O maior acesso dos produtos agrícolas de países desenvolvidos aos mercados agrícolas das nações ricas irá beneficiar apenas as grandes empresas de agribusiness, na avaliação do ativista francês José Bové, famoso por seus protestos anti-globalização.
“Países como Brasil e Argentina mentem quando dizem que estão lutando para ajudar os agricultores pobres. Eles lutam pelas grandes empresas de agribusiness”, disse Bové, em Hong Kong, onde participa da Sexta Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio.
Brasil e Argentina, parceiros no G20, defendem que as tarifas alfandegárias nos países desenvolvidos sejam reduzidas, em média, 54%.
Os Estados Unidos concordam e até oferecem um corte mais ousado, mas a União Européia propôs um corte médio de 39%.
Exportadores agrícolas competitivos, como o Brasil, seriam beneficiados com a possibilidade de maiores vendas em outros mercados.
Mas Bové reclama que isso pode prejudicar os pequenos agricultores.
“Se a sua produção é suficiente para atender a população, então por que comprar de outro país?”.
Bové ataca os subsídios à exportação e os subsídios domésticos que também são usados para estimular as vendas internacionais.
“Os subsídios à exportação têm que acabar. Não há dúvida. O problema é que a União Européia e os Estados Unidos têm outros tipos de subsídios à exportação, mas 80% dos subsídios que eles concedem vão para menos de 20% dos agricultores.”
Bové faz parte da organização La Via Campesina, que trouxe para Hong Kong 4 mil ativistas de vários países – incluindo membros do Movimento dos Sem-Terra (MST).
Brasil
Um estudo do Banco Mundial prevê que o Brasil poderia ganhar US$ 10 bilhões por ano até 2015, se os países da OMC chegassem a um acordo para eliminar subsídios agrícolas e outras barreiras comerciais.
Já um relatório da OCDE aponta ainda que a renda real cresceria entre 2% e 4% para os produtores agrícolas do Brasil, cerca de 3% para os trabalhadores rurais e aproximadamente 1% para a população urbana.
A organização afirma que os setores da agricultura brasileira que mais se beneficiariam com um acordo seriam os produtores de carnes, soja, milho, café, algodão, tabaco e alimentos processados.
Ambos estudos indicam, no entanto, que o aumento da exportação de produtos agrícolas pelo Brasil ajuda a reduzir a pobreza no país, mas tem efeito praticamente neutro na diminuição da desigualdade.
De acordo com relatório da OCDE, a pobreza em áreas rurais do país caiu de 72% em 1991 para 61% em 2000. Nos casos de extrema pobreza, a redução foi de 45% para 36% no mesmo período.