Em busca de mercados, Turquia quer vender mais para o Brasil

14 de maio de 2010 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: Valor Econômico

14/05/10


João Villaverde, de Istambul


Ingressar na União Europeia ainda é a principal missão dos turcos, mas, num processo que se iniciou com a explosão da crise mundial, em 2008, e se intensificou com os problemas dos países europeus nos últimos meses, os empresários turcos estão colocando a cabeça para fora da Europa e prospectando mercados. Segundo Mehmet Aykut Eken, presidente da Comissão Brasil-Turquia de Comércio e vice-presidente da Federação das Indústrias da Turquia , a moda é \”discutir com os brasileiros\”.


As relações comerciais entre Brasil e Turquia são amplamente favoráveis ao Brasil. Entre 2005 e 2008, período de rápida expansão econômica para ambos, o país obteve, em média, US$ 465 milhões por ano. Em grande parte, diz Eken, há similaridade industrial entre os dois países. \”Somos fortes em têxteis, veículos, couro e sapatos, justamente setores que os brasileiros dominam\”, diz. A corrente comercial entre os dois países não ultrapassa US$ 1,8 bilhão por ano.


Este número no entanto, não deve se repetir a partir de 2010. Para conter a alta dos preços internos, o governo turco autorizou a importação de carne dos países latino-americanos, medida que beneficia o Brasil, que conta com a maior produção mundial de carnes e frangos. Além disso, os industriais turcos preveem aumento das exportações para o mercado brasileiro. Dursun Topçu, vice-presidente da Câmara de Comércio de Istambul, estima que em três anos a corrente comercial entre as duas nações pode alcançar US$ 10 bilhões, um salto de 555%.


Os empresários turcos apostam em três setores para ampliar as trocas com o Brasil: veículos, construção civil e produtos básicos. O terceiro item mais exportado pela Turquia ao Brasil é partes e acessórios para veículos. Eken enfatizou que há muita especialização no setor entre os turcos, que desenvolveram a indústria automobilística praticamente na mesma época que o Brasil, a partir do fim dos anos 1950, tendo como auge as décadas de 1970 e 1980. Não à toa, Istambul tem oficinas mecânicas espalhadas por toda a parte e um trânsito semelhante ao de cidades brasileiras como Rio e São Paulo.


Para o presidente da Câmara de Comércio de Istambul, Murat Yalçintas, o setor de construção civil de ambos os países cresce a taxas elevadas. Na Turquia, no entanto, ainda não há registros de falta de mão de obra especializada, como começa a ocorrer no Brasil. \”Trocamos muitos bens primários também, mas podemos fazer um intercâmbio de melhor nível. O café brasileiro pode ser processado na Turquia e depois revendido, como já ocorre, mas também podemos fazer o mesmo com nossos bens primários\”, diz Yalçintas, para quem uma aproximação com o Brasil é \”crucial\”. \”O Brasil será o país da década. Temos e vamos ampliar nossas relações. O governo quer, os empresários querem e a sociedade quer também.\”


Eken diz que há discussões entre os dois governos para um tratado de livre comércio, semelhante ao que o governo turco fechou com o Chile, no fim de 2009. \”As taxas que nos cobram são muito altas \”, diz. No fim do mês, uma comitiva com mais de 160 companhias turcas viaja ao Brasil para participar da primeira Expo Turquia. A ideia, afirma Eken, é ampliar o \”intercâmbio de ideias, não apenas de produtos\”.


O empresário cita o exemplo do setor de turismo. Enquanto a Turquia recebeu pouco mais de 24 milhões de turistas no ano passado, e espera receber quase 30 milhões este ano, o Brasil recebe por volta de 6 milhões. \”O Brasil é um pais que tem muito o que mostrar, praias do Nordeste, os negócios de São Paulo, a beleza do Rio\”, afirma.


De acordo com Yalçintas, da Câmara de Istambul, a proximidade política entre os dois países – dividem a presidência rotativa da ONU e intercedem a favor do Irã na questão de enriquecimento de urânio por parte dos iranianos – encoraja os empresários. \”Estamos desenvolvendo nossa Bolsa de Valores de Istambul para ocupar um lugar intermediário entre Londres e Tóquio, como uma das principais bolsas do mundo. O exemplo da Bovespa será muito importante para nós.\”



 

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