17/01/2012
por Roberto Rodrigues
Uma das questões mais inquietantes para um líder rural é responder à pergunta simplista “como vai a agropecuária brasileira?”, repetida sempre por representantes da mídia aqui e no exterior. Por que isso? Porque não existe uma única agropecuária brasileira, assim como não existe um único Brasil.
Há diferenças entre um produtor da Serra Gaúcha, outro do Cerrado mato-grossense, um do Agreste nordestino e outro da Amazônia.
Cada um é um mundo, com suas influências culturais e étnicas, edafoclimáticas e fundiárias, tecnológicas e de gestão. Tem o grande produtor, muitas vezes ligado a outros elos da cadeia produtiva, tem o pequeno, o médio, o mini e o familiar.
Como pode uma instituição central poderosa, mesmo quando magistralmente liderada como são hoje a CNA e a OCB, representar igualmente tão diversos produtores, cada qual com suas demandas específicas e, portanto, exigindo políticas também específicas? Regionalismos ainda interferem no processo de representação. Não é fácil conduzir uma instituição multilateral de representação, em função dessas disparidades.
Por outro lado, instituições setoriais de grande expressão, representando produtores especializados, vêm realizando um trabalho notável em sua defesa. É o caso do pessoal organizado da soja, do algodão, da cana-de-açúcar, do café, da laranja, da pecuária de leite e de corte, da avicultura e suinocultura, da fruticultura, das florestas, etc.
No entanto, todos eles têm problemas comuns: na área de infraestrutura e logística, na área tributária e de crédito rural, no seguro e nos preços de sustentação, na área ambiental e na conquista de mercados. E, trabalhando isoladamente, não têm o poder de fogo que teriam se estivessem articulados, embora façam seu papel com muito êxito em termos setoriais.
Editora Globo
E, tanto as instituições multilaterais (CNA, OCB, SRB, Contag, SNA, ABC) quanto as setoriais, precisam se entender com as organizações representativas dos insumos (fertilizantes, defensivos, sementes, máquinas, corretivos) e de serviços (bancos, seguradoras), de armazenagem, de industrialização e de comercialização, passando por embalagem e pela burocracia envolvida nisso tudo.
Trata-se de uma permanente discussão em que os interesses ora se aglutinam, ora se chocam, criando uma instabilidade cujo resultado é o pouco ganho para todos.
A Abag, inspirada por Ney Bittencourt Araújo, grande articulador, é uma tentativa de buscar a integração, mas nem sempre isso é aceito por parte das representações, e a disputa pela liderança continua inibindo resultados sonhados.
Quando surge uma crise mais profunda, aparecem líderes carismáticos e outras instituições nascem, como farol na escuridão. Foi assim durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à poderosa UDR, que se insurgiu contra a reforma agrária ideológica pregada por extremistas. Passado o perigo, a instituição perdeu importância.
Agora, com o Código Florestal, uma excelente entidade, Brasil Verde que Alimenta, surgiu, organizada por um conselho de produtores rurais formado por associações de classe, cooperativas, indústrias de implementos, sindicatos rurais do Brasil todo e que exerceu papel notável nas discussões sobre tão relevante assunto. Tomara que continuem seu trabalho, feito com independência e sem busca de estrelato para seus lideres.
Mas o ideal é a perfeita articulação entre as entidades mais jovens com as mais antigas: experiência e entusiasmo formam uma bela dupla.
Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor de economia rural da Unesp/Jaboticabal (SP)