A forte desvalorização do real em relação ao dólar desde o último semestre de 2008 aumentou o potencial de receita do Brasil em relação aos principais concorrentes no mercado internacional. Conforme levantamento feito pelo Centro de Inteligência do café (CIC), países como Costa Rica, Guatemala e El Salvador, que investem pesado na promoção de cafés especiais, podem perder espaço em alguns países ricos por causa da recessão, o que favorece a procura por produtores de grandes volumes e que oferecem preços mais atrativos, como é o caso do Brasil.
Além disso, o estudo ainda prevê que a o custo em dólar dos fertilizantes recuem mais no Brasil por causa da estrutura de produção e logística empregada por aqui. No entanto, analistas lembram que antes da crise, a moeda brasileira teve forte valorização frente ao dólar americano. Já as moedas dos outros países não subiram na mesma intensidade. Com isso, os concorrentes ainda estariam em situação de igualdade no que diz respeito à renda obtida no mesmo período.
Mesmo assim, a moeda brasileira foi a que mais caiu em relação ao dólar. Segundo dados do Centro de Informações da Gazeta Mercantil, do último dia de junho até hoje, o real perdeu 47,9% em relação à moeda americana. Na Colômbia, segundo maior produtor e exportador em volume e grande concorrente do Brasil, o peso recuou 16,7%. A moeda de El Salvador nem apresentou variação no período. No mesmo período, o café negociado na Bolsa de Nova York recuou cerca de 24%.
Renato Fernandes, analista responsável pela execução do relatório para o CIC, explica que a vantagem brasileira está na grande produtividade em relação aos três países avaliados. Segundo disse, o forte trabalho de divulgação em torno da preservação ambiental é o ponto forte dos concorrentes e acirra a disputa no nicho dos especiais. “A Costa Rica possui o maior percentual da safra vendido como especial. Já a Guatemala tem os cafés mais famosos como é o caso do Antígua”, destaca.
Para Fernandes, o produto desses países consegue se destacar em relação ao café brasileiro por causa da menor área plantada. “É muito mais fácil organizar um número menor de produtores”, observa.
Mesmo com a crise instalada nos principais compradores de cafés especiais, Silvio Leite, da Agricafe, acredita que os investimentos nesse segmento não devem diminuir. Pioneiro na promoção de cafés especiais tanto no Brasil como no mundo desde 1999, ele afirma que o mercado japonês será o principal consumidor desse nicho nos próximos anos. “Eles (os japoneses) já cobriram toda a demanda deixada pelos americanos após a crise com muita sobra”, destaca.
O último leilão promovido pela Associação Brasileira de cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês) e pela Alliance for Coffee Excellence (ACE), cuja promoção também foi articulada por Leite, pagou em média US$ 6,13 pela libra-peso (0,45 quilos) dos cafés campeões de qualidade do Brasil. Os japoneses arremataram 18 dos 23 lotes. “O Japão arrematou a maior parte desses leilões no mundo. A crise pode diminuir o valor pago, porém sempre ficará em média de cinco a seis vezes acima do preço normal”
As informações partem da Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados, Roberto Tenório.
Fonte : café e Mercado