No sábado, 28/7, comemora-se o Dia do Agricultor. A data merece ser festejada por todos os brasileiros, afinal é do campo que vem o alimento que supre as cidades e incrementa as exportações. Só para se ter uma idéia, o embarque de produtos agropecuários representou mais de 90% do saldo comercial do País em 2006. Isso significa dizer que a atividade agrícola carrega praticamente sozinha o superávit da balança comercial brasileira e é um dos grandes responsáveis pela geração de milhares de empregos, cada vez mais especializados e menos braçais.
Porém, apesar dos bons resultados, a situação ainda está pouco favorável ao agricultor. Fatores imprevisíveis como gripe aviária, febre aftosa, problemas climáticos, câmbio desfavorável e alta dos preços dos insumos se traduzem em prejuízos acumulados nas últimas duas safras e provocaram perdas de R$ 30 bilhões nos últimos anos. As conseqüências das oscilações do dólar no campo são mais sentidas porque a diferença entre o momento de plantio e de venda tem reduzido cada vez mais a renda dos agricultores.
A realidade social do campo no Brasil mudou radicalmente nos últimos anos. As mudanças se acentuaram a partir do início da década de 90, quando o país tomou consciência de que não poderia se inserir nos mercados mundiais sem um enorme salto tecnológico. A resposta do interior foi rápida e surpreendente, mas abriu feridas.
O agricultor sabiamente virou aliado das grandes corporações da agroindústria, que por sua vez impuseram o ritmo das mudanças tecnológicas sem se preocupar com as conseqüências sociais. Imagine a situação de um dono de um aviário, onde o trabalho era realizado manualmente. A empresa parceira exigiu que ele trabalhasse com pelo menos dois aviários e que a alimentação do frango fosse mecanizada. Sobreviveram os que conseguiram o mínimo de capital para incorporar as novas tecnologias. Os demais ficaram alijados do processo.
Outro exemplo vem da produção do café. Apesar das exportações terem batido recorde nos últimos anos e o consumo no Brasil ter crescido 5,8% ao ano – 4 vezes mais do que no restante do mundo, segundo a ABIC (Associação Brasileiro da Indústria do Café) -, os produtores não tiveram aumento da renda. Pelo contrário, até houve perda em função dos problemas cambiais e dos altos custos. Ou seja, a receita em real não cobriu os gastos da produção. A lógica seria que o aumento da demanda brasileira e mundial por café repercutisse em maior renda para o produtor, mas não foi isso que aconteceu. Muito ao contrário, para aumentar a produção, investiram em tecnologia, mas não tiveram uma contrapartida do governo e ainda sofrem com carga tributária altíssima. Ora, um setor que responde por 8,5 milhões de empregos mereceria outro tratamento.
A inflação galopante da década de 90 também deixou seqüelas. Muitos produtores rurais contraíram dívidas para se modernizar. Na época, perdeu-se a noção do valor do dinheiro e do custo de produção. Como conseqüência, o agricultor comprava uma colheitadeira no início da safra e, no final, pagava o equivalente a três máquinas. Os programas de refinanciamento dos empréstimos, única alternativa para o agricultor não perder sua terra, só protelaram a solução do problema.
Mas as dificuldades impostas ao produtor não param por aí. Faltam investimentos de peso em infra-estrutura logística, melhorias nas rodovias para escoar a produção e construção de mais portos e armazéns.
Em recente pronunciamento, o ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, disse que o Brasil pode se transformar no maior exportador mundial de grãos, saindo do atual segundo lugar. Temos capacidade, sem dúvida, mas precisamos que a agricultura, de fato, entre nas prioridades do governo. Antes desse salto, porém, precisamos arrumar a casa. Os agricultores merecem mais respeito. Isso passa, sobretudo, pela implementação de instrumentos de sustentabilidade da agricultura, como crédito, garantia de preço mínimo e seguro agrícola. Para amenizar um pouco a situação, as cooperativas têm cumprido papel decisivo para ajudar o produtor a incorporar tecnologia. Com o suporte da cooperativa, ele não está sozinho e a união reduz os custos na compra dos insumos, por exemplo.
Sem esse cenário, os agricultores não têm muitos motivos para comemorar seu dia. Que a data sirva para ressaltar a importância estratégica do setor para a economia do País. Mais do que isso, alertar para os problemas enfrentados há décadas merecem mais atenção.
* Vice-presidente da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo) – Presidente da COCAPEC (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas)