AGRÍCOLA
17/10/2007
Piraju quer ser referência em café
Grupo investe no plantio de 3,7 milhões de cafeeiros, que produzirão grãos especiais para exportação
Venilson Ferreira
A união entre quatro médicos paulistas e um agricultor de Piraju (SP) promete mudar o perfil da cafeicultura da região e torná-la referência em café de qualidade. O projeto começou há cinco anos, quando os médicos Rafael Colella, Fábio Nastari, Sérgio Domingues e Fernando Ghilardi se uniram ao cafeicultor Osvaldo Vieira para fundar a Unimesp Agropecuária.
O investimento para o plantio de 3,7 milhões de cafeeiros, dos quais 2,5 milhões já estão plantados, é de R$ 30 milhões. O restante será cultivado em dois anos, totalizando 1,4 milhão de hectares. Neste ano, a empresa colheu a primeira safra: 12 mil sacas de arábica, em 480 hectares espalhados em três fazendas, em Piraju, Sarutaiá e Timburi. Na próxima safra a colheita prevista é de 15 mil sacas e, ao fim do processo, deve atingir 50 mil sacas, com faturamento anual de R$ 10 milhões, considerando o preço médio de R$ 200/saca. Desde o início, os produtores visam à produção de café especial para exportação. Para isso contaram com a consultoria holandesa Utz Certified e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
NEGÓCIOS DIRETOS
Nesta primeira safra, apenas 10% serão exportados, para os Estados Unidos. A intenção é fechar negócios diretamente com importadores e exportar 20 mil sacas em 2009, principalmente para os mercados asiáticos, como o Japão.
Segundo o sócio Rafael Colella, o processo de produção do café especial segue os parâmetros exigidos no exterior em relação ao manejo, que resulta na qualidade do grão, e ao respeito às questões sociais, trabalhistas e ambientais.
Na colheita deste ano, 60% da produção foi de cereja e despolpado. O controle de insetos é feito por meio do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que possibilitou redução de 60% no uso de agrotóxicos em relação à média da região. A contagem de pragas, feita por amostragem antes da aplicação do defensivo, revelou maior economia no controle do bicho-mineiro, que teve redução de 75% no uso do agrotóxico.
Os trabalhadores, todos registrados em carteira, foram treinados para se adaptar ao sistema de produção, alguns até com alfabetização.
Colella reconhece que é difícil, no curto e médio prazos, tornar a região de Piraju um centro de excelência em cafés especiais. Ele acredita que, no longo prazo, com a divulgação das novas técnicas, será possível homogeneizar o manejo das lavouras e chegar a um café com padrão especial, para então pensar em um certificado de origem Piraju.
CERTIFICAÇÃO
Segundo o cafeicultor Oswaldo Vieira, do total de 20 grandes produtores existentes na região de Piraju, apenas um, além da Unimesp, tem certificação de qualidade. No total, na região, há cerca de mil cafeicultores, que cultivam 20 mil hectares e colhem 300 mil sacas de café beneficiadas.
Vieira afirma que a intenção é não só criar um selo de qualidade como uma nova marca e um processo de torrefação que seja referência da região. O grupo pretende nos próximos cinco anos ampliar o investimento, com aquisição de outras propriedades. A projeção depende tanto da lucratividade do mercado de café quanto da valorização das terras da região, que, embora ainda tenham a cafeicultura como principal atividade, nos últimos anos têm recebido investimentos na área do turismo rural e ecoturismo.