Mudança no clima faz aumentar pragas e doenças nas lavouras

Pesquisadores do mundo todo estudam o fenômeno, que pode afetar seriamente a agricultura no futuro

21 de novembro de 2005 | Sem comentários Mercado Previsão do Tempo
Por: Estadão por Tomas Okuda









As mudanças climáticas no planeta têm chamado a atenção de pesquisadores e são motivos de preocupação para os agricultores. Uma série de evidências sugere que o clima passa por um processo de elevação das temperaturas, provocando o aquecimento global. O agricultor tem de ficar atento porque pragas e doenças hoje controladas, e até males que atualmente não têm importância econômica, podem ser a dor de cabeça do futuro.

O professor Humberto Ribeiro da Rocha, do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG), da Universidade de São Paulo (USP), diz que a temperatura média global subiu 0,7 graus nos últimos cem anos. Pelo menos é o que mostra o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão que reúne pesquisadores de todo o mundo, preocupados com o assunto. Mais: constatou-se que os 2 últimos anos mais quentes dos últimos 100 anos ocorreram recentemente, em 1998 e 2002.

O professor explica que eventos climáticos extremos, como estiagem prolongada e furacões, tendem a ocorrer com maior freqüência. Não há, porém, comprovação de que esses fenômenos sejam provocados pelo aquecimento global. Mas a hipótese não pode ser descartada. “O aquecimento age pelo menos como elemento adicional”.

Ecossistemas podem estar ameaçados no longo prazo. As tundras, tipo de vegetação que ocorre em altas latitudes, tendem a desaparecer. “As florestas coníferas devem avançar para o norte”, diz o professor. Pragas e doenças das lavouras também podem proliferar com o aquecimento global. Pior: com a alteração climática, nada garante que os males sem importância econômica hoje não sejam o motivo de preocupação para os produtores no futuro.

Dois estudos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Meio Ambiente), em Jaguariúna, na região de Campinas (SP), indicam o que pode ocorrer mais adiante. A agrônoma e fitopatologista, Raquel Ghini, da Embrapa, ressalta que as pesquisas não têm por objetivo difundir notícias catastróficas, mas sim direcionar as linhas de estudo dos pesquisadores e alertar os produtores. “Com esses estudos, a pesquisa pode desenvolver outros métodos de controle e até novas variedades resistentes, cujo trabalho leva anos”, observa.

Um dos projetos mostra a tendência de pragas e doenças nos anos de 2020, 2050 e 2080. As mudanças climáticas foram simuladas em lavouras de café do Brasil, atacadas pela praga do bicho-mineiro e pelo nematóide. “Foi constatada uma maior incidência de bicho-mineiro e também de doenças provocadas pelo nematóide, por causa, principalmente, da elevação das temperaturas”, comenta Raquel. Os cenários previstos tomam por referência dados do IPCC, o qual disponibiliza resultados de modelos climatológicos de diversos países. Foram analisados 5 modelos, que geraram perto de 2 mil mapas climatológicos. “Fizemos um recorte sobre as previsões para o Brasil e comparamos com o cenário atual, que é uma média dos últimos 30 anos, fornecida pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe)”, informa a agrônoma. As informações sobre as doenças e pragas, obtidas na literatura, foram aplicadas nos modelos climatológicos, num cenário atual e futuro.

O segundo projeto da Embrapa tem por finalidade estudar outro aspecto da mudança climática, que é o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera. Nesta caso, foram avaliados os efeitos sobre lavouras de soja. Foram construídas estufas de topo aberto para injeção de gás carbônico, para avaliar alterações atmosféricas e seus efeitos na ocorrência de doenças.

A soja foi cultivada em cada três estufas, com diferentes concentrações de gás carbônico. Um patógeno, chamado oídio, foi inoculado na soja das estufas. O oídio é um fungo que se parece com um pó branco nas folhas atacadas, e pode provocar a morte das plantas. Nas estufas com o dobro da concentração de CO2 houve redução da área foliar atacada. Mas, nas áreas doentes, “notou-se uma multiplicação muito rápida dos esporos, que é a forma de disseminação do oídio, como se fosse uma epidemia da doença”, diz Raquel.

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