22/10/2014 – Especialista em segurança de documentos e fraudes, Antonio Rebouças de França Filho, foi um dos palestrantes de Seminário na Fiesp
O painel de encerramento do seminário ?Rastreabilidade de Produtos: A ilegalidade e seu impacto na competitividade da Indústria Brasileira?, realizado nesta quarta-feira (22/10) na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), contou com a apresentação do especialista em segurança de documentos e fraudes em sistemas de pagamentos e gerente nacional de vendas da RR Donnelley, Antonio Rebouças de França Filho, que expôs experiências bem sucedidas aplicadas em diversos segmentos industriais.
Rebouças destacou que a rastreabilidade ajuda o país a estancar “a sangria que é a ilegalidade” e traz benefícios para as indústrias e para os consumidores.
Para explicar o conceito e a aplicação da rastreabilidade, ele sugeriu uma série de perguntas: “Se o consumidor entrar em contato com a empresa para descrever problema em um produto, quais serão as respostas? Temos ferramentas para verificar se o produto foi realmente produzido por nossa empresa? Quando e onde o produto foi fabricado? Em que fase da produção houve erro? Quem foi que vendeu esse produto ao consumidor final? E o mais importante: quem é esse cliente, quais as características e preferências dele?”
Para o especialista, a resposta a tudo isso está na rastreabilidade, que, hoje, permite uma “singularização” dos produtos.
“O problema é macro mas tem que ser tratado no aspecto do micro”, explicou Rebouças, declarando que, hoje, quem sabe fazer isso está ganhando muito dinheiro e satisfazendo seus clientes.
Se antes o conceito da rastreabilidade levava em conta apenas a origem da matéria-prima e logística, hoje tem o valor adicionado ao marketing do produto e marcas.
Contudo, segundo o especialista, independentemente da tecnologia usada (RFID ou outros sistemas), a rastreabilidade deve ter uma organização sistêmica. “Além da proteção da marca, ela traz outros benefícios como a prevenção de perdas para empresa. Quem controla sabe o que perde em cada etapa do processo, seja no corte de material na marca, por exemplo.”
O especialista ressaltou que, nesse processo, a garantia de procedência passar ter uma consequência direta, pois o produto passa a ter um ID (código de identificação). “Essa identidade cria uma interface com o consumidor, de ida e volta. Na ida traz a garantia de qualidade e na volta a satisfação do cliente.”
Contudo, segundo o especialista, não basta a rastreabilidade por lote ou por amostragem, como muitas vezes é feito. “Quando se tem rastreabilidade sistêmica, é possível identificar, por exemplo, qual garrafinha de água está com o problema. Você consegue a ter a identidade de cada produto.”
Relação do consumidor
Um dos diferenciais da rastreabilidade sistêmica é que ela pode embasar toda a relação da indústria com o consumidor. “Essa relação em cadeia é analisada pelo pessoal do Marketing como ‘sell-out’, pois o consumidor direto muitas vezes tem uma relação direta com o ponto de venda e não com a indústria”, explicou.
Rebouças destacou que a Logística Reversa permite que as indústrias não sejam penalizadas por um produto que elas não tenham feito. No futuro, o ideal é que quando um consumidor digitar o ID de um produto possa saber em qual local esse produto poderá ser descartado.
“A relação de trade marketing com relação direta com a indústria pode ter um ganho de marketing também via internet, trazendo interface com o consumidor”, avaliou.
Exemplificando como a rastreabilidade sistêmica pode ser usada nas estratégias de marketing de uma empresa, ele citou uma loja da marca Companhia da Moda que visitou e que tem sua porta um painel com um QRCode. Ao acessar esse código com seu smartphone, ele conseguiu ver na tela o site empresa. Em seguida lhe é solicitado o preenchimento de algumas informações de sua preferência. “Este é um exemplo simples, mas, em lojas nos Estados Unidos, isso vai muito além, pois se a vendedora da loja consegue visualizar minha localização dentro da loja, pelo celular, pode me indicar os produtos que mais me interessam.”
Outro ponto destacado pelo especialista é que a rastreabilidade engloba e registra diversos controles de qualidade, via consumidores, e gera indicadores, ajudando nas tomadas de decisões de diversas áreas de uma empresa.
Para todos produtos
O ID pode ser marcado em produto de qualquer tamanho, afirmou Rebouças. “Se o produto for muito pequeno pode ser usado nanotecnologia; se for um produto mais delicado poderá ser usado holografia, ou outras tecnologias, mas, sem dúvida, sempre haverá um verificador, isto é um ID do produto.”
Entre os exemplos bem sucedidos ele destacou o Selo de Pureza Abic da Associação Brasileira do Café, que buscou o controle de qualidade por rastreabilidade, inicialmente por lotes.
Também citou a rastreabilidade de medicamentos, já normalizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que será obrigatória a partir de 2015, usando a tecnologia matriz. “Há laboratórios que já estão antecipando a incorporação desses sistemas pois também visualizam os ganhos em termos de marketing.”
Outro exemplo bem sucedido citado é o de uma indústria automobilística que, há cinco anos, aplicou a rastreabilidade nas caixas de câmbio de seus veículos. Segundo ele, o consumidor percebeu o benefício da tecnologia e optou por pagar mais pelo produto. A marca Lacoste, com o uso da rastreabilidade, obteve redução de 50% dos custos de produção e ampliou os ganhos em produtividade.
Segundo o especialista, o uso de rastreabilidade sistêmica é bastante utilizado no mercado internacional. ?Por questão de segurança, depois dos atentados do 11 de setembro, para exportar para os EUA é obrigatório ter rastreabilidade?, afirmou o especialista, citando o certificado de origem da Fiesp, como um exemplo que permite atestar a origem dos produtos.
Ele destacou também a certificação digital que ajuda nesse processo de sistematização das informações e elogiou iniciativas como a da Fiesp em ajudar as associações setoriais em disseminar informações relevantes, como o controle da pirataria e rastreabilidade de produtos, entre as indústrias.
Ao final do evento, que com a presença do vice-presidente da Fiesp e do diretor titular do Departamento de Segurança (Deseg) da entidade, Ricardo Lerner, foi aberto um espaço para debates e perguntas dos participantes aos palestrantes.