Brasil e Índia aumentam pressão sobre países ricos na OMC
Por Joaquín Rábago Londres, 3 dez (EFE).- As ofertas apresentadas hoje em Londres ao grupo dos países mais ricos (G7) pelo Brasil e pela Índia, apoiados pela China, sobre a liberalização dos mercados industriais e de serviços aumentam as pressões sobre a União Européia e EUA para a cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Hong Kong.
Como anfitrião da reunião do G7, o ministro das Finanças do Reino Unido, Gordon Brown, cujo país ocupa a dupla Presidência rotativa da UE e do G7. Ele agradeceu as propostas e convidou americanos e europeus a fazerem um esforço conjunto em matéria de liberalização agrícola, fundamental para o êxito ou o fracasso da rodada de Doha.
“Acho que é uma declaração muito importante a feita pelo Brasil, como feita pela Índia. Acho que os Estados Unidos estão também dispostos a responder”, disse Brown.
Perguntado pelas resistências francesas ao tema, Brown insistiu que todos os Governos participantes da reunião, inclusive a França, assinarão uma declaração que pede “impulso” para as negociações da rodada de Doha, em que a agricultura é chave.
O ministro da Fazenda do Brasil, Antonio Palocci, apresentou hoje a seus colegas a proposta brasileira de abrir o mercado de serviços à concorrência estrangeira e fazer concessões em produtos industriais caso Washington e Bruxelas aceitem fixar uma data para o fim dos subsídios agrícolas à exportação.
Em declarações aos jornalistas após a reunião de trabalho com colegas do G7, Palocci disse que a União Européia quer excluir da redução geral de tarifas itens que considera “sensíveis”, mas que são de especial interesse exportador para o Brasil, citando o café, o açúcar e o suco de laranja.
O ministro das Finanças da Índia, Palaniappan Chidambaram, reivindicou também uma data para a eliminação dos subsídios. Ele disse que seu país ofereceu um corte de 50% nas tarifas industriais e acrescentou que está disposto a chegar mais longe caso perceba reciprocidade entre os países ricos.
O ministro indiano destacou ainda que fez “uma série de ofertas” no setor dos serviços e disse esperar uma resposta para continuar avançando.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, elogiou, como fizera Brown, a “liderança” mostrada pelo Brasil e a Índia em apoio a uma boa conclusão da rodada de Doha. Ele incentivou a União Européia e o Japão a fazerem “propostas significativas” de abertura agrícola.
O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Joaquín Almunia, foi mais prudente nas declarações à imprensa. Ele apontou que não é em Londres, mas em Genebra, sede da OMC, que acontecerá a negociação. E acrescentou que seu colega europeu de Comércio, Peter Mandelson, tem “uma tarefa muito clara”.
Almunia lembrou que a UE efetuou a reforma do açúcar, que “era a grande reforma pendente”, e insistiu que “90% das ajudas à agricultura já não estão ligadas à produção”.
Sobre o caminho a seguir até a conferência ministerial da OMC em Hong Kong, que começa em 13 de dezembro, Brown informou sobre a iniciativa do presidente Lula de realizar uma reunião de cúpula entre o G7 e os cinco países emergentes do G5, anterior ao encontro na China.
O ministro britânico explicou que seu chefe de Governo, Tony Blair, já debateu esta iniciativa com Lula. O objetivo é salvar os últimos, mas importantes, obstáculos que ainda mantêm estagnadas as negociações.