28/10/14
O governo de Dilma Rousseff deverá ter muito mais dificuldades com o setor agropecuário no próximo governo do que teve no primeiro.
Além dos tradicionais problemas estruturais, que vêm de longa data, e que ainda aguardam uma solução, o novo governo terá de conviver com desafios momentâneos, vindos principalmente da queda de preços das commodities agrícolas.
Com a agricultura fora das condições ideais, os reflexos sobre a economia serão imediatos. A importância da agricultura nos últimos ano se vê pelos números gerados por esse setor.
Em dez anos, as exportações agrícolas renderam US$ 694 bilhões, e esse setor deu ao país um saldo de US$ 528 bilhões. Os dados de 2013 são bastante elucidativos.
As exportações do agronegócio atingiram US$ 100 bilhões no ano passado -41% do total exportado-, gerando um saldo de US$ 83 bilhões apenas nesse setor.
Nesse mesmo período, as exportações totais do país foram de US$ 242 bilhões, com saldo final de apenas US$ 2,6 bilhões. O bom momento do agronegócio impediu um deficit na balança comercial.
Os desafios do momento para o governo virão dos preços das commodities. Com forte queda, os preços externos vão influenciar não só a balança comercial brasileira como a renda dos produtores.
Um exemplo são os números da soja, o carro-chefe das exportações brasileiras, que representam um quarto das receitas totais das vendas externas do agronegócio.
No final de maio, a oleaginosa estava cotada a US$ 16 por bushel (27,2 quilos) na Bolsa de Chicago. Nesta segunda-feira (27), estava a US$ 10, uma queda de 38%.
Com os preços próximos desse valor, os produtores vão viver no limite entre perdas e lucros. Um componente importante será o comportamento do dólar. Quanto maior a desvalorização do real, melhor a renda dos produtores, uma vez que os produtos têm como parâmetro a moeda norte-americana.
O problema é que os custos de produção, principalmente devido aos insumos importados, também vão subir com a alta do dólar.
Com a economia desacelerando e vários buracos para serem cobertos pelo governo, o crédito para a agricultura poderá entrar na fila de espera. Se isso ocorrer, a pressão política será grande.
O resultado das eleições indicou que a oposição venceu exatamente nas principais regiões produtoras de grãos. E daí é que surgirão as maiores pressões contra o governo.
Alguns ajustes de política econômica que serão feitos internamente, como o acerto nos preços dos combustíveis, também serão fatores de pressão nos custos dos produtores, principalmente porque a deficiência logística exige longos percursos no transporte dos grãos.
Além de problemas pontuais, a presidente vai ter de lidar com problemas estruturais do agronegócio, como a logística, que afeta muito os produtores das novas fronteiras agrícolas.
Uma política de renda, que incorpore crédito, seguro e preço, também vai estar nas exigências dos produtores. O governo não terá como deixar de tomar uma decisão nesse assunto diante dessa nova geografia do voto.
A pauta de uma política comercial mais aberta para o país também estará em evidência. O Brasil não pode ficar preso ao Mercosul, mas deverá fazer acordos com grandes consumidores como União Europeia, China e Estados Unidos.
As mudanças devem passar também pela estrutura da política agrícola, hoje muito dividida em vários órgãos, sem uma centralização. Sem uma boa autonomia ao Ministério da Agricultura, as decisões dos principais temas vão continuar sendo postergadas.