A resiliência dos ativos de risco surpreende principalmente o mercado acionário americano que não para de fazer novas altas com as apostas de um crescimento maior, estimulado pelas medidas a serem tomadas pelo novo presidente eleito.
Os italianos decidiram por não reformarem sua constituição e diferentemente do que se imaginava, os mercados não reagiram negativamente. Na verdade reagiram, mas a baixa durou alguns minutos. Como bem mencionou um artigo no Bloomberg, a votação do Brexit teve três dias de pânico entre os investidores, a eleição do Trump três horas e o referendo italiano três minutos – impressiona, não é?
A resiliência dos ativos de risco surpreende principalmente o mercado acionário americano que não para de fazer novas altas com as apostas de um crescimento maior, estimulado pelas medidas a serem tomadas pelo novo presidente eleito.
O Banco Central Europeu deu uma mãozinha também após divulgar na semana uma extensão do programa de compra de títulos até o fim de 2017, ao invés de prorrogar pelos esperados seis meses. Com isso a moeda norte-americana teve uma reversão forte da baixa que vinha sofrendo, encerrando muito próximo das máximas recentes.
Os índices de commodities não foram prejudicados com a firmeza do dólar, muito embora analisando os componentes do CRB, por exemplo, podemos notar a queda de 8.19% do cacau e as perdas de pouco mais de 3% do café, do suco de laranja e da gasolina. Suíno-magro, trigo, gás natural e açúcar foram as matérias-primas que melhor performaram, com o primeiro subindo 10% e os outros entre 1.5% e 2.8%.
O contrato “C” acumula seis dias de perdas consecutivas, caindo na semana US$ 6.45 centavos por libra e fechando nas mínimas. O robusta esboçou uma reação tímida e não sustentou, encerrando na sexta-feira quatro dólares acima da média-móvel de cem dias.
O tom negativo poderia ser atribuído a valorização do índice do dólar, ou a pressão vendedora entre as principais chamadas “soft-commodities” (café, açúcar e cacau), mas também podemos dizer que o resultado continua sendo a diminuição da posição compradas dos fundos – no cacau eles já estão short (vendidos).
O café especificamente sofre a ressaca do rally que há um mês levou a tela de Março2017 a US$ 179.55 centavos por libra, com os fundos montando uma posição recorde comprada, estimulados pelo técnico e notícias altistas apontando para uma queda grande de produção em 2017/2018.
O problema é que até chegarmos ao suposto aperto de oferta, tem de se drenar o pipeline, e este voltou a ser irrigado justamente pela subida do terminal. Explico. Muito embora a comercialização da safra brasileira esteja historicamente em níveis acima da média, há/havia café ainda a ser vendido, sem falar na entrada da safra dos suaves e até do robusta vietnamita. Desta forma os ganhos da bolsa elevaram os preços da saca de café nos mercados físicos locais e estoques que poderiam ficar na mão dos produtores e causar uma oferta reprimida no primeiro trimestre do próximo ano foram negociados, atrasando a janela onde potencialmente compradores precisarão de café.
Com os exportadores carregando bastante café em seus armazéns, com diferenciais “baratos”, os importadores diariamente recebem ofertas no FOB a níveis que mais uma vez não indicam nenhum problema de abastecimento e, para completar, o terminal caiu US$ 40 centavos ajudando os torradores a recompor seus livros de futuros. O calor foi grande entre os que precisavam ter fixação de preços e agora, como demonstrado pelo Commitments of Traders, os comerciais aproveitam para comprar futuros.
A posição dos comerciais bruto-comprada voltou para a casa dos 72 mil contratos, similar ao volume que detinham na semana do dia 8 de novembro – quando Nova Iorque quase tocou 180 centavos por libra.
Os fundos, segundo o mesmo relatório do CFTC, compraram 17 mil contratos entre os dias 30 de novembro e 6 de dezembro, e o arábica perdeu US$ 11.05 centavos por libra no mesmo período. O apetite da compra dos comerciais deve aumentar com futuras liquidações ou novas vendas dos fundos, o que não é uma garantia de que os preços vão parar de cair, mas ao menos deve amortecer as baixas.
Fundamentalmente pouco mudou na oscilação dos últimos US$ 40 centavos por libra, à parte a importante desvalorização do real pós-eleição do Trump. A não-alteração do fundamento significa dizer que no próximo ciclo de produção e consumo mundial haverá um déficit de café, e os estoques mundiais continuarão a cair.
Aos altistas a oportunidade de compra veio a calhar, mas como timing é tudo na vida, não podemos esquecer que há muitos fundos de investimento que não olham para o que vai acontecer no mercado em alguns meses e ou anos, e sim o quanto podem ganhar de dinheiro no fluxo de curto-prazo.
Embora os fundos não existam para fazer bondade para ninguém (além de prover lucratividade para seus investidores) estes “abençoados” participantes permitiram em apenas um mês que os produtores vendessem café próximo de US$ 180.00 centavos e também os torradores a comprarem abaixo de US$ 145.00 centavos, o que não aconteceria sem estes “amaldiçoados” participantes, pois dentro deste intervalo de preços ninguém se encontraria.
Um fechamento no março acima de US$ 140.40 pode provocar uma tomada de lucro, mas é preciso que o terminal rompa novamente os US$ 145.80 para afugentar os fundos de sistema a vender mais o mercado.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting