17/12/2006 05:12:38 –
Rogério Teodorovy/Gazeta do Povo Participantes definem estratégia do jogo. O artifício de “hedge” (do inglês, proteger), que já é artigo comum entre grandes multinacionais, começa a ser usado agora por empresas de pequeno e médio porte – o chamado “middle market”. Dados da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a instituição no Brasil onde se negociam contratos futuros, mostram que no ano passado foram negociados quase 198 milhões de contratos, contra 15,7 milhões em 1990. Boa parte desse movimento vem de empresas para quem o hedge era, até agora, palavrão.
As pequenas e médias empresas tiraram proveito do fato de que as instituições financeiras passaram a oferecer, como hedge, produtos de derivativos (instrumento cujo valor deriva de outro ativo financeiro) criados para o segmento. Nesta área não se negociam produtos propriamente ditos, como café, soja, ouro, mas sim preços, direitos e obrigações – como compra e venda de moedas e de commodities – para vencimentos em datas futuras. “Neste mercado, quem vende não tem necessariamente o produto para entregar, e quem compra, por sua vez, não deseja necessariamente receber o produto”, diz José Cezar Castanhar, professor da Fundação Getúlio Vargas e consultor sobre o assunto.
Operações desse tipo são boas para importadoresempresas com pagamento em dólares a fazer no futuro. Temendo uma variação cambial – que pode fazer a empresa desembolsar mais dinheiro que o previsto – o diretor financeiro pode fazer um contrato de compra futura de dólares, a uma determinada cotação. Por isso o nome hedge: ao “travar” a cotação do dólar em um valor que lhe parece razoável, a empresa fica livre de eventual influência negativa do dólar.
Se, ao liquidar a operação o dólar tiver subido além da cotação estipulada na compra futura, a empresa não perde dinheiro. Pelo contrário. Os contratos de dólar foram comprados a um valor e vendidos a um valor superior, e o resultado é favorável para a empresa. Mas se a empresa não tivesse se protegido (ou se hedgiado, no jargão financeiro), iria arcar com um custo maior para honrar sua dívida.
“É uma ferramenta estratégica de gestão de riscos. O que é novo é usar esses mecanismos para pequenas e médias empresas”, lembra Rosana Gomes, do grupo Opções, que dá treinamento a executivos da área de finanças sobre o mercado de derivativos. Carlos Barth, diretor da empresa curitibana La Violetera, concorda. “Para nós é novidade.” A La Violetera importa produtos alimentícios para envase e revenda. As azeitonas argentinas, por exemplo, são pagas à vista para se conseguir um melhor preço. “Mas até receber o produto, envasá-lo e vendê-lo, leva em média 90 dias”, diz Barth. Ou seja, o dinheiro para pagar o empréstimo em dólar feito no banco para comprar as azeitonas só vai aparecer em três meses. Como até lá o dólar pode subir bastante, o jeito é se proteger. “Temos entre US$ 9 milhões e US$ 10 milhões em obrigações vencendo em janeiro e fevereiro, e mais ou menos 30% está em hedge”.
Os “Mercados Futuros”, no entanto, são apenas um dos mecanismos do mercado de derivativos, que inclui os Swaps, o Mercado de Opções e os Mercados a Termo (Forwards). Os swaps, mais comuns, consistem na troca da variação do dólar por juros. É o caso de uma empresa que tem dívida em dólar mas prefere “trocar” a variação cambial por juros.
Felipe Laufer