Comprador de orgânicos exige certificado e qualidade

14/12/2006 06:12:39 –

14 de dezembro de 2006 | Sem comentários Café Orgânico Produção
Por: Valor Econômico

Emiliano Capozoli/ValorCarlos Roncaglia: “Sofremos pela total ausência de agrônomos orgânicos” Dos lançamentos anunciados pela indústria alimentícia para este Natal, um que chama a atenção vem do Sítio do Moinho, pequena produtora de alimentos orgânicos de Itaipava, na serra de Petrópolis (RJ). Depois de muita pesquisa, ela está abastecendo as gôndolas de empórios e supermercados com sua receita de panetone orgânico, o primeiro da categoria no Brasil. O produto traz apenas 5% de ingredientes não orgânicos permitidos – sal, uma pitada de noz moscada e fermento biológico. As vendas para 2007 já estão fechadas.

Dick e ngela Thompson, donos da Sitio do Moinho, produzem e vendem uma variedade de alimentos orgânicos como hortaliças, ervas e pães, adquiridos por restaurantes, empórios e supermercados do Rio e de São Paulo. Com 55 funcionários, vendas por internet, telefone e fax, a Sitio do Moinho está abrindo frentes em outros Estados. Ela aproveita a busca crescente do consumidor por itens livres de agrotóxicos e aditivos químicos, o que transformou o Brasil no quinto maior produtor mundial de alimentos orgânicos.

De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os orgânicos movimentam US$ 250 milhões no país, devendo chegar aos US$ 3 bilhões em 2010. Segundo Araci Kamiyama, coordenadora executiva da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), o Brasil tem atualmente 800 mil hectares de área plantada de orgânicos. Hoje, a grande maioria dos produtores pertence à categoria de micro e pequena produção, embora haja um número considerável de médios e grandes se dedicando à exportação de café, açúcar e soja orgânicos.

Anualmente, a venda de produtos orgânicos cresce em torno de 30% a 50% no país. O mercado comprador é imenso – de supermercados e restaurantes a clientes residenciais – e também exigente. Ele pede certificação, qualidade, variedade e sortimento.

Para os pequenos produtores aumentarem sua oferta de produtos, especialistas acreditam que eles precisarão primeiro organizar-se em canais alternativos de comercialização, estimular as compras feitas por órgãos públicos e partir para o desenvolvimento do associativismo de produtores e consumidores, para vendas e compras coletivas.

Desde que lançou sua marca Taeq, o grupo Pão de Açúcar reforçou sua aposta em cima dos orgânicos. Só para as lojas de São Paulo, a rede adquire produtos de cerca de 50 fornecedores. Segundo Leonardo Miyao, diretor comercial de frutas, legumes e verduras do grupo, 50% deles são pequenos. Para vender para o grupo, é preciso ser certificado, entregar o produto embalado e se adequar ao padrão de qualidade da rede. “Estabelecemos parâmetros como tamanho, cor, quantidade de açúcar, entre outras regras, além de analisarmos a capacidade de abastecimento do fornecedor”, explica Miyao.

As portas abertas aos produtores de orgânicos está baseada nos números: sete entre 10 brasileiros consumiriam mais orgânicos se houvesse mais oferta nos supermercados. Hoje, o Pão de Açúcar trabalha com 350 itens orgânicos, sendo que 250 estão presentes na seção de frutas, legumes e verduras (FLV). De todo faturamento vindo da venda de orgânicos, a seção de FLV responde por 85%.

Apesar das oportunidades de vendas que se abrem diante do produtor de orgânicos, seu grande desafio é abastecer o varejo sem interrupções. Muitas vezes, por culpa de uma geada ou de uma praga que precisa ser combatida sem agrotóxicos, a produção é destruída. “Quando todos os métodos preventivos são utilizados e, mesmo assim, aparecem pragas, é porque há algum desequilíbrio ambiental”, explica Araci. Aí, a agricultura orgânica usa armas naturais como extrato de camomila e pimenta.

Nem sempre isso dá certo. Quem afirma é Carlos Adilson Roncaglia, dono da Roncaglia Agricultura Orgânica, que produz frutas orgânicas em Valinhos e Jarinú. Ele vende para distribuidores e direto ao consumidor, na feira do Parque da Água Branca (SP).

O ano de 2006 não foi dos melhores para a pequena empresa, por conta de um inseto chamado tripé, que afetou as goiabas e acabou prejudicando boa parte das frutas. Resultado: produção 50% inferior ao ano anterior. “Ao contrário da agricultura tradicional, na qual você liga para o agrônomo e anota o nome do veneno, no caso dos orgânicos nós sofremos uma enorme deficiência tecnológica e a total ausência de agrônomos orgânicos”, reclama Roncaglia.

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