RURAL
02/03/2009
Produtores de sequeiro: mudanças
“Eu estou incentivando os meus filhos a estudar para concurso público, para terem uma alternativa na vida, porque estou vendo que não vou conseguir dar a eles aqui no campo o que os meus pais me deram“.
A declaração é do produtor Edvaldo Machado, que colhe pinhas com a mulher e os dois filhos adolescentes e comercializa a produção em conjunto com outros cinco irmãos.
Ele identifica que o avanço dos cultivos irrigados é tão forte e rápido que num futuro próximo não haverá espaço para os pequenos. “Vai restar aos agricultores familiares trabalhar para os grandes ou imigrar“, prevê. A imigração, aliás, já acontece, com muitos que se deslocam para Minas Gerais na época da colheita do café. “Vêm ônibus aqui buscar os trabalhadores e eles passam meses por lá“, conta.
Edvaldo fala com o conhecimento de técnico agrícola que é por formação e de produtor que sempre viveu da cultura da pinha. “Tenho 46 anos e são 46 anos de pinha, que meu pai já plantava“, ressalta.
COLHEITA – Na terra de Edvaldo, são colhidas 200 caixas por ano. Entretanto, os produtores de sequeiros colhem todos na mesma época, de fevereiro a abril. Por isso, neste período, o aumento da oferta faz os preços baixarem. Em média, o produtor de sequeiro vende a caixa entre R$ 15 e R$ 30. O de áreas irrigadas, que pode controlar a época da colheita, consegue entre R$ 30 e R$ 50. E paga aos trabalhadores em média R$ 20 por dia ou um valor entre R$ 2 e R$ 2,50 por hora.
Até mesmo a formação de grupos para implantação de um poço tubular não é tarefa fácil, pois o custo é de R$ 40 mil. Como o alcance do poço é limitado (seis hectares, pelos cálculos da EBDA), o grupo tem que ser pequeno e as terras vizinhas.
Se o poço for dividido por quatro, por exemplo (com 1,5 hectare para cada um), continuará caro para os pequenos.
Por conta disso, além do concurso público para os filhos, a receita de sobrevivência de Edvaldo inclui outra alternativa no campo: a seriguela, cultura que vem crescendo entre os agricultores familiares de Presidente Dutra. (GW)