Prof. Rena: Estiagem e calor podem afetar safras de café até 2016

Por: Rede Social do Café

Estiagem e calor podem afetar safras de café até 2016
 


Condições das lavouras afetadas pela falta de chuva e altas temperaturas foram debatidas em palestra na Cooxupé com a presença do Professor Alemar Braga Rena


 


A estiagem e as altas temperaturas que surpreenderam as lavouras de café no início do ano foram alvos de discussão em palestra realizada na Cooxupé, no último dia 28, com a presença do agrônomo e professor Alemar Braga Rena. O evento aconteceu no auditório da cooperativa, reunindo técnicos, agrônomos e, também, produtores.


Um dos pontos da discussão foi o comprometimento da safra de 2014. Segundo o Professor Rena, a produção brasileira de café esperada para este ano seria cerca de 50 milhões de sacas, mas a falta de chuva aliada à alta temperatura comprometeu a produção estimada. Questionado sobre as próximas safras, o especialista afirma que no momento é difícil prever, “mas a perda será grande também”, enfatiza.


Lavouras do Sul de Minas, da Zona da Mata mineira, do Cerrado Mineiro e da região de Franca, segundo o Prof. Rena, foram bastante atingidas por conta da situação climática. “No Sul de Minas algumas lavouras estão até bonitas, mas afetadas. Parte das lavouras do Espírito Santo e da Bahia também estão com problemas. Em suma, todo o parque cafeeiro do Brasil foi, de certa forma, afetado”, pontua.


De acordo com o especialista, o que mais percebemos são frutos com mau desenvolvimento do endosperma, ou seja, a má formação da semente, do grão do café. “Trata-se do pior efeito da seca e da alta temperatura”, aponta. Rena ainda complementa os efeitos gerados pelo clima. “Eu diria que neste ano a temperatura (radiações infravermelhas) e as radiações ultravioletas tiveram um efeito muito grande, determinando fortes inibições (foto-inibições) e ações degenerativas (foto-oxidações) do sistema fotossintético. A cada 11 anos, o sol entra em erupção superficial emitindo massas coronais, das quais somos protegidos, até certo ponto, pela magnetosfera. Este ano, por alguma razão, esse pico está entre os maiores em décadas. Fica até difícil dizer o que foi mais prejudicial às plantas, se foram as radiações eletromagnéticas, as temperaturas muito altas ou sua consequência, a seca”, completa.


Especialista em fisiologia vegetal, Prof. Rena também apontou as consequências geradas pelo calor excessivo e pela estiagem ao sistema radicular das plantações. A morte do sistema radicular, ou seja, os danos nas raízes das plantações cafeeiras é o principal motivo que também afetará as próximas duas safras, conforme Rena. “Se não for por demais  afetada, a parte aérea acaba voltando a brotar bem (efeito pós-traumático), mas o sistema radicular é lento. Mesmo se a parte aérea tiver brotando bem, o sistema radicular fica para trás quando há deficiência de energia. Ele recebe por último, pois é o dreno ou importador mais fraco do cafeeiro. Infelizmente, o sistema radicular é algo como o cérebro do vegetal e o que comanda boa parcela das atividades fisiológicas da parte aérea, especialmente o equilíbrio hormonal. Tanto é que se essa planta em 2016 estiver aparentemente recuperada e possuir boa carga, caso haja nova adversidade biótica ou abiótica, parecida com a que vivemos no início deste ano, as consequências poderão também ser graves”, prevê o palestrante.


O especialista ainda alerta para outra consequência da estiagem e da alta temperatura: o aumento da bienalidade. “A planta que sofrer morte em seu sistema radicular estrutural dificilmente será normal outra vez. No entanto, plantas jovens, de até 4 ou 5 anos, poderão se recuperar bastante. Porém, qualquer ameaça futura de desvio do clima comprometerá as lavouras adultas ainda mais”, declara Rena, apontando que essas alterações climáticas também podem gerar outra mudança na cafeicultura: a bienalidade dando lugar à trienalidade de produção.


Questionado sobre possíveis alternativas para os cafeicultores tentarem reduzir os prejuízos em futuras lavouras, Rena indicou o gesso como uma forma de prevenção. “Durante o plantio é adicionar gesso à cova. Foi um experimento feito pela Epamig em São Sebastião do Paraíso e em Patrocínio na década de 70 e que terminou nos anos 80. Sem calcário, as raízes das plantas chegaram a 30 cm. Com calcário, de 60 a 70 cm. Já com o gesso (sulfato de cálcio), as raízes atingiram 2 metros de profundidade” revela o especialista, alertando que essa medida  não se trata de irrigação branca, que também parece ser uma boa alternativa.


Rena ainda complementa: “na hipótese de chover bem até o período da colheita e a temperatura não cair muito, as plantas que não sofreram em demasia poderão ainda crescer 1,5 a 2,0 nós. Mas, chover significa salvar o que se tem e não o que já foi comprometido em 2014. Essa opinião é também compartilhada por outros especialistas”, conclui.

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