No Planalto de Conquista, sudoeste do Estado, produtores reclamam do preço por saca, entre R$ 180 e R$ 200, que consideram elevado, e da legislação trabalhista, tida por eles como rigorosa
No mês passado,
quatro produtores baianos de café obtiveram a quarta, a nona, a 12ª e a 16ª
colocações entre os 16 melhores do País no 2º Concurso Nacional de Qualidade de
Café, realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
O melhor colocado da Bahia foi Zora Yonara de Oliveira, da Fazenda
Tijuco (Piatã), seguida de Miguel Moreira de Carvalho, da Fazenda Carvalho (São
Desidério), Selma Morais Coelho, da Fazenda Felicidade (Barra do Choça), e
Nelson Ribeiro, da Fazenda Floresta (Ibicoara).
O concurso nacional da
Abic registrou um novo recorde mundial de preço. A produtora Fernanda Silveira
Maciel Raucci – vencedora do certame –, de Pedregulho, interior de São Paulo,
recebeu o lance de R$ 8.150 por saca de café para a aquisição do seu lote de dez
sacas com preparação Natural. Foi o maior valor atingido por leilões tanto no
âmbito nacional quanto internacional. O café baiano, que ficou em quarto lugar,
foi vendido por R$ 1.200 a saca.
Os outros, que atingiram a nona, 12ª e
16ª colocações, obtiveram R$ 501, R$ 401 e R$ 375, respectivamente. Dos cafés
especiais baianos selecionados pelo concurso, dois são cultivados na Chapada
Diamantina (Piatã e Ibicoara), um no cerrado (São Desidério) e outro na
tradicional região produtora do Planalto de Conquista (Barra do Choça). Uma saca
de café especial custa em média R$ 320.
Mas o reconhecido destaque e a
premiada qualidade do café produzido no Planalto de Conquista, mais notadamente
no município de Barra do Choça, a 542 quilômetros de Salvador, não têm garantido
sono tranqüilo aos produtores da região. Tudo, segundo eles mesmos, por conta do
custo de produção, que consideram elevado, e da legislação trabalhista, para
eles muito rigorosa.
“As leis trabalhistas do Brasil comparam a
agricultura a uma usina nuclear, onde os trabalhadores devem ser paramentados,
uniformizados, por isso é preciso modificá-las”, sugere o presidente da
Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), Eduardo Salles.
“Justamente por estes complicadores trabalhistas é que a colheita se
torna inviável. Estamos deixando de empregar mais trabalhadores e a mecanização
não traz a qualidade que desejamos.”
Embora a média de produção anual na
região se mantenha entre 800 mil e 1 milhão de sacas e o preço da saca de 60
quilos (em torno de US$ 100, o que equivale, no momento, a R$ 220) esteja no
melhor patamar dos últimos cinco anos, para se produzir este volume, o
cafeicultor tem um custo que varia de R$ 180 a R$ 200 por saca. “Nosso sonho era
ter um café a US$ 100, e temos o café a esse preço, mas não estamos conseguindo
pagar nossos custos”, emenda.
O produtor Giano Brito, cujo café produzido
em sua propriedade foi destacado em 2003 como um dos melhores do Estado, por sua
vez, enfatiza os custos dos produtos utilizados na lavoura e o atrelamento à
moeda norte-americana. “Eles sobem na época em que o dólar sobe, mas não
retornam quando o dólar cai.”
Para quem resiste, surgem problemas que
afetam a qualidade do grão. Custo elevado significa menos adubação, menos trato
e menor produção, diz Giano Brito.
“O custo de produção pode até passar
dos R$ 200 por saca, a depender da produtividade, pois, se você produz muito
numa determinada área, consegue baixar o custo, mas se é menos e tem custos
fixos, fica muito caro”, frisa ele, sugerindo que cada produtor cuide da
propriedade como uma empresa agrícola.
“Deve-se retirar o valor que ela
precisa para sobreviver e o que for preciso a mais, de lucro, pode-se aplicar
como convier, sabendo que é ela, a empresa, que irá promover o sustento do
produtor.”
REDUÇÃO DE ÁREAS – Para não ter prejuízos a curto prazo, parte
dos cafeicultores mais jovens prefere abandonar a lavoura e transformar a área
em pasto. “A cafeicultura está passando por uma crise. Não pensem que, pelo fato
de o preço estar bom, isso significa que estejamos bem. Temos que buscar
soluções para esses problemas”, concluiu.
Quem resiste não tem saída: ou
paga para produzir ou reduz a área plantada, como fez o cafeicultor Israel
Tavares Viana. Pioneiro na cafeicultura do Planalto de Conquista e um dos
responsáveis pela propagação da cultura no Estado na década de 1970, Viana
reduziu de 70 para 40 hectares seu cafezal em Barra do Choça.
Ainda
assim, com sucessivas reduções na maioria das roças, o município continua
ostentando a distinção de “maior produtor individual de café do Norte e
Nordeste”.
Segundo Viana, foi a partir dos anos 1980 que a cafeicultura
começou a experimentar o declínio, depois de dez anos de boa convivência com os
agentes financeiros. “Naquela época, os juros do Banco do Brasil eram de 3% ao
ano, com três anos de carência, o que deu para pagar dívidas e
custeios.”
Com a mudança da política brasileira, toda a economia –
incluindo a cafeicultura – passou por uma situação delicada. Os cafeicultores se
transformaram em devedores por causa da elevação dos juros bancários. “Os juros
chegaram até a 85% e muita gente não pôde mais pagar”, finalizou.
Na
Bahia
Variedades
Cerrado (Barreiras) e do Planalto (Vitória da
Conquista) – variedade arábica, que produz um café fino, de aroma e sabor mais
apreciados no mundo. A espécie alcança maiores valores no mercado. Própria para
regiões de temperaturas amenas e altitudes elevadas.
Atlântico (extremo
sul do Estado) – variedade conolon, também conhecida como robusta, própria para
regiões de baixa altitude e temperaturas elevadas. Produz um café de qualidade
inferior ao arábico, mas boa aceitação pelas indústrias de café
solúvel.
Fonte: Ceplac