Fernando Lopes e ônica Scaramuzzo, de São Paulo
27/02/09 – A desaceleração econômica global e seus efeitos sobre a demanda de países ricos e emergentes voltaram a derrubar as cotações internacionais da maioria das commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior em fevereiro.
Nas bolsas de Chicago e Nova York, a difícil conjuntura global também pressionou os mercados em janeiro, mas movimentos de recomposições de estoques e notícias “baixistas” do lado da oferta de alguns produtos garantiram uma alta generalizada em relação aos baixos patamares de preços de dezembro.
Em fevereiro (balanço fechado no dia 26), cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas duas bolsas mostram que apenas açúcar e cacau, movimentados em Nova York, voltaram a subir. Segundo esse critério, café, suco de laranja e algodão, também negociados em Nova York, e soja, milho e trigo, em Chicago, recuaram.
Diante das incertezas alimentadas pela crise, analistas divergem sobre as tendências para o comportamento dos preços em março.
Entre os que acreditam que as cotações poderão encontrar maior sustentação está Michael McDougall, vice-presidente da corretora Newedge, com sede em Nova York, que enxerga na recuperação da gasolina, puxada pelo petróleo, um sinal positivo para quem aposta em valorização dos produtos agrícolas, principalmente os de Nova York.
“A gasolina é a commodity que mais se valorizou no ano [em relação a 31 de dezembro de 2008, o aumento é de 23%], seguida pela prata [elevação de 15,5% segundo o mesmo critério] e pelo açúcar [15,3% mais que em 31 de dezembro]”, disse Rodrigo Costa, também da Newedge.
Mais pessimista, Paulo Molinari, da Safras&Mercado em Curitiba (PR), vê a recente alta do petróleo como pontual, já que a demanda pelos derivados da commodity recuou, e projeta “forte pressão baixista” em março, por conta das debilidades econômicas globais.
Ligadas a essa conjuntura – e, particularmente, às reações aos pacotes econômicos americanos -, as oscilações do dólar serão, como sempre, boas referências para o comportamento dos preços. Um dólar mais forte tira suporte das cotações das commodities negociadas no mercado internacional, ao passo que qualquer fraqueza da moeda ajuda a sustentá-las.
De qualquer forma, fevereiro provou, mais uma vez, que os fundamentos estão de volta em detrimento a movimentos puramente especulativos. E isso tanto pelo lado da demanda quanto pela oferta de produtos disponíveis no mercado.
Para o açúcar, o resultado desse embate foi um preço médio 5,28% maior em fevereiro do que em janeiro em Nova York. A perspectiva de déficit na produção mundial, por conta da redução drástica da oferta na Índia, tem se mostrado um poderoso sustentáculo.
Conforme Rodrigo Costa, a recente recuperação da gasolina no mercado internacional também favorece o uso do etanol como combustível, e se a situação perdurar pode levar o Brasil, por exemplo, a produzir mais álcool do que açúcar, impulsionando as cotações do último.
O cacau também fechou fevereiro com preços médios mais elevados (1,05%) em Nova York, embora a pressão “baixista” tenha aumentado. “O quadro fundamental permanece moderadamente altista porque a previsão é de déficit na produção mundial”, disse Thomas Hartmann, da consultoria TH, de Salvador (BA). Porém, o consumo começou a recuar em países como os EUA. “A alta dos preços vai depender do balanço do mercado financeiro”.
No caso do café, cuja oferta mantêm-se restrita, o temor com os efeitos da crise mundial falaram mais alto e o preço médio recuou 1,95% em fevereiro em Nova York. “As perspectivas de baixo consumo pressionaram as cotações”, afirmou Rodrigo Costa. Mas, segundo ele, a demanda por cafés colombianos mais finos continua firme e a produção brasileira menor na safra 2009/10 também ajuda a sustentar os preços.
Ainda no mercado nova-iorquino, a demanda fraca também derrubou as cotações médias do algodão e do suco de laranja em fevereiro, como mostra o Valor Data.
No mercado de suco de laranja, há anos com demanda global relativamente estável, os temores de problemas climáticos na Flórida (que reúne o segundo maior parque citrícola do planeta, atrás de São Paulo) não se confirmaram e a cotações média recuou 6,85%.
No caso do algodão, que caiu 5,42%, a soja também ajudou a puxar a queda, conforme Michael McDougall. “Em época de escassez de crédito e baixa demanda, produtos como algodão sentem esse efeito negativo sobre os preços”. Do lado da oferta, a expectativa de área plantada menor nos EUA na próxima safra (2009/10) tende a oferecer alguma sustentação.
Em Chicago, aponta Paulo Molinari, o grande suporte de janeiro, que foi a seca na América do Sul (sobretudo na Argentina e no sul do Brasil) perdeu força em fevereiro e ajudou a derrubar soja, milho e trigo. “Em outra situação econômica mundial, os efeitos desse problema climático talvez se alongassem por causa das quebras de produção confirmadas na Argentina e no Brasil. Mas as incertezas do lado da demanda não permitiram isso”.
Dos três produtos, o que mais caiu na comparação entre as cotações médias de fevereiro e janeiro foi o trigo (8,9%). O milho recuou 7,37% e a soja, a mais ajudada pela seca sul-americana em janeiro, perdeu 6,28% de seu valor.