumo não será alterado nos dois maiores consumidores mundiais. “Além disso, se a demanda cair um pouco, o preço do fertilizante despenca”, ressaltou.
Outro ponto colocado por Barros foi a inelasticidade e escassez de nutrientes caso a demanda por fertilizantes mantenha-se constante. “Acredito que outras ténicas de manejo e cultivo que melhorem o aproveitamento do fertilizante mineral será uma grande fonte de geração de capital, já que será fundamental em anos futuros”, finalizou.
TECNOLOGIA NA AGRICULTURA É ESSENCIAL PARA O COMBATE À FOME NO MUNDO
Segundo dados da USDA, a produção de grãos nas últimas três décadas cresceu a uma taxa média de 1,9% ao ano, enquanto a produtividade aumentou cerca de 1,6% ao ano e a área plantada teve uma alta de apenas 0,2% ano no mesmo período. “Isso mostra que foi a inovação tecnológica desenvolvida para o agronegócio que alavancou o setor economica e produtivamente”, afirmou o Consultor Sócio da MB Agro, Alexandre Mendonça Barros, durante palestra ministrada no III Fórum Abisolo, que termina hoje (15), na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba/SP.
Para Barros, o combate da fome mundial está diretamente relacionado às novas tecnologias para o aumento da produtividade, seja no aumento da eficiência da adubação mineral, seja na implementação de máquinas e implementos agrícolas para plantação, cultivo ou colheita ou seja na reciclagem de resíduos de origens diversas para utilização como matéria orgânica. “Não é possível aumentar consideralvemente a área plantada, por isso a solução reside na produtividade”, explicou.
Outro fator percebido por Barros que contribuiu para a escassez de alimentos no mundo é o aumento da renda da população mundial, que resultou em uma mudança na dieta alimentar, no qual as pessoas passaram de uma dieta vegetal para animal. “Consequentemente, houve um aumento no consumo de grãos,” disse. Os nutricionistas recomendam um consumo anual entre 450 kg e 500 kg de grãos por habitante. “Nos Estados Unidos, esse número chega a 900 kg/hab/ano e, em países africanos, em 200 kg/hab/ano”, enfatizou.
Para os próximos trinta anos, um estudo feito pela USDA e pela MB Agro, mostra que se a tendência de crescimento da produtividade for mantida, será necessário um pequeno incremento de terra – 66 milhões de hectares – em todo o mundo para que a demanda por grãos em 2040, baseada no consumo per capita de 500 kg /hab/ano, seja atendida.
RECICLAGEM DE NUTRIENTES GERA GANHOS DE PRODUTIVIDADE E LONGEVIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR
Ano passado, foram produzidas, no Brasil, cerca de 571 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e a produtividade alcançou 81,5 ton/ha. Desse total, foram gerados cerca de 319 milhões de m3 de vinhaça (48 ton/ha) e 12 milhões de toneladas de torta de filtro (5 ton/ha), o que significa um potencial de reciclagem de 40,4 kg/ha de Nitrogênio, 20,4 kg/ha de Fósforo e 138,8 kg/ha de Potássio. “Em termos econômicos, o potencial equivalente de fertilizante em uma produção de cana-de-açúcar seria da ordem de quase R$ 4 bilhões”, afirmou o Professor Adjunto da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP) / Pirassununga no III Fórum Abisolo, realizado entre 13 a 15 de abril, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba/SP.
Em estudo realizado pelo professor, a reciclagem gera, ainda, ganhos na produtividade na plantação de cana. “Com a utilização de fontes orgânicas é possível duplicar ou até triplicar a área plantada”, ressaltou. “O uso de torta de filtro viabiliza o plantio de cana em condições adversas como o plantio de inverno, tendo como consequência reflexos favoráveis na conservação do solo”, exemplifica.
Além das avaliações econômicas que evidenciam os benefícios do processo de condicionamento, compostagem e, principalmente, do enriquecimento da torta de filtro, há também um fator social importante. “Isso gera a conscientização em utilizar a adubação orgânica nas áreas cultivas com cana-de-açúcar que possuem solos de menor fertilidade”, concluiu Luz.
Serviço:
III Fórum Abisolo 13 a 15 de abril
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – Avenida Pádua Dias, 11 – Pavilhão de Engenharia – Piracicaba/SP
Mais informações:
AlexandreMendonça Barros – mbagro@mbagro.com.br
Pedro Henrique Cerqueira Luz – phcerluz@usp.br ou pedrohenriqueluz@uol.com.br