Falta de chuva e calor excessivo no café: Pelo menos 50% das floradas que já abriram não devem vingar, diz pesquisador da UFLA
11/09/2020 Assim como vem sendo observado no sul de Minas Gerais, as condições das lavouras de café no Cerrado Mineiro também gera muita preocupação para o produtor local. Após terminar uma colheita volumosa e de muita qualidade, a nova safra já começa com potencial de perda de produtividade, consequência da falta de chuva e das altas temperaturas.
Marcelo Barbosa, produtor de café em Campos Altos/MG, afirma que “a situação é de calamidade e que o setor ainda não entendeu a gravidade do problema”. Segundo Barbosa, não chove de maneira expressiva na região desde março e a última precipitação na sua lavoura foi há duas semanas, mas com acumulado de apenas 7 mm.
“Posso te dizer com toda certeza que nossa produção vai ser muito inferior que em 2019”, comenta. Complementa ainda que na safra passada a colheita não ultrapassou 10 sacas por hectare. Os números chamam atenção, tendo em vista que para a safra 2020, o produtor atingiu uma média de 60 sacas por hactare.
“O mercado ainda não entendeu a calamidade que estamos passando e o que está por vir caso não volte a chover. É importante lembrar que o Brasil não tem mais estoques de café e a situação é muito séria”, afirma Marcelo. Nos últimos dias as condições do clima devolveram volatilidade ao mercado de café, com negociações acima dos 130 centavos por libra-peso na Bolsa de Nova York (ICE Future US), mas também finalizou uma sessão com valores abaixo de 130.
A última chuva, em Agosto, não aliviou as condições do solo, mas foi suficiente para abertura de florada em diversas regiões do estado mineiro. De acordo com José Donizeti Alves, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFL), a florada abriu entre 20 e 30% da área de produção de café de Minas Gerais. Deste montante, devido às condições climáticas, pelo menos 50% não deve ter um pegamento de florada satisfatório para a próxima produção.
“O Inverno foi muito seco e com temperatura muito elevada. Tivemos essa chuva que abriu a florada e a dúvida agora é saber se vai ter o pegamento ideal. As previsões nos indicam chuvas apenas no dia 30 de setembro e pode ser muito tarde”, comenta o pesquisador.
Destaca ainda que as condições são graves tanto para as lavouras com irrigação e para os produtores que ainda produzem em sequeiro. “Depois que a flor abriu, durante os próximos 15/20 dias nós precisamos de umidade e temperaturas mais amenas, o que não está acontecendo”, complementa.
Para os produtores que não trabalham com irrigação a preocupação é dupla, tendo em vista que não há formas para lidar nem com a umidade do solo e nem com o calor excessivo. Caso as previsões se confirmem, o tempo neste final de semana pode agravar a situação. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu durante esta semana um alerta laranja de onda de calor para todo o Sudeste brasileiro, onde as temperaturas podem ficar 5 graus acima da média esperada.
“Infelizmente não há nada o que o produtor possa fazer para minimizar esses problemas agora. Claro que as lavouras bem nutridas e que tiveram os tratos no pós colheita vão sentir menos o impacto. Mas também me preocupa lá na frente, quando o fruto começar a crescer e quando chegar em outubro e novembro, não haverá enchimento de grão”, complementa.
Alta Mogiana também enfrenta problemas
Segundo dados avaliados pela Fundação Procafé, localizada em Varginha, o produtor de Minas Gerais e da Alta Mogiana conta hoje com um baixo volume de água no solo, apesar de chuvas volumosas registradas em fevereiro. “O normal pra gente é chover 200 mm e neste ano choveu 500 mm em fevereiro e a partir de março as chuvas começaram a reduzir”, comenta Rodrigo Naves Paiva, engenheiro agrônomo do Procafé.
Em Varginha/MG, o déficit hídrico já é de 100 mm, Araguarí/MG já tem déficit de 155 mm e Franca/SP já registra déficit hídrico de 155 milímetros de precipitação. Vale lembrar que os dados são coletados em estações meteorológicas do próprio Procafé. “O défict está acentuado pro período e de maneira bem generalizada em toda a região do parque cafeeiro”, comenta.
Fonte: Notícias Agrícolas