A sorte de um pé de café

16 de dezembro de 2008 | Sem comentários Especiais Mais Café

 Jasson Ferreira Lima
(15/12/2008 23:47)


 
O acaso apronta muita ação louvável. Dizem que Deus protege os desprotegidos, e quando tudo falta, o homem de fé diz que Deus proverá; e assim vale pra toda a natureza, se ela foi obra da criação, nas mãos do criador ela está. Há certas situações em que só o inefável pode encontrar a solução ou destinação. Vejam a parábola evangélica dos lírios dos campos, no seu estado natural eles se sobrepõem à beleza das vestes do rei Salomão; da mesma forma as aves do céu que não têm onde morar e nem reservas, a viver em total liberdade, e com a divina providência delas a cuidar.


Em pior situação do que os lírios dos campos e as aves do céu estava aquele pé de café murcho e quase sem folhas, abandonado no quintal de uma senhora a espera do carro do lixo passar para ser jogado fora. Isso seria o destino natural da pobre plantinha; porém, a visita repentina de uma amiga fez tudo tomar outro rumo. E esta com aquela intuição feminina e olhos que enxergam tudo, perguntou a sua amiga que plantinha murcha era aquela no canto do muro, e a mesma respondeu que se tratava de um pé de café.
– Um pé de café?! Olha que interessante!
– Isso mesmo, é o que você está vendo, e do jeito que ele está só serve mesmo pro lixo.
– Pro lixo não! Eu vou levá-lo comigo, ele ainda tem o olho vivo – disse a amiga com certa compaixão. E a dona da casa assim respondeu:
– É todo seu. Pra mim esta planta é um caso perdido.
Falava isso enquanto servia-lhe uma chícara de café, e em seguida foram pro jardim fumar um cigarro e parlamentar um pouco.


E conversa de mulher é interminável; mas ao despedir-se, a jovem mulher não esqueceu de pegar seu pé de café a bom tempo. E ao cruzar a esquina o caminhão do lixo já dava o ar da graça. Ela andou todo o quarteirão segurando a planta no braço como se fosse um bichinho de estimação. Ao vê-la naquele momento seguindo com o seu presente, qualquer um que tomasse conhecimento da simples cordialidade que recebeu e do seu instinto de salvamento para com a plantinha decrépita, pode imaginar que impulsos de proteção e amor nascem por vezes na alma feminina em determinadas situações. Eu não tenho dúvidas de que a mulher, além de mãe da vida e cultuadora do belo, nos ajudará doravante a soerguermos de nossas mazelas. Porque esse seu lado, tem a capacidade de enxergar o sutil na beleza quase invisível, e seu coração e sua intuição são a certeza de que nem tudo está perdido, porque o olhar feminino há de nos resgatar das nossas arrogâncias e indiferenças. Até nossa mãe terra, o planeta que agoniza, recorrerá a ela, mãe da raça humana.


A senhora ao chegar em casa plantou o pé de café no canto do jardim. Recantuado e sem vida o cafeeiro um dia em seu novo lar surpreendeu com folhas novas e pôs-se a crescer. Foi crescendo com gosto atingindo já a altura do telhado. Sua nova dona conversa com ele como se tivesse sendo ouvida. Sua floração foi fértil e agora ele estar carregado de frutos. Também virou abrigo matinal de todos os passarinhos da redondeza, que aproveitam pra matar a sede no cimento molhado em baixo de suas folhagens. A festa dos passarinhos já virou uma atração para família. As pessoas admiradas pela planta fazem perguntas, tipo: que planta é essa? E a dona responde, é um pé de café. E aí, ficam curiosas e pedem uma muda. Algumas mudas foram tiradas e já há por aí filhotes seus espalhados por alguns jardins. Eu quando estive em sua residência disse-lhe que um cafeeiro representa prosperidade, pois foi nos cafezais que São Paulo encontrou sua riqueza; e era o que eu lhe desejava neste final de ano, muita prosperidade. A dona da casa ficou um pouco reflexiva, em seguida abre seu coração e diz que admira a força vital que esta planta teve pra sobreviver; e carinhosamente, lhe chama de um filho abandonado.

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