Sérgio de Oliveira
Quebra das safras de países da América Central e da Colômbia e aumento da demanda mundial garantem cotações elevadas
Para os cafeicultores brasileiros, o ano de 2012 promete ser excelente, uma vez que os fundamentos do mercado apontam para um período de estoques apertados, produção regular e consumo em alta, o que deve ajudar a manter os preços do grão em alta e reforçar a posição do Brasil como maior produtor mundial de café. Para a indústria, no entanto, as altas dos preços pagos aos produtores podem contribuir para a redução das margens de lucro. “Tem sido difícil comprar café, situação que reflete o fato de os produtores estarem segurando sua produção para vendê-la durante a entressafra, e o abastecimento das indústrias está apertado”, diz Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
No campo, o aumento dos preços do café se reflete em cuidados no cafezal – que, depois de anos de abandono, voltou a ser adubado e podado na época certa. Na avaliação de Carlos Paulino, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), ainda que 2012 seja um ano de alta para a produção de café – que é uma cultura bianual, caracterizada por ano de safra gorda seguido por outro de safra magra –, a expectativa é que a produção brasileira não supere a de 2010. “Em 2011, consumimos a safra atual e a de 2010. Agora em 2012, se a produção for menor, haverá problema de oferta de café em 2013 e 2014”, avalia Paulino.
Na área de atuação da Cooxupé – que contempla o sudeste de Minas Gerais, o Triângulo Mineiro, parte do estado de São Paulo e 10,5 mil produtores de café –, a safra de 2012 não baterá os 9 milhões de sacas obtidos em 2010, porque a florada foi prejudicada devido à seca no inverno. Com isso, a tendência é que os preços se mantenham firmes. A média de preços na região em 2011 foi de R$ 460 por saca, mas a tendência é que ultrapasse os R$ 500 ao longo de 2012. Já as exportações do grão nunca renderam tanto ao setor. Com a expectativa de encerrar 2011 com vendas de 33,2 milhões de sacas, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) estima uma receita recorde para as vendas fora do Brasil, de US$ 8,4 bilhões. “Os preços de 2011 se valorizaram em 49% em relação os de 2010, tanto por conta do ajuste entre a produção e o consumo mundial de café como pelo fato de que os fundos de investimentos incluíram as commodities agrícolas em suas cestas de investimentos”, avalia Guilherme Braga, presidente do Cecafé. O Brasil mantém uma participação expressiva no mercado internacional, no qual responde por 34% das exportações, e em 2012 deve manter essa fatia. “Como alguns países da América Central e a Colômbia terão quebra em suas safras e a demanda permanecerá aquecida – tanto pelos tradicionais consumidores como pelo aumento nos emergentes e nos países produtores –, devemos manter as vendas externas no mesmo patamar de 33 milhões de sacas, mas o faturamento tende a crescer”, avalia Braga.
Enquanto isso, as indústrias devem investir na produção de cafés especiais, de maior valor agregado, para repassar parte da alta para o varejo. “As empresas continuam aprimorando a qualidade e apostando no consumo fora do lar”, diz Herszkowicz. Com isso, o consumo interno deve crescer 4% em 2012, para 20,8 milhões de sacas. Deste total, os cafés especiais somam 800 mil sacas e crescem a taxas de 5% ao ano. (Luciana Franco)
CONSUMO RECORDE De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de café no Brasil alcançou 78 litros por habitante, volume considerado muito bom pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que há anos realiza trabalhos no mercado interno para impulsionar a venda da bebida. “Já nos equiparamos à França e à Itália, tradicionais consumidores, onde os habitantes bebem entre 77 e 78 litros por ano”, diz Nathan Herszkowicz, diretor da Abic. Para 2012, a entidade estima um aumento de 2,5%, para 80 litros por habitante ao ano, o que colocará o consumo no Brasil em patamar recorde. “Nosso objetivo era recuperar o bom desempenho de 1965, quando o consumo per capita chegou a 74 litros, mas conseguimos ir além”, diz Herszkowicz.