Crise e investimento na agropecuária

Por: Luis Nascif

05/06/2012
 
Crise e investimento na agropecuária
Na agropecuária o terrorismo da “crise” não deveria parar os investimentos
 
Sim, a economia brasileira é muito dependente da exportação de commodities agrícolas. Não teria sido sábio o país não desenvolver a agropecuária adaptando suas favoráveis condições climáticas e extensão territorial às bases tecnológicas.


É verdade que não precisaria ter devastado tanto o meio ambiente e a biodiversidade. Mas isso é outra história e, apesar dos cabeçudos e interesseiros de sempre, nunca é tarde para se aprender.


De qualquer forma, se outros setores da economia não tiveram desenvolvimento semelhante e impediram a maior agregação de valor às nossas exportações, é bom lembrar que o crescimento da lavoura não se deveu a grandes favores ou privilégios.


Aos agropecuaristas sempre faltaram infraestrutura, crédito, segurança climática e de preços, planejamento, apoio ao trabalhador rural, assentamentos organizados em bases produtivas.


A atual pujança é recente e se deveu, sobretudo, aos mecanismos de mercado. Desde o aumento da demanda mundial por alimentos, fibras e energia renovável até o maior consumo interno, possível graças à criação de políticas de inserção social.


Hoje, no momento em que folhas e telas cotidianas não escondem o apetite em tirarem a disposição do empresário nacional de investir, fazendo ver na desaceleração do crescimento do PIB uma “crise sem precedentes”, é interessante verificar alguns dados da agropecuária.


Nos últimos doze meses, as cotações das principais commodities agrícolas na BM&F (Bolsa de Mercadorias) tiveram o seguinte desempenho: boi gordo (-4,5%); café (-36,6%); milho (-16,3%); soja (+6,7%); etanol (+15%).


Antes de o leitor se assustar, lembro que essas quedas aconteceram sobre patamares históricos altíssimos, aqueles que até o fim de 2011 faziam governo e mídia tremerem de medo da inflação.


Mas aqui estamos falando de commodities e exportação, certo? Alguém deverá lembrar o quanto estas foram prejudicadas em competitividade e rentabilidade pelo real sobrevalorizado.


Pois é, no período de um ano (31/05/11 e 01/06/2012), o dólar valorizou 30,6% diante do real. De R$ 1,57 para R$ 2,05. Com exceção do café, em período de colheita e próximo de iniciar a recuperação, os exportadores dessas commodities estão mais do que compensados.


Poderá piorar? Sempre poderá. Mas deixar de investir arrastado pela correnteza de lágrimas que jorra das folhas e telas cotidianas poderá ser um grave erro de estratégia.

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