SAFRAS (31) – Os produtores brasileiros que têm seus cafés certificados
pela Utz Kapeh deverão ter uma receita adicional de US$ 2 milhões com suas
vendas por conta da certificação em 2006. Esse valor é garantido pelos prêmios
que são pagos pelos compradores dos cafés que são certificados pela Utz Kapeh,
de US$ 7 por saca de 60 quilos. A estimativa é do consultor da Utz Kapeh,
representante no Brasil da certificadora, Eduardo Sampaio. Ele concedeu
entrevista à Agência SAFRAS durante a Fenicafé 2006, que se realiza em Araguari,
Minas Gerais, de 29 a 31 de março.
A Utz Kapeh concede o certificado às fazendas que produzem com uma série de
cuidados, dentro das leis, seguindo conceitos de sustentabilidade, aspectos
sociais – como o trato com os trabalhadores, rastreabilidade, entre outros
atributos que os produtores devem ter. Para dar o certificado, os consultores da
Utz Kapeh avaliam todos os critérios utilizados pelo cafeicultor na sua
produção, da lavoura à comercialização.
Hoje, 2,4 milhões de sacas no mundo têm o certificado Utz Kapeh. Esse é o
volume que as fazendas certificadas pela Utz produzem. Do total, 500.000 sacas
foram comercializadas com o certificado, recebendo o prêmio pela venda. No
Brasil, 800.000 sacas são certificadas, sendo que 200 mil sacas foram negociadas
com a certificação em 2005, o que representou um ganho adicional de US$ 1,4
milhão aos produtores brasileiros. Ter o certificado não significa que o
produtor consiga negociar toda sua safra obtendo o prêmio, já que parte da safra
pode ir para o mercado interno ou para outros compradores que não pagam o prêmio
de US$ 7 por saca. Eduardo Sampaio indica que o país deve negociar 290 mil sacas
em 2006 com o certificado, com as certificações passando a envolver no país um
universo de 800.000 sacas. No mundo, o volume de café “Utz Kapeh” deve passar
de 3 milhões de sacas.
O produtor não paga nada à Utz Kapeh pela certificação, exceto as visitas
dos consultores. A Utz recebe dos traders um valor pela comercialização dos
cafés certificados e faz o elo entre o produtor certificado e o comprador, já
que possui compradores credenciados que adquirem os cafés de produtores
detentores da certificação. “Ter a certificação é estar em posição correta de
negociação com o consumidor, que tem as suas exigências”, afirma Sampaio.
Em palestra na Fenicafé, Sampaio deixou claro que a certificação na verdade
não é difícil de ser obtida. “Noventa porcento do custo depende do produtor
entrar na lei”, disse. Ou seja, o produtor estar correto com suas obrigações
sociais junto ao seus trabalhadores, seus tratos culturais estarem também de
acordo, sendo que a irrigação é um ponto importante, diante da responsabilidade
com o uso da água do meio ambiente. E o Brasil vai indo bem em relação à
sustentabilidade na produção, tendo cuidados com o meio ambiente (Sampaio
lembrou as leis de outorga de água), cada vez mais produtores cuidando dos
aspectos sociais e buscando a rastreabilidade. O certificado “Café do
Cerrado”, administrado pelo Caccer (Conselho das Associações de Cafeicultores
do Cerrado) é uma mostra da preocupação dos cafeicultores com a sustentabilidade
e rastreabilidade. Inclusive, muitos produtores do cerrado mineiro estão
tentando e obtendo o certificado Utz Kapeh.
Eduardo Sampaio afirmou em sua palestra que o papel da certificação está
sendo fundamental diante das mudanças que o mundo vem observando, especialmente
com as exigências dos consumidores, que buscam qualidade com bons preços e
padrões mínimos de responsabilidade de quem produz. Atualmente, há um
agigantamento do setor supermercadista (Wal Mart e outras grandes redes do
Brasil como exemplo) e concentração do comércio nas mãos de poucas firmas. Os
produtores estão diante de um mercado que apresenta forte relacionamento entre
torrefações e o setor supermercadista, assim como o fortalecimento dos grandes
traders. O comércio do café está a cada dia mais concentrado. Sampaio lembrou
que 63% do café (57 milhões de sacas) é absorvido pelas quatro maiores
torrefações do mundo e os três maiores traders abocanham 44% do mercado (40
milhões de sacas). Estes gigantes que estão agarrando o mercado vão comandando
as ações, entre elas exigindo uma produção mais responsável, certificação,
qualidade e preços baixos.
O consultor da Utz Kapeh observou que os governos hoje requerem segurança
alimentar, práticas responsáveis, rastreabilidade e recall de produtos com
problemas. Lembra as dificuldades que o mundo vem observando com a gripe
aviária, a vaca louca e os cuidados sanitários que países vêm tendo com cada
doença que surge em relação aos alimentos.
Os torrefadores estão demandando garantia de segurança e boas práticas
agrícolas dos produtores, bem como transparência e rastreabilidade até a origem.
Por tudo isso, cada vez mais há a necessidade de se certificar, e vai ser
observado um constante crescimento dos volumes. “Produtos responsáveis serão
comuns no futuro. Garantir responsabilidade exige rastreabilidade”, apontou
Sampaio.