O preço da terra no Estado de São Paulo mais do que dobrou nos últimos cinco anos, segundo levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA). De 2001 a 2006, o valor médio por hectare subiu 113,6%, de R$ 4.740,11 para R$ 10.128,12. A valorização não foi homogênea, como mostra o mapa do IEA, e foi registrada com mais vigor no interior de São Paulo. Em Franca, o valor por hectare subiu 170% no mesmo período e em Ribeirão Preto, 160,4%.
“O centro de gravidade da economia paulista mudou. Foi do interior no período do café. Foi da capital no período da industrialização. E agora volta ao interior com a agroindústria exportadora”, resume o pesquisador da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), Vicente Golfeto.
Dois fatores determinaram essa valorização até agora. O primeiro está relacionado à estabilidade de preços da economia brasileira pós-Plano Real. Associado a isso está o desenvolvimento de negócios de grande escala que forma cadeias agroindustriais exportadoras. Entre as atividades que se desenvolveram, segundo pesquisadores, estão grãos, açúcar, suco de laranja e carne bovina – esta, atividade com a situação mais crítica do ponto de vista dos produtores.
Um dado: a exportação da macrorregião de Ribeirão Preto no primeiro quadrimestre deste ano atingiu US$ 1,442 bilhão, crescimento de 41,9% ante 2006. “Só Araraquara vai exportar US$ 1 bilhão este ano. Por enquanto, não tem nada com cana, é suco de laranja”, explica Golfeto.
O mesmo modelo que ajudou a inflacionar o preço da terra em São Paulo receberá a partir de agora um reforço. A valorização da terra, que parecia se estabilizar no ano passado, tomou novo fôlego a partir deste ano com o etanol. Um novo ciclo de investimentos em usinas para produção de álcool provoca corrida por áreas para a formação de canaviais no Estado.
“No longo prazo, a tendência de alta do preço da terra deverá prevalecer no mercado paulista, causada, principalmente, pela demanda mundial crescente por biocombustíveis”, aponta Felipe Pires de Camargo, engenheiro agrônomo e pesquisador científico do IEA, responsável pelo último levantamento do preço de terra em São Paulo.
A elevação do preço das áreas agrícolas chamou tanto a atenção do instituto, que uma série de pesquisas financiadas pela Fapesp tentará buscar explicações sobre o que ocorre com essas populações rurais e a relação socioeconômica no interior paulista. Além da substituição de cultura – com ênfase na conversão de grandes áreas de pasto em canaviais -, há uma suspeita sobre um processo de concentração fundiária em São Paulo nas mãos de grandes grupos sucroalcooleiros ou de fornecedores de cana.
Uma usina de tamanho médio capaz de moer 1,5 milhão de tonelada de cana por ano precisa de um canavial de 25 mil hectares plantados. Há projetos ainda maiores em desenvolvimento em São Paulo, o que requer glebas dedicadas ainda mais extensas. Segundo levantamento da União da Agroindústria da Cana-de-Açúcar (Unica), até a safra 2012/2013, o Estado de São Paulo tem garantido a construção de mais 31 novas usinas, o que elevará o total de unidades para 179. Há combustível para mais valorização da terra, dizem especialistas.
“A corrida por área para as novas usinas dará novo impulso à valorização da terra. Ao contrário do que muita gente pensa, o efeito do etanol ainda não está refletido no preço de terra”, avalia Bastiaan Reydon, professor e pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Reydon estuda o preço de terra há 25 anos e se surpreende com a atual tendência. Ele alerta, entretanto, que nem o maior dos otimistas com o etanol pode assegurar que essa valorização seja sustentável.
Parte disso está relacionado à falta de regulação do uso da terra no País, explica Reydon. A situação do setor sucroalcooleiro, segundo ele, é um bom exemplo. Não há qualquer regulação que impeça o dono de usina de ter áreas para abastecer moendas. Nem o contrário. Esta é uma maneira, afirma, de controlar o processo de concentração da terra. A outra é tornar efetivo o controle do pagamento do Imposto Territorial Rural, o IPTU do campo.
Fonte: Agencia Estado – Agnaldo Brito