Café: estoque público no Brasil é o menor em 5 anos

Os estoques públicos de café no Brasil atingiram o menor nível dos últimos cinco anos durante o mês de novembro. O descompasso entre o crescimento gradativo do consumo mundial e a estagnação na produção colaboraram para a escassez dos grão e podem indicar preços mais elevados no próximo ano, na opinião de analistas. No entanto, eles alertam que os desdobramentos da crise global ainda devem prevalecer sobre os fundamentos positivos de oferta e procura.


O patamar dos indicadores é o mais baixo desde 2003, período em que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) passou a acompanhar os números no País. Conforme os últimos dados da estatal, neste mês, cerca de 168,4 mil sacas de 60 quilos estão com o governo. Esse volume é 37% menor que o de 2003, quando 289 mil sacas de café faziam parte dos estoques. Nos últimos dois anos, a quantidade de grãos em posse do governo não ultrapassou 180 mil sacas. O maior volume foi registrado em dezembro de 2003, quando 909 mil sacas estavam armazenadas. No mesmo período de 2007, esse número havia recuado 80%, para 180 mil sacas.


Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, conta que a situação foi agravada pela produção abaixo do consumo nos últimos anos. Segundo informações da consultoria, os estoques de passagem público e privado no último ano (2007/08) foram de apenas 1,5 milhão de sacas. Para este ano (2008/09), a expectativa é que fiquem em 5 milhões de sacas. “Mas esse número com certeza será usado para cobrir uma parte do consumo no próximo ano”. Em 2008, a Organização Internacional do café (OIC) estima o consumo brasileiro em 18 milhões de sacas e exportações de 28 milhões de sacas, números que equivalem a toda a produção deste ano no País.


“Os estoques caem no mundo inteiro desde 2006. Não é um fato isolado no Brasil”, acrescenta Sílvio Bianchi, analista da FCStone. Ele acredita que sejam necessários mais 2 milhões de sacas por ano na produção nacional para dar conta do aumento no consumo. “Como trata-se do maior produtor mundial da commodity, isso faz diferença”.


De acordo com o Departamento de Agricultura Americano (USDA), na safra 2007/08, os estoques atingiram 12,4 milhões de sacas, o menor patamar da história. Para 2008/09, a instituição prevê 17,2 milhões de sacas, explica Barabach. “Os fundamentos (oferta e procura) favorecem preços melhores, mas a crise deixa o cenário nebuloso”, completa. A OIC acredita que em 2008 o consumo mundial será de 128 milhões de sacas para uma produção de 131 milhões de sacas.


Bianchi lembra que estoques baixos não se traduzem em preços altos. “Oferta e demanda, seguidas por decisões políticas e clima possuem maior peso”, completa. Ele acredita que o produtor precisa se proteger no mercado futuro para evitar problemas com essas variáveis. Porém, avalia que a melhor expectativa em relação a preço mais remuneradores está nos cafés especiais, ainda que por enquanto essa categoria seja um nicho de mercado muito pequeno.


Barabach acredita que os preços da commodity ainda possuem espaço para reagir. Ele ressalta que a pressão causada pela venda da safra de grandes produtores como Vietnã e Colômbia ainda seguram os preços. “Depois que isso é diluído, pode haver espaço para alta”. As informações são de Roberto Tenório, da Gazeta Mercantil.
 

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