São Paulo, 30 – A crise financeira nos Estados Unidos continua no centro das atenções dos operadores do mercado futuro de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). O clima é de pessimismo, depois que os deputados rejeitaram o plano de socorro aos bancos. O contrato com vencimento em dezembro na ICE acumula perda de 11,8% este mês. Desde o início do ano, a queda é de 12,01%.
Ontem dezembro fechou em baixa de 2,9% (menos 390 pontos), a 130,25 cents. Os contratos operaram no terreno negativo ao longo de toda a sessão. A máxima ficou 15 pontos abaixo do fechamento anterior, a 134 cents. A mínima foi de 460 pontos, a 129,55 cents. O volume negociado foi fraco.
O broker Theo Amaral, da SLW Corretora, informa que a crise financeira já havia prejudicado o mercado de café. Depois que o pacote de ajuda aos bancos não passou, a situação ficou ainda pior.
Os fundos de investimento já devem carregar saldo líquido vendido no mercado de café. No dia 23 de setembro, o saldo líquido ainda era comprado em 2.746 lotes, nível mais baixo desde 17 de julho de 2007. A liquidação de posição pelo fundos é acompanhada da redução do volume de contratos em aberto na ICE, em particular a partir de fevereiro, quando os fundos ingressaram agressivamente nos mercados de commodities.
Agora, investidores fogem de ativos de risco, direcionando recursos para aplicações como títulos do Tesouro norte-americano e outro. Os futuros do petróleo na Nymex despencaram mais de US$ 10 o barril, registrando o maior declínio em 17 Anos.
Os negócios na Bovespa foram suspensos ontem à tarde, após queda de 10% do índice à vista, quando o indicador marcava 45.622,61 pontos. A queda acentuada ativou o circuit breaker, que é o mecanismo utilizado para amortecer movimentos bruscos de mercado.
Dificuldade para contratar ACC
O vice-presidente, Jorge Esteve Jorge, do Conselho Deliberativo do Cecafé, entidade que reúne os exportadores do setor, avalia que o crédito para exportação está apertado e “deve piorar ainda mais”, com o agravamento da crise financeira nos Estados Unidos, cujos deputados rejeitaram ontem o pacote de socorro aos bancos. Segundo ele, a contratação de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) junto aos bancos “está mais difícil do que há um mês e com juros mais altos”.
O exportador ponderou, no entanto, que o embarque de café para este ano já está “praticamente todo contratado”. “Se a situação internacional continuar grave, haverá mais limite de crédito ao exportador, que se refletirá em redução do embarque no futuro”, explica. “O exportador tenta fazer o melhor possível, dentro de sua capacidade financeira”, acrescenta.
Esteve Jorge considera, no entanto, que a crise global tende no futuro a provocar recessão nos países ricos, com diminuição do consumo de alimentos. Ele observa que o embarque de café em setembro deve ficar em cerca de 2,5 milhões de sacas de 60 kg. Em agosto, a exportação total foi de cerca de 2,2 milhões de sacas.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, considera que a crise financeira internacional trouxe reflexos imediatos ao mercado de café, “numa equação trágica”, pois enquanto despencam os preços em dólares do grão no mercado futuro de Nova York, as cotações internas, em reais, mantêm-se praticamente estáveis, às custas do real desvalorizado.
Segundo ele, as eventuais margens do produtor são comprometidas pelo aumento dos custo de produção, cujos insumos são dolarizados. “Isso pode levar a uma redução dos tratos culturais na próxima safra de 2009”. Ele explica, porém, que há atenuantes: linhas de crédito são disponibilizadas e a renegociação da dívida resolve os problemas de parcela dos produtores.
Quanto ao mercado físico, os negócios foram bem fracos ontem, com a alta volatilidade do câmbio e forte queda dos contratos futuros na Bolsa de Nova York. O vendedor está retraído, informa um corretor de Santos (SP).
O comentário na praça de Santos ficou ontem por conta de uma compra de cerca de 2,3 mil sacas, feita pela Stockler. A empresa teria adquirido café tipo 6, com 15% de catação, a R$ 260 a saca. O vendedor seria a Cooperativa dos Cafeicultores de Três Pontas (Cocatrel), do sul de Minas.
Na BM&F de São Paulo, os contratos de arábica fecharam em forte queda. Dezembro recuou 6,20, a US$ 154,50 a saca. Março caiu 6,20, a US$ 159,50 a saca.
O valor à vista em reais do indicador do café Arábica calculado pela Esalq ficou em R$ 265,05/saca (+1,00%). Em dólar, o valor ficou em US$ 145,55/saca (+2,61%). A prazo, a cotação ficou em R$ 266,56/saca (+1,00%).
O leilão de CPR (aviso 13.761), realizado ontem pelo Banco do Brasil, teve oferta de 11 lote. Nenhum deles foi negociado.
Levantamento preliminar do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostra que os embarques de grãos verdes em setembro, até ontem, alcançavam 2.201.849 sacas, em alta de 34,2%, em relação ao observado no mesmo período do mês anterior. Em agosto foram embarcadas 1.889.052 sacas. Este mês, até ontem, foram emitidos certificados de origem de 2.349.880 sacas, resultado 7,7% maior em comparação com o mesmo período do mês anterior.