Novas técnicas para estocar produtos prometem
multiplicar ganhos dos agricultores. Hoje, o país consegue armazenar 121,66
milhões de toneladas, praticamente a mesma quantidade da produção agrícola. A
aposta é de que as tecnologias que estão sendo desenvolvidas para o campo
aumentem essa capacidade. É o caso do galpão de até 7 mil metros quadrados
(foto), criado especialmente para guardar açúcar.
Tecnologia no
estoque Novos armazéns e silos permitem armazenar safra por até um ano sem
comprometer qualidade do produto colhido
Karla
Mendes
Ricardo
Breda/Divulgação
No silo-bolsa, feito em
plástico comprimido, que reflete os raios solares, grãos não têm contato com
oxigênio
Novas técnicas de armazenagem de grãos
e produtos agrícolas podem se tornar verdadeiros aliados dos agricultores,
evitando perdas e permitindo aumentar ganhos nas vendas. Graças às tecnologias
empregadas nos novos armazéns e silos, é possível estocar a safra por período de
até um ano, sem perda de qualidade. O agricultor ainda ganha mobilidade para
armazenar a produção na própria fazenda e vendê-la na época que melhor lhe
convier, fugindo dos picos de superoferta no mercado.
Diversos produtos
estão sendo desenvolvidos para otimizar a armazenagem de produtos agrícolas, sem
dispensar o treinamento de pessoal para o manejo correto dos estoques. O Centro
Nacional de Treinamento em Armazenagem (Centreinar) e a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) acompanham de perto muitos projetos e dão seu aval às
técnicas testadas e aprovadas.
“Plantar e colher o produtor já sabe. Mas
se não houver investimento em qualidade de armazenamento, as perdas podem ser
extremamente relevantes”, alerta Daniel Marçal, coordenador-técnico do
Centreinar, que funciona no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em
Minas Gerais. “Se a estocagem não for feita da forma correta, o prejuízo pode
chegar a 50%, além da perda de qualidade e risco de contaminação”, afirma.
Um dos produtos testados e aprovados pelo Centreinar é o silo-bolsa
Silox, da Du Pont do Brasil, alternativa à falta de silos para armazenagem de
safras de grãos no Brasil que promete significativa redução de custos, ao preço
de R$ 0,60 por saca. A capacidade do silo-bolsa é de 3 mil sacas. Verônica
Gaviolle, gerente de Produto da Du Pont, explica que o silo-bolsa é feito em
plástico comprimido, com três camadas de dióxido de titânio, que refletem os
raios solares e garantem as propriedades dos grãos armazenados por até 360 dias.
“Como é um sistema hermeticamente fechado, a temperatura e umidade do
início é a mesma do final, garantindo a qualidade do produto durante o período
de armazenagem”, destaca. Ela explica que essa é a principal diferença do silo
fixo para o móvel, pois, como não há contato do oxigênio com o produto,
praticamente não há perda de massa, pois ela é reduzida para 0,3% a 0,5%. Outra
vantagem em relação ao método tradicional é a segregação de grãos, que podem ser
vendidos por seu preço real, o que é impossível fazer no silo fixo, segundo
Verônica. “Devemos chegar a 7 mil bolsas este ano, contra 4 mil no ano passado.
Mas o potencial do Brasil é muito grande, pois a Argentina, que tem produção
agrícola muito menor, usou 130 mil bolsas na safra passada”, diz.
Apostando também na mobilidade e na redução de custos, a Sansuy, em
parceria com a Belgo Bekaert, lançou o Vinisilo, silo móvel para armazenagem de
grãos. Trata-se de um silo feito de lona de PVC reforçada com tecido de
poliéster, com estrutura metálica, com capacidade para 35 toneladas de café e de
100 toneladas a 300 toneladas de outros grãos. Uma das vantagens é o menor custo
em relação aos silos convencionais que usam chapas ou concreto e a facilidade de
transporte e de instalação, além de dispensar o uso dos pisos de concreto,
madeira e dos impermeabilizantes químicos empregados na construção civil.
“O diferencial é que esse silo é feito de plástico e fácil de montar.
Assim, o produtor poderá armazenar e vender a produção na melhor época para
ele”, ressalta Carlos Otsubo, gerente de Agronegócio da Sansuy. O produto, que
está em fase final de testes no Centreinar, é vendido por preço médio de R$ 21
mil para 100 toneladas.
Produção empata com armazenagem
Carlos
Otsubo/Divulgação
Silo feito de lona de PVC é
mais barato que os convencionais
Apesar de a
capacidade estática de armazenagem no Brasil ter crescido significativamente,
saltando de 87,83 milhões de toneladas em 2000 para 121,66 milhões de toneladas
no ano passado, o setor ainda tem muitos desafios pela frente. “Nossa capacidade
de armazenagem, hoje, é praticamente igual à nossa produção, o que não quer
dizer que o problema esteja totalmente resolvido”, observa Pedro Beskow, diretor
de Gestão de Estoques da Companha Nacional de Abastecimento (Conab). “É
necessário ter folga entre produção e espaço para armazenar os grãos que, muitas
vezes, não podem se misturar. Por isso, acreditamos que o mais adequado é ter
uma capacidade 20% acima da produção”, ressalta.
Beskow observa que a
distribuição das unidades armazenadoras não é homogênea. “Algumas regiões têm
capacidade bem menor que outras. É preciso minimizar esse problema”, diz. Outro
desafio, segundo ele, é aumentar o fluxo e recebimento, secagem e limpeza da
produção para reduzir as perdas durante a estocagem. Para isso, é preciso ter o
avanço tecnológico e treinamento de pessoal como aliados. Está em consulta
pública no Ministério da Agricultura o Sistema Nacional de Certificação de
Unidades Armazenadoras, que impõe uma série de requisitos para os prestadores de
serviços, como capacitação de pessoal, aprimoramento técnico, mapa de registros
e monitoramento de resíduos e microtoxinas.
Divulgação/Conab
Nos últimos seis anos,
estoques agrícolas aumentaram 40% no país
Para
Célio Gomes Floriani, diretor-presidente da Companhia de Armazéns e Silos do
Estado de Minas Gerais (Casemg), como as perdas de armazenamento, em geral, são
reduzidas, o grande desafio para o agronegócio ser mais competitivo não é a
capacidade estática dos armazéns, mas o sistema de transporte da produção. “É
preciso melhorar a infra-estrutura de transporte de rodovias e ferrovias para
escoar a produção. No Brasil, a modalidade mais indicada seria a ferroviária,
pois como a produção agrícola se concentra no interior do país, a distância
média ultrapassa mil quilômetros”, destaca. “Hoje temos boas tecnologias de
armazenagem, mas é preciso garantir qualidade do produto que foi entregue”, diz.
Segundo a Conab, a safra brasileira 2005/2006 foi de 120 milhões de
toneladas e, como as projeções indicam que o Brasil continuará ampliando sua
produção, atingirá, em 2010, mais de 150 milhões de toneladas. A área cultivada
manteve-se praticamente do mesmo tamanho nos últimos 31 anos, ocupando cerca de
40 milhões de hectares, ou 4,7% dos 851,1 milhões de hectares do território
brasileiro. Isso ocorreu, segundo Floriani, devido a ganhos de produtividade, ao
cultivo de mais de uma safra, na mesma área, por ano agrícola, e à competência
dos produtores e pesquisadores brasileiros. (KM)
“Se a estocagem não
for feita da forma correta, o prejuízo pode chegar a 50%, além do risco de
contaminação” – Daniel Marçal, coordenador-técnico do Centreinar