Cesário Alvim, o bisavô mineiro

Compositor Chico Buarque é bisneto do homem que comandou o estado por duas vezes logo após a Proclamação da República


Ângela Faria














Governo de Minas Gerais
Veio de José Cesário de Faria Alvim o termo Alterosas, que se tornou sinônimo de Minas Gerais

Pode até não estar escrito na certidão de nascimento, mas o nome dele deveria ser Francisco Alvim Buarque de Hollanda. Não é só coincidência: as ruas Cesário Alvim de Araguari, Barbacena, Belo Horizonte, Campo Belo, Caxambu, Santa Rita do Sapucaí, Januária, Juiz de Fora, Uberlândia e mais uma penca de cidades brasileiras foram assim batizadas em homenagem ao bisavô mineiro cantado por Chico Buarque na canção Paratodos. Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e Maria Amélia Cesário Alvim, o compositor carioca tem pedigree nas Alterosas. Está lá, no estudo Famílias governamentais de Minas Gerais, de Cid Rebello Horta: os Cesário Alvim estão ligados ao tronco Martins da Costa, pioneiros no desbravamento das Gerais.

José Cesário de Faria Alvim, o bisavô mineiro de Chico, nasceu no arraial de Pinheiro, em Mariana, em 1839. Morreu aos 64 anos, no Rio de Janeiro. Era pai de Francisco, nome que Maria Amélia e Sérgio deram ao garoto de olhos verdes que, no fim dos anos 1950, foi “exilado” pelo casal no internato em Cataguases, Zona da Mata de Minas, para se livrar da influência dos Ultramontanos, um grupo radical católico. DNA é DNA. Reza a lenda que o ex-carola viu pela primeira vez a banda de música passar – de verdade – em Cataguases. Francisco não entrou para a TFP, virou artista e conquistou o Brasil com a marchinha A banda, aos 20 e poucos anos.

O bisavô de Chico governou Minas Gerais duas vezes (naquela época, dizia-se presidente, não governador como hoje). Era fazendeiro em Ubá, Zona da Mata, produtor de café, advogado, economista e jornalista. Filho de coronel, de quem herdou o nome. Deputado e senador, era um dos líderes do Partido Liberal. Em 1884, durante o Império, governou o Rio de Janeiro e, nessa época, já alertava para os prejuízos que a escravidão causava ao país. Rejeitado seis vezes por líderes conservadores para ocupar uma vaga no Senado, desencantou-se com os monarquistas. Declarou-se republicano em 11 de julho de 1889.

RAPOSA Em novembro, Deodoro da Fonseca proclamaria a República – pegou meio país de surpresa e nomeou Cesário como presidente de Minas Gerais. A contragosto dos republicanos “históricos” – Antônio Olinto à frente –, que o tachariam o liberal de “adesista” a vida inteira. A posse de Cesário foi uma aula de “raposice”. Em 15 de novembro de 1889, o bisavô de Chico estava em sua Fazenda Liberdade, em Ubá. Naqueles tempos sem estrada, telefone ou internet, as notícias custavam. Na verdade, Antônio Olinto chegou na frente a Ouro Preto – assumiu o comando de Minas, na falta do homem de Deodoro. Os “históricos” acreditavam que o poder cabia a eles, não a um político ligado ao Império, como Cesário.

De Ubá a Ouro Preto, Cesário optou pelo caminho mais longo. Espertíssimo, foi ao Rio de Janeiro, conversou com Deodoro e desembarcou na velha capital mineira em 24 de novembro. Empossado 10 dias depois da Proclamação, pregava o entendimento, a chamada “conciliação alvinista”. Como se vê, termo bem familiar à política das Gerais. Sob bombardeio dos “históricos”, que o acusavam de “republicano de véspera”, consolidou seu espaço no Partido Republicano.

Em resumo: naquela época, o cenário político se dividia entre alvinistas e os não-alvinistas. A historiadora Maria Efigênia Lage de Resende, autora do clássico estudo Formação da estrutura de dominação em Minas Gerais: o novo PRM, explica que o fato de Cesário ser adesista não significa que ele não tenha desempenhado papel importante naquele fim de século 19. Ela chama a atenção para o fato de o bisavô de Chico representar estabilidade num momento conturbado.

“Cesário Alvim não poderia ser colocado como oportunista”, ressalta Maria Efigênia, lembrando que a adesão dele ao republicanismo se deu menos por oportunismo e mais por necessidade de buscar novos caminhos diante do acelerado desgaste da monarquia. “Era um político de calibre”, afirma ela, lembrando o fato de o fazendeiro defender o fim da escravidão em pleno Império. Detalhe: Cesário tinha a seu lado republicanos de boa cepa, como João Pinheiro – ícone da política mineira.


Comentários


Francisco Sales Filho
Email:  chicosales16 @ bol.com.br
Faltou a melhor homenagem qual seja a denominação da cidade de ALVINOPOLIS .em sua terra hoje Distrito de Pinheiros Atos no Município de Piranga, foi criado um MEMORIAL (museu)


Vera 
A cidade mineira Alvinópolis,recebeu esse nome em homenagem ą Cesįrio Alvim.Alvim-polis.

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