AGRONEGÓCIOS
11/06/2008
Estoque oficial de café está quase zerado
Mônica Scaramuzzo
Depois de décadas, chegaram praticamente ao fim os estoques oficiais de café do governo. Hoje residuais, em torno de 500 mil sacas de 60 quilos, esses grãos são de safras antigas, adquiridos sobretudo na década de 1980, irrelevantes para o mercado. Maior produtor e exportador do produto desde a segunda metade do século XIX, pela primeira vez o Brasil fica vulnerável no que se refere à estocagem.
“Daqui pra frente, o Brasil não será grande formador de estoques”, diz o especialista no setor Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, em Santos (SP). Nas mãos do setor privado, são cerca de 10,3 milhões de sacas, também os mais baixos volumes da história recente do café. Os estoques oficiais do governo, que já chegaram a quase 20 milhões de sacas em 1990, ano de extinção do IBC (Instituto Brasileiro do Café), começaram a minguar após os leilões realizados pelo governo. O café também deixou de ser moeda “atraente”, desestimulando a estocagem.
Principal item da pauta de exportação até há pouco mais da metade do século XX, o café vive seu grande dilema. Formado sobretudo por tradicionais produtores, mais resistentes a mudanças, a cafeicultura começa aos poucos a abrir espaço para outras culturas. Em Minas Gerais, maior produtor do país, cede área para frutas. Em São Paulo, para cana e laranja.
“Não acredito que o café vá perder espaço na produção nacional. Mas também não registrará elevações mais expressivas de área”, diz Carvalhaes. Hoje, a cultura ocupa 2,29 milhões de hectares no país.
Esse cenário de estoques – oficiais e privados – mais apertados, combinado com uma demanda global equilibrada em relação à produção mundial, não tem resultado em fator altista para a cafeicultura. Embora os preços futuros do café arábica apresentem valorização de 39,2% na bolsa de Nova York nos últimos 24 meses, e o robusta tenha subido 89% na bolsa de Londres no período, as cotações atuais estão dentro da média histórica, afirma Rodrigo Costa, da Newedge, corretora de Nova York.
Na bolsa de Nova York, os contratos para setembro fecharam ontem a US$ 1,3745 a libra-peso, com alta de 400 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos para setembro foram a US$ 2.195 a tonelada, com aumento de US$ 37. No mercado interno, a cotação média do café robusta em maio encerrou o dia a R$ 211,49, com elevação de 11,6% maior sobre o mesmo período do ano passado. O tipo arábica encerrou maio a R$ 254,84, com alta de 9,75% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento mensal do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Apesar dos expressivos saltos nas bolsas e no mercado interno, a desvalorização do dólar, ajudou a minar os ganhos dos produtores brasileiros.
“O mercado trabalha com expectativa de boa safra de café do Brasil. E, por enquanto, não há sinais de que o clima possa prejudicar os cafezais”, diz Costa. A expectativa é que os preços do grão voltem a se recuperar a partir de outubro, com o início da entressafra brasileira, e quando o mercado começa a ter melhor noção da oferta e demanda global para 2009.
Nos últimos meses, o café, assim como boa parte das commodities, sofreu influência direta dos fundos de investimentos e especuladores. Teve alta expressiva entre o fim de 2007 e início deste ano, e tombou praticamente na mesma proporção nesses últimos meses, sem o forte impacto de fundamentos para justificar tanto a subida como a retração dos preços.
Mas, se dependesse apenas dos fundamentos de mercado, o café teria bons motivos para animar os produtores. O consumo global é crescente. E o Brasil, maior produtor e exportador, também deverá se tornar em 2010 o maior consumidor mundial, ultrapassando os americanos.