Produção recorde já derruba preços do café

Perspectiva de alta de 30% na colheita brasileira reduziu o valor da saca em 22%

27 de fevereiro de 2018 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Marcelo Toledo | Folha de São Paulo

25. fev. 2018 às 2h00


GUAXUPÉ
A produção de café vai bater recorde no Brasil este ano, mas o preço pode estagnar a remuneração do produtor.


O assunto foi um dos mais discutidos entre visitantes da Femagri (Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas), que terminou na sexta (23), em Guaxupé (MG).


A Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), organizadora da feira, estima que o volume de café recebido suba de 3,6 milhões de sacas (60 kg) da safra passada para 4,6 milhões, de um total produzido pelos cooperados de 6,5 milhões de sacas —ele não é obrigado a entregar a produção para a cooperativa.


“Apesar de a previsão ser de uma boa safra, a maior alta é no conilon. O café arábica terá aumento pequeno”, disse Carlos Paulino, presidente da cooperativa.


Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra de café em 2018 deve ficar entre 54,4 milhões e 58,5 milhões de sacas, alta que pode chegar a 30,1%.


O crescimento se explica pela bienalidade da cultura —num ano produz-se muito, e no outro, menos—, pelo clima favorável e pelo uso de mais tecnologia no campo.


O arábica é o predominante no país, com produção prevista de até 44,55 milhões de sacas, ante os 13,96 milhões do tipo conilon —cultivado principalmente no Espírito Santo.


A estimativa feita por Paulino é que a produção nacional alcance 55 milhões de sacas, sendo 40 milhões do tipo arábica, volume suficiente, segundo ele, para atender ao mercado interno e cumprir os contratos de exportação.


NEGÓCIOS
Grande parte dos negócios na feira é fechada no sistema barter, em que o produtor paga o maquinário adquirido com sua própria produção entregue à cooperativa. E é nesse ponto que surgem as queixas de produtores quando fazem as contas.


Enquanto na edição do ano passado a saca de café era vendida a R$ 550, neste ano o preço médio foi de R$ 430. Isso significa que um implemento de R$ 10 mil era pago com 18,2 sacas em 2017, ante as 23,2 necessárias neste ano.


“O problema não está nos preços do maquinário, mas na baixa cotação hoje no país”, disse o cafeicultor João Pedro Oliveira.


Também produtor, Carlos Silva disse que as estimativas de safra contribuem para a pressão para baixo de preço e que já trabalha com os atuais valores para o ano todo. “Se melhorar [o preço], é lucro.”


Há, também, cafeicultores que, com o alegado preço baixo, estão travando as vendas antecipadas da produção. “Tem de ser ao menos R$ 500, pois a mão de obra encareceu. O adubo e a gasolina também subiram”, disse José Antonio Vilela, que colhe 600 sacas em Alpinópolis (MG).

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