Santos, 06 de fevereiro de 2014
Diário dos Campos – Vitor Bertini *
“Porque fixação de marca, imagem, ou lovemarks são
determinadas pelo cliente, não por nós”.
Essa frase, dita por Yoshio Ishizaka, Vice-Presiden
te da Toyota abre o badalado livro Lovemarks, do
não menos badalado Presidente Mundial da agência Sa
atchi & Saatchi, Kevin Roberts.
Há 150 anos o Brasil é o maior produtor mundial de
café. Portanto, sistematicamente, nossos
clientes têm nos oferecido a oportunidade de fixar
marca, imagem ou nos transformar em Lovemark,
não no setor automobilístico, mas no mundo do café.
A questão é: aproveitamos essa realidade para
alavancar negócios ou agregar valores à nossa cadei
a produtiva?
Colhemos 50 milhões de sacas de café por ano, mais
do que produzem o segundo, terceiro e
quarto países produtores somados. Consumimos 20 mil
hões de sacas ao ano, ou, em uma medida mais
próxima de nosso dia-a-dia, 83 litros por brasileir
o/ano – fato que nos coloca como o segundo maior
mercado consumidor, atrás somente dos USA, em quant
idade bruta.
Temos entidades representativas do setor cafeeiro,
entre elas a ABIC (Associação Brasileira da
Indústria do Café), que vem fazendo um esforço herc
úleo para desenvolver e qualificar nossa cadeia
produtiva e, graças a todos, definitivamente incorp
oramos o hábito e a cultura de tomar café, ainda e
cada vez, um pouco melhor.
Como resultado dessa história, somos, aos olhos do
mundo, um país ligado ao café. “Que bom
poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando
planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo er
a
poder visitar todos os bairros deste País. Queria b
ater em cada porta, dizer ‘bom dia’, pedir um copo
de
água fresca, beber um cafezinho, falar como a amigo
s de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, do
s
filhos, dos avós…”.
Essas palavras foram ditas em julho do ano passado,
na comunidade de Manguinhos, RJ, pelo
Papa Francisco. Quando sua Santidade mencionou o ca
fezinho, a população o ovacionou e, num gesto
de surpreso auto-reconhecimento, riu e aplaudiu. Es
sa percepção, no entanto, parece ser maior por part
e
de quem nos olha de fora do que entendida por nós m
esmos.
Qual a nossa auto-imagem com relação ao café? Nos s
entimos “líderes mundiais” no café?
Apesar de toda a influência social, econômica, polí
tica e cultural que o café desempenhou em nossa
história, às vezes, parece que a resposta a essa pe
rgunta é não. Talvez o fato ensinado nas escolas qu
e o
“Ciclo do Café” foi de 1800 a 1930 enseje a percepç
ão de passado, de fatos que pertencem a um tempo
antigo e ali terminam. Nada mais errado.
O melhor conceito que me ocorre diante do pequeno r
elato do discurso do Papa é o da
“legitimidade”. Quando o assunto é café, o Brasil t
em legitimidade para ser protagonista. E em todas a
s
dimensões possíveis desse setor enorme, belo e chei
o de oportunidades. Nossos clientes, salientados
pelo executivo japonês, já nos colocam dentro desse
jogo.
A mais universal das bebidas oferece uma lista enor
me de oportunidades para quem tem a
legitimidade de, por 150 anos, ser o maior produtor
mundial. A perspectiva de eventos de porte
internacional sediados no Brasil apresenta, mais um
a vez, a possibilidade de agregarmos valor ao nosso
café e fazermos, de uma percepção externa sobre nós
, uma afirmação nacional.
Uma afirmação brasileira, moderna, que generosament
e junte nossos espaços rurais com nossas
dinâmicas áreas urbanas e seja capaz de oferecer ao
mundo um conjunto de produtos diferenciados.
Diferenciados, especiais, originais e ao mesmo temp
o cosmopolitas, dignos de nossos melhores valores,
assim pode e deve ser o Café do Brasil.
* O autor é especialista em tomar café e diretor do
Lombas, e-commerce especialmente
desenvolvido para os amantes da bebida.