A SURPREENDENTE RECUPERAÇÃO DA CAFEICULTURA BRASILEIRA – Prof. José Donizeti Alves / Universidade Federal de Lavras

Por: Rede Social do Café

A SURPREENDENTE RECUPERAÇÃO DA CAFEICULTURA BRASILEIRA – Prof. José Donizeti Alves / Universidade Federal de Lavras


 


Em 21/01/2015 publicamos um texto na rede Social do Café (RSC) intitulado “O raio cai duas vezes no mesmo lugar” onde dizíamos que – o calor e a seca do início do ano passado novamente estão presentes e como tal, irão afetar, da mesma maneira que afetou a safra de 2014, a safra de 2015. Terminamos o texto destacando que – a safra de arábica em 2015 iria bater na casa dos 28 milhões de sacas e que chuvas regulares nos próximos meses teriam a capacidade de reverter, em parte, os prejuízos, pelos seus efeitos positivos no rendimento -.


Em 05/02/2015, publicamos outro texto na RSC onde destacamos que – as chuvas que voltaram no final de janeiro foram muito úteis no arrefecimento da temperatura e foi muito importante para estancar a formação de sementes mal desenvolvidas. Externamente pode-se notar que em várias lavouras as folhas do cafeeiro recuperaram a coloração verde intensa e o vigor vegetativo. Portanto, pensamos que, se as chuvas se estenderem para os meses de fevereiro e março, as altas temperaturas sofrerão uma trégua e a probabilidade que se repita a alta percentagem de grãos chochos e pequena -.


A partir daí o que se viu e que as chuvas voltaram paulatinamente e segundo essa mesma RSC, “nos três primeiros meses deste ano na região de Varginha, choveu 425 milímetros na região, mais do que o dobro do mesmo período de 2014. Foram 225 milímetros só em março, bem acima da média histórica para o mês, de 168 milímetros”.


Diante desse novo cenário, que em meados de fevereiro chamamos de otimista, assinalamos que a produção de café neste ano seria a mesma do ano passado, considerando que os efeitos da seca de 2014 não se somariam aos deste ano. Daí a estabilidade da safra.


Hoje, vemos que em razão do arrefecimento da temperatura e com a volta das chuvas em volume muito acima do esperado e estendendo-se além daquilo que normalmente era esperado, houve uma surpreendente recuperação da cafeicultura brasileira traduzindo-se em lavouras com bom aspecto vegetativo e na perspectiva de uma boa safra este ano.


Normalmente, a partir da segunda quinzena de março as chuvas cessam, a temperatura e luminosidade caem paralisando o metabolismo das folhas e o transporte de energia para os frutos e ramos. Neste caso o que se nota é que os ramos e frutos param de crescer e o cafeeiro entra em repouso com a retomada do crescimento somente a em setembro. Dos três fatores do clima, – água, luz e temperatura -, os dois últimos se constituem causas primarias do repouso vegetativo da parte-aérea do cafeeiro entre os meses de março a agosto.


O que se nota, entretanto e felizmente, é que os três fatores em conjunto estão presentes desde final de janeiro até os dias atuais. Isso implica em dizer que o cafeeiro se valeu de um clima favorável nos últimos três meses e desse modo, houve uma fantástica recuperação do metabolismo nas folhas o que favoreceu o transporte de energia para os frutos e ramos. Daí hoje em dias o que se vê são lavouras com bom aspecto vegetativo e reprodutivo. Dentro da normalidade, esse favorecimento, como se disse anteriormente, deveria ter cessado na segunda quinzena de março e não foi o que aconteceu, ele continuou. Em síntese, o que faltou em termos de boas condições climáticas no inicio do ano, foi compensado e com juros até hoje, 21/04/2015, e pelo andar da carruagem vai se prolongar ainda por um bom período, favorecendo mais ainda a granação, o crescimento dos ramos e raízes e o enfolhamento. 


Existem espécies, principalmente as perenes que, após período de seca, têm rápida retomada do crescimento por ocasião do restabelecimento da umidade do solo e da temperatura do ar e isso não é novidade na área da fisiologia vegetal. O desenvolvimento do sistema radicular (arquitetura, morfologia, distribuição e dinâmica de crescimento) é um dos fatores determinantes dessa recuperação. O que se explica é que a condição de seca dificultou a manutenção e o crescimento nas camadas mais superficiais e resultou em um sistema mais profundo se comparado ao desenvolvimento numa condição de boa disponibilidade hídrica (Vasconcelos e Miranda, 2011). A influência desses fatores ambientais atuando sobre o desenvolvimento radicular acabou, por fim, interferindo no desenvolvimento da parte aérea do cafeeiro. Esta é uma ótima oportunidade para os melhoristas selecionarem genótipos tolerantes a seca e para os extensionistas e técnicos em geral identificarem lavouras que se saíram bem com esse ciclo de estresse e recuperação na hora de decidirem qual variedade de café irão plantar nessas áreas sujeitas a seca e altas temperaturas. Por outro lado, para não me alongar mais nesse texto, em outra ocasião explicarei as bases fisiológicas dessa fantástica recuperação da lavoura cafeeira após um longo período de estresse de calor e seca.


Com a melhoria das condições do clima, foi possível retomar os tratos culturais e esses devem ter continuidade, até que haja água e temperatura favoráveis como as atuais. Com a chegada do frio, pode-se optar por uma adubação nitrogenada de inverno, desde que a umidade do solo esteja adequada. Essa prática, conforme tese orientada pelo Prof. Rena e co-orientada por mim,  garantirá uma retoma do crescimento da parte aérea no início da primavera e beneficiará a próxima safra.

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