Publicação: 22/04/07
Área externa do café do CCBB e abertura de espaços como o Fazenda Café e o Salve Jorge ajudam a revitalizar região
Centro antigo de São Paulo atrai donos de cafés e bares que descobriram na região um bom nicho; população comemora iniciativas
Instalada em prédio grande e bem decorado, filial do Salve Jorge no centro abriu no final de 2006
JANAINA FIDALGO DA REPORTAGEM LOCAL
A revitalização de um lugar depende diretamente de sua freqüência pela população. Depreciado e abandonado por muitos anos, o centro antigo de São Paulo ainda tem problemas, como a limpeza precária, mas aos poucos se reergue.
Desde ontem há um motivo a mais para os paulistanos o visitarem: a inauguração da área externa do café do Centro Cultural Banco do Brasil. Dez mesas serão montadas nos finais de semana em pleno calçadão, na rua Álvares Penteado. E, recentemente, o Fazenda Café e o Salve Jorge abriram filiais ali.
“A intenção é transformar o entorno do CCBB num ponto de encontro. Queremos oferecer mais entretenimento e fazer deste espaço um lugar para eventos culturais”, diz Marcos Mantoan, diretor do CCBB. A iniciativa tem sido bem recebida. “É muito legal, vai lembrar o estilo parisiense”, diz a analista econômica Maria Aparecida Soares, 53, que é funcionária da Companhia do Metrô, cuja sede foi transferida da região da Paulista para o centro há três anos. “Quando viemos para cá, todo mundo estava com medo. Mas depois acabei trazendo minha filha para conhecer o Pátio do Colégio, o Girondino”, diz a socióloga Nádia Cavalini, 46, amiga de Maria.
RG de São Paulo
O processo de revitalização do centro, porém, deve-se, em grande parte, à iniciativa de alguns empresários, que descobriram na região um nicho e aproveitam essa lacuna para abrir cafés e bares. Foi o que fez há menos de dois meses Ana Saad Jafet, 28, dona da rede Fazenda Café. Com unidades no bairro paulistano de Moema e no Guarujá, agora ela abriu outra em frente ao largo São Bento, onde fica a Faculdade de Direito da USP.
“Não adianta ter um produto bárbaro num lugar horroroso. O centro agrega muito valor ao nosso produto. É um lugar bonito, com história, arquitetura e contexto. Mas, claro, também temos dificuldades. Há muitos moradores de rua. Estamos lutando para melhor a situação deles”, diz. “Alguns me acharam louca. Minha geração é alheia ao centro. Mas os mais velhos adoraram a idéia.”
No final do ano passado, os donos de vários bares da Vila Madalena decidiram levar ao centro antigo uma filial do Salve Jorge. A casa, montada num belo prédio diante da BM&F, vive cheia -à noite, mesas são montadas na praça em frente.
“Levei dois anos para achar este ponto. Mas, embora exista um projeto de revitalização, você ainda encontra muitos marreteiros na rua”, conta Wanderley Romano, 46, sócio do Salve Jorge. “Em qualquer lugar do mundo, o centro é o lugar bacana. Em São Paulo é diferente. Mas o centro é o nosso RG, pois tudo começou aqui. Fiz o meu papel. Tomara que outros empresários façam o mesmo.”
Por gostar da região, a enfermeira uruguaia Gladys Dias, 33, levou o filho, Aaron, 1, e a mãe, Maria Dellepiane, 52, para visitar o centro na última quinta. “Os edifícios velhos são lindos, tem a catedral… É bem diferente do Uruguai”, diz Gladys, há dois anos no Brasil.
Já o jornalista Valter Puga Júnior, 50, passou a freqüentar o lugar quando começou a trabalhar no prédio da BM&F. “Eu aprendi a gostar daqui. Antes tinha preconceito por haver uma imagem de deterioração”, diz. “O paulistano ainda não descobriu o centro.”