No Brasil, fazem parte de uma parcela de mais de 500 milhões de pessoas em todo o planeta que, segundo o Banco Mundial, dependem do café para sobreviver.
Elas estão conquistando cada vez mais respeito e visibilidade no cenário produtivo nacional e internacional, representando o segundo maior produto de exportação mundial, marca registrada de vários países: o café. Historicamente envolvidas na cadeia produtiva da cafeicultura, milhares de mulheres – até então anônimas – estão ganhando espaço e revelando sua presença em todos os contextos relacionados à atividade. No Brasil, fazem parte de uma parcela de mais de 500 milhões de pessoas em todo o planeta que, segundo o Banco Mundial, dependem do café para sobreviver.
Prova dessa evolução e da necessidade da valorização do papel feminino foi o lançamento do e-book Women in coffee in Brazil, na segunda-feira (17), durante a reunião da Organização Internacional do Café (OIC) em Londres, no Reino Unido. A publicação é resultado de um trabalho pioneiro desenvolvido pela Embrapa e a Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA Brasil), com apoio do Programa Coopergênero do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Itaipu Binacional, Solidaridad Network, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres e Consórcio Pesquisa Café, envolvendo 21 instituições.
Mais de 40 autores colaboraram com a produção de cerca de 300 páginas e 17 capítulos, que descrevem a realidade nos cinco principais estados cafeeiros do Brasil (Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Bahia e Rondônia), destacando as mulheres que trabalham em pequenas propriedades. A publicação faz um alerta: para atender as necessidades e demandas dessas trabalhadoras, será preciso definir estratégias para derrubar barreiras, principalmente quanto ao desenvolvimento de normas sociais que não prejudiquem a participação econômica das mulheres.
O livro reúne histórias de mulheres de regiões produtoras de café que dedicam seu esforço no campo, no cultivo, até o preparo do café, para consumo nos mais diversos ambientes. A memória oral das trabalhadoras, que relembram parte de suas vidas vinculadas à cultura – em sua maioria localizada em pequenas propriedades -, está em um dos capítulos da publicação e reflete a importância econômica, social e ambiental desse segmento.
No final do e-book foi inserido um questionário aberto aos leitores, cujas respostas serão recebidas por um sistema informatizado, com o objetivo de coletar sugestões e críticas para a segunda versão, já em fase de elaboração.
Compartilhamento de experiências
Traduzida para o inglês com o apoio da ONU Mulheres, a publicação foi apresentada no encontro da Specialty Coffee Association of America (SCAA), em Seattle nos EUA, e em Augsburg, na Alemanha, durante o evento "Mulheres pela Paz- Frauen für Frieden", na Semana Latino-Americana (maio de 2018), como uma das contribuições da Embrapa para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 – Equidade de Gênero, que também é foco temático da OIC neste ano.
As editoras técnicas foram a pesquisadora Cristina Arzabe (Embrapa), Josiane Cotrim Macieira (IWCA-Brasil), Raquel Santos Soares Menezes (Universidade Federal de Viçosa), Danielle Pereira Baliza (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais) e Tânia Fontenele Mourão (Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher – Ipam).
“Foi um trabalho de pesquisa colaborativo, que evidencia a contribuição das brasileiras para que nosso País mantenha a liderança mundial”, disse a presidente da Aliança Internacional das Mulheres do Café, Josiane Cotrim. “Foi uma honra para mim participar deste momento que começou a ser construído em 2012, e que de lá pra cá resultou na construção de uma rede de contatos unida no mesmo objetivo, que foi construir esse e-book”, explicou. Além de Josiane, a pesquisadora da Embrapa Café Helena Alves também participou do evento.
Relação com os ODS
O pioneirismo do trabalho reforça a necessidade de ações para o alcance das metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – hoje compromisso de toda comunidade internacional –, principalmente os que têm como foco a garantia dos direitos humanos e a igualdade de gênero. “São estratégias que podem efetivamente contribuir com a erradicação da pobreza e da fome (ODS 1 e 2), com a garantia de melhores condições de saúde e educação (ODS 3 e 4)”, destaca a pesquisadora da Embrapa Cristina Arzabe.
Segundo ela, a iniciativa também tem participação efetiva no cumprimento da meta 5b do ODS 5, relacionada ao fortalecimento feminino a partir do uso das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Um dos pontos importantes foi a criação da Rede Mulheres do Café, plataforma que permitiu a troca de material (fotos, artigos, entre outros), com a participação de cerca de 100 pessoas, entre autores e colaboradores.
Cristina lembra que as mulheres e meninas que vivem e trabalham no campo têm um perfil diverso em termos de identidade, estilo de vida, organização social, engajamento e outras atividades produtivas e de emprego, sendo um público com demandas próprias e específicas. “Representam mais de um terço da população mundial e 43% da força de trabalho agrícola do mundo”, comenta.
Só na região da América Latina e do Caribe, são 58 milhões de mulheres rurais e, no Brasil, aproximadamente 15 milhões. Mas, apesar de contribuírem tanto com o desenvolvimento e a segurança alimentar, o relatório regional Nações Unidas Mulheres 2017, "Progresso das mulheres na América Latina e Caribe", aponta que elas enfrentam restrições, discriminação social e preconceito de gênero.
Mulheres no campo
Segundo dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE), 18,6% das propriedades rurais do País estão sob a responsabilidade de mulheres. Cerca de metade delas trabalha em propriedades de 1 a 10 hectares, e 25% de 11 a 50 hectares.
Do total de 1 bilhão de pobres do mundo, estima-se que 70% sejam mulheres. Elas são proprietárias de menos de 1% das propriedades rurais do planeta. O Banco Mundial estima que mais de 500 milhões de pessoas dependam da atividade cafeeira para sobreviver. Dessas, 25 milhões são agricultores e boa parte vive em condições precárias. As mulheres enfrentam ainda outros desafios. Além da luta diária pela manutenção de um padrão respeitável de vida, sofrem com o problema da inequidade de gênero que prevalece em diversas regiões do planeta. (Fonte: IWCA Internacional)
Sobre a IWCA
A IWCA Brasil é uma filial da IWCA internacional (International Women's Coffee Alliance, em inglês), organização sem fins lucrativos criada em 2003 a partir do encontro de mulheres da indústria do café dos Estados Unidos e Canadá com produtoras de café na Nicarágua. Está presente em 16 países produtores, com a missão de fortalecer as mulheres que atuam em todos os elos da cadeia. Os países onde a IWCA está presente são: Brasil, Burundi, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Índia, Quênia, Nicarágua, Filipinas, República Democrática do Congo, República Dominicana, Ruanda, Tanzânia e Uganda.
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