11/11/2012
Pressão por aumento de produtividade no campo eleva procura por trabalhadores
LEANDRO COSTA – O Estado de S.Paulo
Desafiado a produzir duas vezes mais até 2050 para alimentar uma população 35% maior do que a atual e, ainda por cima, com menos recursos e maior pressão ambiental. Esse é o cenário que se desenha para o setor agrícola mundial e para o Brasil, apontado como o grande celeiro de alimentos do planeta.
Tanta responsabilidade se reflete em altos investimentos (somente o Plano Agrícola e Pecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, prevê cerca de R$ 115 bilhões em recursos para financiar a produção entre 2012 e 2013) e, consequentemente, em oportunidades para profissionais como engenheiros agrônomos, zootecnistas, veterinários e técnicos agropecuários no geral.
“A perspectiva de crescimento do setor é grande. Principalmente nas novas fronteiras agrícolas, como na região do Mapito (Maranhão, Piauí e Tocantins), que estão recebendo investimentos para o desenvolvimento de uma agricultura empresarial e moderna”, diz o presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga. Segundo ele, nessas regiões toda a mão de obra disponível está ocupada.
Um dos segmentos que passa por forte processo de modernização, com o emprego de novas tecnologias, e que tem procurado contratar veterinários e zootecnistas, segundo Alvarenga, é a pecuária. “É uma área onde há necessidade de melhora na eficiência para liberação das áreas de pastagens”, diz.
É onde atua a zootecnista Milena Watanabe, que também possui mestrado em nutrição animal. Desde janeiro ela foi contratada como trainee na Merithal, empresa especializada em suplementação para gado de corte e gado leiteiro.
Milena é hoje consultora técnica na região de Araçatuba (SP), onde visita propriedades, colhe dados e indica as soluções mais adequadas para os clientes. Ela conta que desde formada sempre recebeu diversas propostas de trabalho. “O setor está em crescimento e falta profissional de campo”, avalia.
Segundo a gerente comercial e de marketing da Merithal, Marina Bonilha, a complexidade que envolve a venda dos produtos aliada, é claro, ao aquecimento do mercado, puxa para cima a demanda por profissionais qualificados. “Trabalhamos com suplementação de precisão. Então cada venda é uma consultoria, pois indicamos um produto com base na situação do rebanho”, diz.
O objetivo da empresa é recrutar profissionais qualificados, como Milena, para dar suporte às equipes de vendas nessas análises. “Atualmente, o próprio vendedor não pode ter mais aquele perfil antigo, de quem só tira o pedido. Ele também tem de ter alguma base técnica”, afirma a gerente Marina.
O engenheiro agrônomo é outro profissional entre os mais procurados nos diversos segmentos que abrangem a economia rural, por sua formação extensa e consequente versatilidade. “Ele pode atuar em todos os ramos da cadeia. Desde o que vem antes da porteira, como no setor de máquinas, insumos, credito rural, quanto na gestão da propriedade ou até nas áreas de processamento e comercialização”, explica.
Na divisão agrícola da Dupont, que produz defensivos como herbicidas, acaricidas e fungicidas a demanda maior é justamente por esses profissionais, segundo conta a gerente regional de recursos humanos para agrícola na América Latina, Simone Bianche.
De acordo com ela, esses trabalhadores atuam em diversas áreas da empresa, como marketing, distribuição, análise de mercado, inteligência de produtos. “Como estamos em fase de expansão precisamos de profissionais multidisciplinares, capazes de se encaixar nas diversas oportunidades que surgem.”
O gerente de marketing para o segmento de fungicida da divisão de proteção de cultivos da Dupont, José Eduardo Silva, é exemplo da atuação diversificada dos agrônomos na organização. Há 25 anos na companhia, ele começou como vendedor para a área de cana, soja e laranja. De lá, passou pelo marketing de várias divisões da empresa onde acabou se especializando.
Ele compara o mercado de trabalho com o que encontrou e diz estar animado com o futuro da profissão. “Já se tem noção de que sem suporte profissional não se vai muito longe. Meu pai fazia as coisas no campo muito empiricamente. Hoje, a visão é de que o suporte profissional é necessário”, diz.
Headhunters. Essa visão é compartilhada pela agrônoma formada em 2002 Vanessa Frare. “Quando ingressei na universidade não havia todo esse assédio. Até porque muita gente achava que o agrônomo só fazia cerca”, diz Vanessa. Hoje, ela atua como pesquisadora sênior da Basf. Com doutorado em fitopatologia, ela atua na área de pesquisa de defensivos agrícolas e conta que recebe com frequência ligações de headhunters oferecendo oportunidades em outras companhias.
Ela comemora a valorização da profissão, que atribui à conscientização por parte de produtores e da sociedade em geral a respeito da sustentabilidade.
“Cada vez mais os agricultores tomam consciência de que podem produzir mais sem aumentar a área de plantio. E a sociedade cobra isso. O que coloca o agrônomo em outro patamar”, diz.
Procura por técnicos agrícolas também é elevada
Noção de que toda atividade rural deve ter orientação de peritos reforça necessidade de investir em formação
O Estado de S.Paulo
Os técnicos agrícolas também são profissionais requisitados e em falta no mercado segundo apontam os especialistas. “À medida que cresce entre os produtores rurais a noção de que toda atividade agrícola deve ter orientação profissional fica mais clara a necessidade de que é preciso investir mais na formação de profissionais com esse perfil”, diz o coordenador do curso de engenharia agronômica da Esalq, José Otávio Machado Menten.
“O técnico agrícola tem grande importância, pois é ele quem atua na ponta da cadeia, colocando em prática as orientações dadas pelos agrônomos”, afirma o professor.
O coordenador do curso técnico em agropecuária da Etec Doutor Dario Pacheco Pedroso, em Taquarivaí (SP), Eraldo Barboza de Souza, conta que é cada vez mais frequente a presença de empresas vindo recrutar alunos direto na escola. “São empresas dos mais variados setores da agricultura, e inclusive empresas de outras regiões.”
Aos 18 anos e prestes a se formar no curso técnico em agropecuária, o estudante Fábio Luis Campos já vive essa realidade. Ele diz estar avaliando algumas propostas que já surgiram. “Quero atuar dando consultoria em propriedades onde há criação de gado”, revela.
Fábio diz não querer parar de estudar e tem planos de fazer faculdade em alguma área relacionada à produção agrícola. Entretanto, diz pretender acumular um pouco de experiência de mercado antes de escolher.
Precisão. Além da falta de técnicos agropecuários faltam também profissionais deste nível com conhecimento em agricultura de precisão.
“No setor de grãos, por exemplo, há carência de profissionais aptos a operar equipamentos com essas tecnologias embarcadas, diz o coordenador dos projetos de agricultura de precisão do serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Victor ferreira. Segundo ele, tem crescido a quantidade de cursos que oferece esse tipo de formação no País.
Para tentar acelerar o processo de aprendizagem desses conceitos a entidade está promovendo ciclos de palestras para capacitar seus instrutores. A ideia é que eles sirvam de multiplicadores desses conceitos, que já são aplicados também na cafeicultura e fruticultura./L.C.