A Universidade Federal de Lavras (UFLA) comunica e lamenta o falecimento do professor emérito Alfredo Scheid Lopes.
O falecimento ocorreu no sábado (23/5/2020) e o sepultamento ocorrerá neste domingo (24/5/2020), às 10h, com cerimônia reservada apenas a familiares próximos. O professor, que atuou no Departamento de Ciência do Solo (DCS), foi vítima de um câncer diagnosticado já em estado avançado.
Alfredo ingressou no quadro de servidores da UFLA em 1962 e aposentou-se em 1990. Realizou o estudo pioneiro em solos do Cerrado brasileiro, nos anos de 1970, que permitiu o aumento da produção agrícola e é considerado uma das maiores conquistas agrícolas do século 20. A constatação de que era possível e necessário o estabelecimento de estratégias de manejo da fertilidade dos solos no bioma “Cerrado”, para torná-los produtivos, veio durante o mestrado em Ciências do Solo, na Universidade da Carolina do Norte (EUA).
Para chegar a essa conclusão, o jovem professor havia percorrido uma área de mais de 600 mil quilômetros quadrados de solos sob vegetação de cerrado, avaliando 518 amostras, em um estudo completo que ficou conhecido pelo pioneirismo na verificação do grau de “infertilidade” dos solos dessa região. O estudo teve continuidade e aprofundamento durante o doutorado, de 1975 a 1977, na mesma universidade americana, com o resultado publicado em periódicos nacionais e internacionais de referência na época.
Em 2017, quando estava próximo de completar 80 anos, o professor deu entrevista para a seção “Amor pela UFLA”, do Jornal UFLA, pela qual se resume um pouco de sua trajetória: Engenheiro agrônomo, graduado na Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL) em 1961, Alfredão, como era conhecido, foi uma representação das memórias da Universidade.
Logo após a formatura, em 1962, tornou-se docente, fazendo sua carreira em Fertilidade e Manejo de Solos, área na qual desenvolveu mais de cem trabalhos e é referência, tendo recebido dezenas de prêmios e títulos em todo o mundo. Um deles concedido pela UFLA: o de professor emérito da Universidade desde 1993.
Sua contribuição ao desenvolvimento da instituição extrapolou a docência, pois foi personagem importante também na conquista de convênios e recursos. Ao longo dos mais de 60 anos de história com a UFLA, só esteve longe do câmpus por dois momentos: para realizar o mestrado e o Ph.D nos EUA, e quando foi cedido para ser diretor técnico da Associação Nacional de Difusão de Adubos (Anda), em São Paulo.
Entre as histórias mais marcantes vividas pelo professor, está a da federalização da ESAL, efetivada em 1963. Na época, a Escola sofreu a ameaça de ser fechada por emissários do Governo Federal, coordenados pelo assessor do MEC Eudes de Souza Leão Pinto. Após uma série de reuniões com docentes, servidores e autoridades lavrenses, a comitiva mudou de ideia e decidiu pelo não fechamento da Escola, defendendo medidas para transformá-la em instituição federal.
De acordo com Alfredo, esse processo não foi fácil e afetou o funcionamento da Escola. “Quando os trâmites tiveram início, éramos 19 professores e 35 funcionários para atender 120 alunos. Durante dois anos nós tivemos que trabalhar sem receber salário algum para que ela não fosse fechada. O que fizemos foi realmente por muito amor à ESAL”, contou o professor.
Mesmo aposentado, continuou ativo e realizando trabalhos importantes na área. Em 2016, foi convidado pela renomada revista Advances in Agronomy para fazer uma releitura de sua tese de mestrado, desenvolvida há 40 anos, quando estudou na Universidade da Carolina do Norte (EUA). Em 2017, traduziu dois livros da área e lançou a quarta edição do Guia de Fertilidade do Solo – a primeira versão data de 1992, ainda em sistema DOS.
Toda a sua produção científica está disponibilizada em um site (www.alfredao.com.br), no qual também apresenta seus hobbies, como música e artesanato, conquistas no esporte e histórias curiosas que se divertia ao contar. É o caso do dia em que enfrentou o jogador Pelé, em 1957, pelo Fabril Esporte Clube de Lavras, história que, em janeiro deste ano, foi relatada no Programa Globo Esporte MG. “Era a primeira vez que o Pelé jogava pelo Santos em Minas Gerais. Perdemos de 7 a 2, com quatro gols do Pelé. Meus amigos me perguntam se eu ainda estou procurando o jogador. Mas pelo menos consegui fazer os dois gols do meu time”.
Mesmo sem vínculo formal com a instituição, Alfredão era sempre encontrado na UFLA, no DCS, traduzindo artigos, esclarecendo dúvidas e motivando os alunos. Sobre sua missão na Universidade, foi categórico: “Quando me aposentei há 24 anos, senti que ainda tinha condições de produzir e ser útil nas coisas em que acredito, como a formação dos acadêmicos. Às vezes, em uma conversa com o aluno, esclareço uma dúvida e consigo motivá-lo a seguir em frente. A UFLA é para mim um grande amor à primeira vista, que só se perpetuou”.
Durante as comemorações pelos 111 anos da UFLA, Alfredão contribuiu na série de vídeos “Memórias UFLA”. Assista: https://youtu.be/GSnnKl8jHrU.
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