Doenças prejudicam cafezais de SP e MG

06/01/2012 
 
Produção pode cair até 30% devido à pinta preta, que deixa as folhas amareladas e necrosa os galhos do café. Plantações mais afetadas estão na Alta Mogiana e no sul de Minas Gerais, grandes produtoras de arábica
 
ELIDA OLIVEIRA | FOLHA DE SÃO PAULO
DE RIBEIRÃO PRETO

Após florada uniforme no fim do ano passado, que prometia alta qualidade na próxima safra de café, a proliferação de doenças em cafezais da Alta Mogiana (SP) e do sul de Minas Gerais pode derrubar em até 30% a colheita nessas áreas.


O sul de Minas e a Alta Mogiana são as maiores regiões produtoras desses Estados e representam cerca de 42% da produção nacional de café arábica -o tipo de grão de maior valor no mercado.


Em um ano de alta bienalidade, como será a safra seguinte -o café produz mais frutos em um ano, e no outro, não-, a doença pode representar queda ainda mais drástica, já que os produtores esperavam atingir o resultado da colheita de 2010, recorde na cultura até então.


Reflexos do clima, como a alta amplitude térmica alternando noites frias e dias quentes, as geadas e os ventos fortes em áreas montanhosas deixaram as plantas suscetíveis à doença.


Chamada de pinta preta, a doença é causada por bactéria que deixa as folhas amareladas e necrosa os galhos, evitando a produção de frutos naquele ramo. Enfraquecida, a planta fica mais vulnerável também aos fungos.


Os casos começaram a aparecer com maior incidência em dezembro, segundo cooperativas de cafeicultores ouvidas pela Folha.


Na Cooparaíso (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso), no sul de Minas, há cafezais que têm até 40% dos galhos infestados. A média na região é de 30%.


Na Alta Mogiana, em Franca (400 km de SP), cerca de 20% dos cafezais em produção estão afetados pela pinta preta, disse Anselmo Magno de Paula, gerente de comercialização de café da Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas).


“Mesmo com adubação e tratamentos preventivos, a incidência está absurda, é algo terrível”, disse. Segundo Magno de Paula, a seca prolongada de 2011 deixou as plantas mais vulneráveis.


Com isso, a variação de temperatura entre dias e noites propiciou a proliferação de fungos e de bactérias.


Os pés de café que recebem sol só à tarde são os mais afetados. “São plantas que passam mais tempo do dia com o orvalho entre as folhas”, disse Anselmo.


Não há como reverter o processo de infecção nas plantas já atingidas, disse Marcelo Almeida, engenheiro agrônomo da Cooparaíso. A alternativa é intensificar a pulverização para que a bactéria não se espalhe.


Perdas não devem elevar preço para os consumidores


DE RIBEIRÃO PRETO

Os cafezais afetados pela pinta preta vão representar queda na produção e prejuízo para os cafeicultores, de acordo com Anselmo Magno de Paula, da Cocapec.


No entanto, as perdas não devem impactar o preço do produto na indústria ou para o consumidor, segundo Marcelo Almeida, da Cooparaíso.


Embora São Paulo e Minas Gerais representem 77% de toda a produção de café arábica do país, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), nem todas as fazendas de café estão comprometidas. Serão os produtores, portanto, que vão amargar o prejuízo.


Além disso, a incidência da pinta preta encarece a produção do fruto, já que os cafeicultores precisam investir mais em tratamentos fitossanitários, disse Magno de Paula.


A prevenção é importante porque sem ela a doença poderá atingir mais plantas. “Pode passar de um pé de café para o outro; basta a bactéria ter como entrar na planta.”


Se, em 2010, ano de alta produção na cafeicultura, a região da Cocapec recebeu 1,75 milhão de sacas de café, neste ano a projeção é que os cooperados entreguem até 1 milhão de sacas.


Já a Cooparaíso estima que 1 milhão de sacas deixarão de ser produzidas por causa da doença. 

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