Editoria: DM Revista
Enquanto gigantes redes de lojas de variados segmentos buscam cada vez mais conquistar espaço, algumas pequenas empresas optam por ir na contramão e se mantêm fiéis ao público cativo, tanto em tamanho quanto em permanecer no mesmo local. Persistência, qualidade e paixão pelo negócio são os segredos dessa longevidade. O prédio fica na esquina entre a Rua 7 e a Avenida Anhangüera, no coração de Goiânia. É uma construção simples, com dois andares. Os traços são retos, diretos, simples, pouco adornados, estilo que caracterizou os primeiros prédios que foram construídos na Capital.
Hoje, o café Central repousa absorto entre tantos “vrum vrums” e “bip bips” dos carros e ônibus articulados que cruzam o eixo Anhangüera. Sustenta-se entre lojas que tocam música gospel em altos volumes, joalherias, lojas de sapatos e artigos de vestuário, e entre tantos outros prédios históricos, ofuscados pelos outdoors. Da esquina, é possível ver a estátua do Anhangüera, antes dona de uma pomposa praça e agora relegada a um quadrilátero de concreto entre as pistas da avenida.
O café Central poderia ser um entre tantos outros, mas não se engane com a aparência modesta que muitas vezes passa despercebida aos jovens que não conhecem essa parte da história da Capital. O café Central não é um café comum. Ele já foi a cara do Centro. Ele já foi a sala de visitas de Goiânia.
ROTINA
– João, pega um pão de queijo quentinho para o moço aí – grita o atendente e “faz tudo” Diogo Pereira, 19, de dentro da cozinha.
– É pra já. Tá na mão aqui, brother! – diz João Bosco Maia, 38, dono do estabelecimento há cinco anos. João é dono, mas também faz de tudo um pouco: supervisiona cozinha, atende clientes, fica no caixa, à esquerda de quem entra, de olho em tudo que acontece.
O estudante de Direito Bruno de Souza, 20, pega o biscoito quentinho e um copo de café, saindo fumaça, e senta na mesa mais próxima do balcão. Ele não conhece muito sobre a história do café. Só sabe que é bom. “Tem gosto caseiro”. Ele come rápido e em quatro minutos já está fora do café.
Nas prateleiras é que se vê a riqueza do café Central. Nos tradicionais pães de queijo e empadas, na broa de milho e o modo tradicional como as frutas são dispostas e ficam à vista para que o cliente escolha o que quer na sua vitamina. Mas também foi adicionado o novo: freezers repletos de garrafas de refrigerante e cerveja, de tamanhos variados. Agora, o local também é lan house. Uma viradinha à esquerda depois do banheiro e, após uma divisória de vidro enfumecido, tem-se 15 computadores e um letreiro “Corujinha – R$ 1,25 a hora”.
– Você adquiriu o café por algum motivo especial?
– Eu conheço o café Central desde 1982, quando me mudei para Goiânia. Como cliente, eu observava o valor cultural, histórico do café, e não percebia esse cuidado por parte dos antigos donos – diz João Bosco.
– E o que você fez então?
– Eu falava “Mas como que pode? Um ponto desse, uma história dessa, as pessoas estão deixando acabar”. – E então fez parceria com um empresário do ramo de café. – Ele me apoiou, inclusive financeiramente.
– Quando você comprou o café, como ele estava?
– Teto caindo, a cerâmica não existia. Tudo foi trocado, teto, parede, piso, balcão. Devia estar há uns 40 anos sem uma troca de tomadas.
Devagar, João Bosco foi conseguindo dar ao café a cara que tinha quando o futuro dono, ainda menino, o conheceu.
– E não tá pronto ainda não, a gente espera conseguir melhorar mais. Queremos também o público jovem por aqui.
– Por isso o cyber café?
– Foi uma idéia que deu certo. Uma coisa ajuda a outra, e nós temos que construir novos clientes fiéis.
Em 1980, o café Central chegou a vender sete mil xícaras por dia. Na época, era dirigido por três donos – Emílio Campos, Joaquim de Aquino e Walter Xavier Teixeira. Hoje, são servidas cerca de 600 xícaras de café. Onde eram empregados 35 funcionários, há dez, contando o gerente.
– Mas o café, servido puro ou pingado (com leite), ainda é o carro-chefe do café Central – diz João Bosco.