CNC: Brasil pode contestar ajuda de importadores a produtores ineficientes

Ao que tudo indica, estão querendo premiar a ineficiência, aqueles que produzem de oito a 10 sacas de grãos por hectare e, por isso, são incompetentes”

24 de setembro de 2019 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: Agência Estado / Célia Froufe

24/09/2019 – O Brasil não vai aceitar pacificamente que importadores premiem a baixa produtividade de países produtores, disse ontem ao Broadcast o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro. Fórum sobre o setor que ocorre em Londres, e que conta com a presença de Silas Brasileiro, prevê a assinatura de uma declaração dos principais importadores para fomentar a atividade em países que têm sofrido com a crise dos preços da commodity.

“Ao que tudo indica, estão querendo premiar a ineficiência, aqueles que produzem de oito a 10 sacas de grãos por hectare e, por isso, são incompetentes”, criticou o presidente da CNC, acrescentando que a média brasileira é de 33 sacas por hectare. A Organização Internacional do Café (OIC) realiza o seminário, que, pela primeira vez, traz para uma atividade da instituição a participação de grande números de representantes do setor privado, além de porta-vozes de governos.

Para Brasileiro, o benefício ao cafeicultor ineficiente vai na direção contrária de valorizar quem tem investido para melhorar sua atividade. “Vamos aguardar o documento e vai chegar a hora em que vamos contestar. Vamos nos manifestar sobre o documento, que trará mais detalhes”, considerou. Uma prévia da declaração dos importadores já está disponível, mas apresenta apenas um esboço genérico das intenções, sem dados práticos. “Aquele documento que está aí não diz nada”, resumiu. “Se vier algo mais agressivo, não aceitaremos”, acrescentou.

O peso do voto do Brasil na OIC é o maior do lado dos países produtores. “Uma resolução assim (que premia a ineficiência), não passa”, garantiu. O maior comprador de café do Brasil hoje e o segundo maior consumidor mundial são os Estados Unidos, que se desligaram da entidade no ano passado. Há expectativa de que os americanos voltem a fazer parte da OIC.

A respeito do impacto da crise de preços sobre players menores – o Brasil é o maior produtor e exportador da commodity -, Brasileiro avaliou que se trata de uma consequência pela falta de investimentos no setor. “Lógico que estão com dificuldades”, considerou. Ele enfatizou que nos últimos 20 anos o Brasil investiu R$ 200 milhões em pesquisa – cerca de US$ 80 milhões, considerando as cotações da moeda desde então.

O presidente da CNC salientou que, por conta dessa e outras iniciativas, o Brasil aumentou sua produtividade – também colhia cerca de oito sacas por hectare há duas décadas – e, com isso, conseguiu diminuir os custos. “Hoje, não há diferença percebida durante degustação de um café do Brasil ou da Colômbia”, comparou. Durante o evento, um representante do governo de Honduras disse que o país passa por problemas econômicos e sociais e que não pode dar apoio a produtores porque precisa destinar recursos para Educação, por exemplo. “Em março, o Brasil apresentou na reunião em Nairóbi um projeto de acordo de cavalheiros para não expansão de áreas novas – e eles (demais produtores de menor porte) não aceitaram. O que se quer é subsídio do governo. Não querem produzir.”

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