Coreia do Sul está se tornando o novo Japão em relação ao consumo de cafés caros na Ásia, e os brasileiros estão começando a perceber isso
Mario Sergio Lima, Rose Kim e Heesu Lee, SeongJoon Cho/Bloomberg
Café torrado: Coreia do Sul é o mercado de café arábica que cresce com maior velocidade na Ásia
Brasília/Seul – Há mais ou menos uma década, a Coreia do Sul é o novo Japão em relação à exportação de eletrônicos e a uma vibrante cultura doméstica de consumo. Agora, ela está se tornando o novo Japão em relação ao consumo de cafés caros na Ásia — e os exportadores brasileiros estão começando a perceber isso.
O país é o mercado de café arábica, o grão de sabor suave usado em misturas premium, que cresce com maior velocidade na Ásia. Desde 2006, o número de lojas é quase nove vezes maior, cerca de 15.000 em total no ano passado, incluindo 554 lojas da Starbucks Corp. Hugo Villas Boas, com fazenda nas exuberantes colinas do sudeste do Brasil, espera que os esforços para fornecer café de alto padrão a Seul ajudem a aumentar a demanda pelos grãos após a queda de mais de 40 por cento nos preços desde abril de 2011.
Os sul-coreanos, cuja emergência como uma população abastada é satirizada no videoclipe “Gangnam Style”, que se tornou viral no YouTube, estão tomando mais cafés premium que nunca, e pagando por eles o mesmo ou até mais que os nova-iorquinos. O centro de indústrias automobilísticas e eletrônicas é um exemplo perfeito dos mercados que os exportadores de arábica do Brasil buscam conquistar, pois se prevê que os fornecimentos globais superarão a demanda pelo quarto ano consecutivo.
Os brasileiros miram a “pessoas mais jovens, geralmente mais ricas, que pensam na experiência de tomar café com amigos como uma mudança na tradição, como um momento de ócio”, disse Adam Belanich, um dos fundadores da Joyride Coffee Distributors em Nova York em 2011 e enfoca misturas premium.
Os torrefadores coreanos estão pagando mais que seus homólogos nos EUA por uma saca de arábica brasileiro para assegurar grãos de melhor qualidade, disse Jânio Zeferino da Silva, diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura. Algumas remessas para a Coreia são vendidas por cerca de R$ 1.000 (US$ 415) por saca de 60 quilos (132 libras). O mesmo café é vendido aos torrefadores americanos por R$ 315, disse por telefone de Brasília.
Os exportadores brasileiros apostam que aumentarão as remessas para a Coreia em 4,5 por cento anuais nos próximos cinco anos, a taxa mais rápida entre os principais mercados que eles abastecem, disse Guilherme Braga, diretor do grupo de exportadores de café CeCafé. O crescimento esperado para as vendas para o Japão, o maior mercado de café da Ásia, é de menos de 1 por cento.
Escala de vantagem
Na Coreia, as exportações brasileiras só estão atrás das vendas do robusta do Vietnã, que teve cerca de 30 por cento do mercado no primeiro semestre do ano passado, comparado com aproximadamente 20 por cento para o Brasil, de acordo com o relatório de Terarosa.
Enquanto uma queda da média de preços do arábica em Nova York nos últimos dois anos reduziu os lucros dos cultivadores, o preço mais baixo está ajudando a abrir mercados para os grãos em países onde o robusta ainda predomina, disse Rabobank em um relatório de 28 de janeiro.
A Coreia lidera esta tendência na Ásia e é vista pelos exportadores brasileiros como uma porta de entrada para a região, onde outros mercados, como a China, provavelmente seguirão o exemplo nos próximos anos, disse Silva. Os padrões sanitários da Coreia também são uma referência para futuras importações de países vizinhos, disse.
Até o momento, a exportação total de café verde do Brasil para a Coreia aumentou 19 por cento desde 2009, para 326.000 sacas no ano passado. Apesar de que a quantidade é pequena em comparação com 2,6 milhões de sacas vendidas ao Japão, o mercado coreano para o café brasileiro tem o potencial de alcançar níveis semelhantes em apenas cinco anos, disse Américo Sato, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café.
“A Coreia tem o potencial de alcançar o Japão”, disse Sato em uma entrevista em Brasília. “O Japão é o terceiro maior consumidor de café, mas já não há muito espaço para o crescimento”.