17/01/2012
O ano de 2012 começa sob os efeitos do fenômeno La Niña (águas frias sobre o Oceano Pacífico Equatorial) de intensidade moderada e que deve se estender pelo menos até o outono. De um modo geral, pode-se afirmar que o primeiro semestre de 2012 deve apresentar um padrão climático muito semelhante ao observado no mesmo período em 2011. Há previsão de que o La Niña deva perder intensidade entre abril e maio, ou seja, um período de transição durante o outono e indicativo de “neutralidade” climática (sem La Niña nem El Niño) para o inverno. O cenário para o segundo semestre de 2012 ainda permanece indefinido.
Confira abaixo um resumo das principais consequências do clima nos diferentes sistemas de produção.
CAFÉ E LARANJA
As safras de café e laranja de 2012 no Brasil, de um modo geral, foram beneficiadas com as chuvas de outubro, que deram sustentação às floradas, As chuvas de novembro e dezembro mantiveram as condições favoráveis para o desenvolvimento das plantas, com elevado índice de desenvolvimento foliar e condições apropriadas para o crescimento dos chumbinhos (frutos).
SOJA
A safra a ser colhida em 2012 será toda definida pelas condições do La Niña em curso. O principal risco dessa lavoura está concentrado nas lavouras do sul do Brasil, em função da redução das chuvas e das estiagens regionalizadas durante este verão, a exemplo do observado em dezembro. Para o Sudeste e o Centro-Oeste, depois de alguns problemas de irregularidade e distribuição das chuvas entre novembro e dezembro, o clima deve apresentar um comporta-mento médio, sem indicativo de riscos iminentes, inclusive para o período de colheita.
MILHO
O risco climático para a safrinha de milho é maior para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. A presença do La Nina reduz as chuvas entre março e abril, o que pode afetar o plantio e a emergência. Além disso, o enfraquecimento do La Niña a partir de abril/maio favorece a intensificação do frio e eleva o risco de geadas a partir de junho. Por isso, o período de plantio ganha maior importância, pois, quanto mais tarde, maior o risco de geadas na fase final da lavoura.
Já para as lavouras de milho (safrinha) do Sudeste e do Centro-Oeste, a presença do La Nina contribui para o prolongamento das chuvas pelo menos até abril, o que representa uma condição semelhante à observada em 2011. Para o Nordeste, a presença do La Niha também favorece a safra de milho, com indicativo de período chuvoso para o Sertão e o Agreste entre fevereiro e abril.
CANA
O retorno das chuvas em outubro sobre as principais regiões produtoras de São Paulo contribui para uma recuperação das condições de desenvolvimento e plantio da cana. Entre novembro e dezembro, as chuvas foram um pouco irregulares, mas com bons níveis de radiação solar, o que também favorece o desenvolvimento das plantas. A previsão para os meses de verão é de um padrão de chuvas em torno da média nas áreas produtoras de cana do Sudeste e Centro-Oeste, garantindo assim a recuperação do deficit hídrico e as condições básicas de produção. Além disso, pelas características climáticas deste verão, a tendência é que as chuvas, na maioria das vezes, ocorram de forma isolada e no período da tarde, intercaladas com períodos de sol. Outro fator que deve contribuir para o sistema de produção é que as chuvas devem se prolongar pelo menos até abril e haverá alguns episódios de chuvas isoladas (frentes frias) em maio, o que, de um modo geral, representa um cenário muito semelhante ao observado em 2011. Por outro lado, vale ressaltar que, caso se confirme um período de transição/neutralidade climática para o inverno de 2012, isso, em tese, aumenta o risco de geadas nas áreas produtoras do sul de São Paulo, Paraná e de Mato Grosso do Sul.
ARROZ
O período de plantio (outubro e novembro) mais frio e com pouca chuva acabou afetando na instalação das lavouras, o que, em parte, pode ter comprometido o potencial de produção de algumas lavouras. Para o Rio Grande do Sul, o principal risco deste ano está associado à redução de chuvas e a estiagens durante o verão, o que pode penalizar as regiões que têm dificuldade de captação de água. Nas regiões oeste e da Campanha Gaúcha, o acumulado de chuva em 2011 até dezembro apresentava um deficit que variava entre 350 e 500 mililitros. Por outro lado, é sabido que em anos de La Niña, por serem mais secos, há uma melhor condição de radiação e insolação, o que favorece o desenvolvimento das lavouras e, mediante disponibilidade de água, pode potencializar a produção.
FEIJÃO
O risco para as lavouras dos estados do Sul aumenta em função da redução das chuvas, a exemplo do que já foi observado entre o final de novembro e o início de dezembro. Para as lavouras de feijão de Minas Gerais e Goiás, cujo plantio neste ano foi beneficiado com as chuvas de outubro, a ameaça maior está associada com alguns períodos chuvosos entre janeiro e fevereiro, que podem comprometer a colheita, mas não representam riscos de quebra significativa de produção. Para a produção de feijão no Nordeste, devem se repetir as condições observadas na safra passada. Já para as lavouras do nordeste da Bahia e de Sergipe, a projeção climática se mostra dentro de um padrão médio entre maio e agosto.
Argentina e Paraguai
As chuvas da primavera deram boas condições de plantio “para as lavouras de milho e soja da Argentina e do Paraguai. Porém, a redução das chuvas em dezembro começou a preocupar os produtores do Paraguai. Dependendo da época do plantio e da variedade plantada, a estiagem de dezembro pode representar risco de redução de produção. A boa notícia é que, mesmo não garantindo chuvas regulares, em função do La Niña, já para o final de dezembro e decorrer do verão havia previsão do retorno das chuvas.
`Para a Argentina, em função das boas condições de umidade do solo, a redução das chuvas em dezembro não chega a comprometer o desenvolvimento das lavouras do primeiro plantio. O Pampa Úmido, em dezembro, ainda oferecia condições para o plantio de segunda lavoura de soja em cima da palhada do trigo. Porém, na Província de Buenos Aires, a falta de umidade em dezembro já retardava o plantio da soja. Para o decorrer do verão, em função do La Niña, as áreas produtoras da Argentina podem sofrer redução das chuvas, o que aumenta o risco de estiagens regionalizadas. As condições de solo e a capacidade de armazenamento são fatores diferenciados nas lavouras da Argentina e diminuem os efeitos de eventuais estiagens.