Empresas querem que vendas de café tornem-se mais sustentáveis em 2015

14/08/2012 
  
Por Carine Ferreira | De São Paulo | Valor Econômico


Sob a supervisão da Idh (Iniciativa Internacional de Comércio Sustentável, na sigla em inglês), instituição holandesa de cooperação público-privada, grandes grupos multinacionais buscam emplacar um projeto ambicioso para a cafeicultura mundial. A intenção é que 25% das vendas internas e externas de café sejam sustentáveis em 2015. Os principais focos iniciais de trabalho são o Brasil, o maior produtor e exportador mundial da commodity, o Vietnã e alguns países da África.


A Idh considera que o consumo global do grão continua a crescer a um ritmo constante, especialmente nos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, a produção tem sofrido com baixos investimentos, práticas de produção inadequadas e clima adverso, provocando colheitas menores que a demanda.


O programa da Idh voltado ao grão envolve a indústria, exportadores, governos, organizações não governamentais (ONGs) e outras entidades. As quatro multinacionais participantes que, de acordo com o site da Idh, são Kraft Foods, Nestlé, DE Master Blenders 1753 e Tchibo, representam compras de cerca de 36 milhões de sacas ou 30% da produção mundial.


No caso do Brasil, a meta proposta de comercialização de 25% de cafés produzidos de forma sustentável não deixa de ser um desafio. A produção sustentável certificada cresceu nos últimos anos, mas alguns programas de certificação, como o Certifica Minas, não são reconhecidos internacionalmente. “A gente acha que o Brasil é muito sustentável, mas precisamos demonstrar isso. É fazer com que os produtores sustentáveis sejam reconhecidos como tal”, afirma Carlos Henrique Brando, diretor da P&A Marketing Internacional, empresa que está criando a estratégia para o Brasil no projeto.


Ele observa que o Brasil está à frente no quesito sustentabilidade em relação a seus concorrentes na cafeicultura, principalmente porque aplica legislações trabalhista e ambiental consideradas as mais rigorosas do mundo.


O objetivo inicial no Brasil seria enquadrar apenas os embarques pela dificuldade de se atingir a meta na comercialização interna. Pelos cálculos da P&A, para se exportar 25% de grãos sustentáveis é necessário que cerca de 40% da produção nacional seja produzida desta forma, o que representaria cerca de 20 milhões de sacas ante as oito milhões de sacas da safra estimadas como tal.


Desde o mês passado se intensificou o planejamento das atividades do projeto. A ideia é ajudar o produtor a implementar as práticas e depois escolher a certificação e para quem vai vender.


De acordo com Brando, apesar da demanda por café sustentável, no futuro o impasse poderá ser o preço que os torrefadores estariam dispostos a pagar. Hoje, existe prêmio para estes produtos, mas com o tempo este tipo de produção passa a ser “obrigatória” e não terá este diferencial. “Tem que ser visto como acesso a mercados”, resume.


Na sua avaliação, quem escolhe o caminho da sustentabilidade acaba obtendo mais renda e torna-se um melhor administrador de seu negócio, na medida em que os procedimentos a serem seguidos contribuem para a melhor eficiência da atividade. “É o que justifica a sustentabilidade a longo prazo”, argumenta.


Estatísticas da P&A também apontam que o Brasil é o país produtor de café mais eficiente do planeta. Enquanto a média do mundo é de 65% a 70% de transferência de renda ao produtor (considerando o preço FOB), no Brasil este índice chega a aproximadamente 90% – mas existem casos extremos de 25% a 30%, por exemplo, em países que não contam com portos.

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