Os últimos suspiros do Circo Garcia
01/08/2008 05:08:15 – Jornal da Tarde – SP
Muita gente já fez previsões catastróficas sobre o futuro da arte circense, mas foi a fotógrafa Fernanda Prado quem presenciou e registrou a agonia de um tradicional circo, o Garcia. Dessa experiência nasceu a exposição Vida de Circo, que está em cartaz no café Suplicy (Alameda Lorena, 1.430, Jardins).
Em 2001, quando Fernanda teve de decidir sobre o que seria seu trabalho de conclusão da faculdade de Jornalismo, uma lembrança de infância ficou martelando em sua cabeça. “Eu não tinha ido muitas vezes ao circo. Mas eu me lembrava, com nitidez, de correr embaixo de uma arquibancada improvisada de um desses circos pequenos. Era uma lembrança muito viva.”
Fernanda procurou o Circo Garcia para realizar sua pesquisa. “Eles receberam bem a idéia e abriram todas as portas para mim. Tive liberdade para fotografar tudo. Acompanhei o grupo por um ano. Viajava todo final de semana para a cidade do Interior de São Paulo em que eles estivessem”, relata.
A fotógrafa decidiu registrar em preto e branco o que fosse bastidores da vida circense e em cores as apresentações no tablado. “A idéia era separar a realidade da fantasia. Mas fui descobrindo que as duas coisas se misturavam.”
Fernanda registrou momentos curiosos da rotina circense. “Tinha um chimpanzé tratado com leite em pó, que usava fraldas e dormia em um bercinho. Flagrei crianças de circo brincando com um Playmobil de circo embaixo de um trailer. Lembro também de um mágico que não deixava eu tirar fotos muito de perto. Ele tinha medo de que eu revelasse seus truques”, lembra.
Depois de um ano envolvida com aquele mundo, Fernanda recebeu a notícia de que o Circo Garcia iria acabar. “Foi muito triste. Manter uma estrutura de um circo não é barato. O grupo era o maior do Brasil, mas não conseguia pagar uma dívida de R$ 1 milhão.”
No café Suplicy, está exposta apenas uma pequena amostra desse trabalho. “Minha idéia é publicar um livro com todo o material. A história do circo no Brasil é muito fragmentada. Tem muita coisa para ser contada ainda”, analisa Fernanda Prado.