QUETZALTENANGO, Guatemala (Reuters) –
Helicópteros do Exército e caminhões levaram na quarta-feira alimentos e água para aldeias do planalto guatemalteco, onde milhares de pessoas estão refugiadas em abrigos depois de terem suas casas tragadas por um deslizamento de terra na semana passada.
Os postos estão sem gasolina no montanhoso oeste do país, e já faltam alimentos frescos. Vastas áreas agrícolas do sul permanecem sob a água, e muitas estradas estão interrompidas por barreiras ou pontes destruídas.
“A Guatemala está em crise. Mesmo aqui não temos carne fresca, batatas e legumes”, disse um garçom de um restaurante popular entre mochileiros de Quetzaltenango, a segunda maior cidade do país.
O saldo oficial da passagem do furacão Stan, na semana passada, é de mais de 650 mortos e 400 desaparecidos. Mas as equipes de emergência avaliam que pode haver cerca de 2.000 mortos.
Há temores de que o pior ainda esteja por vir para dezenas de milhares de camponeses maias nas montanhas, antes cobertas de coníferas, mas agora atingidas por dezenas de deslizamentos.
“No momento estamos simplesmente lidando com a emergência, mas o pior virá depois: epidemias, lavouras destruídas, agricultores que não podem voltar às suas terras. E não podemos fazer nada a respeito disso”, afirmou o piloto da Força Aérea Hans Yaeggy numa base militar de Quetzaltenango, de onde ele transporta água mineral e comida para as vítimas.
“Podemos atender às necessidades das pessoas por enquanto, mas o governo não tem recursos econômicos nem estrutura para sair da crise em longo prazo. Não sem ajuda”, disse Yaeggy.
O país perdeu entre 2,4 e 6 por cento da sua safra de café devido aos ventos, deslizamentos e inundações provocados pelo Stan, segundo a Anacafé, que reúne produtores do setor.
A geografia da Guatemala, onde milhões de pessoas dependem da agricultura de subsistência em aldeias montanhosas, torna o país vulnerável a deslizamentos e dificulta os trabalhos de recuperação.
Muitas aldeias atingidas passaram vários dias sem ajuda, pois uma espessa nuvem impedia os helicópteros de se aproximarem. Caminhões que deixaram a capital repletos de comida levaram dias para superar as escorregadias curvas das estradas vicinais de terra, uma vez que a rodovia principal estava interditada.
“As coisas estão melhores agora, mas no começo havia uma terrível falta de organização e de comunicação”, disse o canadense Ken Herfst, que vive na Guatemala e usa voluntários da sua igreja, a Reformada Livre, para ajudar nas tarefas.
“Fomos ajudar aldeias inundadas e a água estava no nosso pescoço. Mas o problema é que, aqui nas montanhas, ninguém tinha barcos. Não conseguimos encontrar em lugar nenhum”, afirmou.
Após o começo desorganizado dos trabalhos, muitos estão céticos com a promessa do presidente Oscar Berger de encontrar novas terras para as vítimas dos deslizamentos.
Em Cua, uma pequena aldeia próxima à cidade fronteiriça de Tacana, no oeste, onde 80 pessoas morreram soterradas em duas igrejas e uma escola, os sobreviventes estão em choque e temem passar fome quando o fluxo de ajuda alimentar parar.
Um lamaçal que soterrou 32 pessoas foi declarado vala comum para os mortos. Abóboras e cenouras esmagadas ainda podem ser vistas no local. O principal milharal da aldeia também foi destruído.
“Perdemos tudo. Não podemos plantar milho até maio, então o ano inteiro não teremos nada para comer”, disse María Hernandez, sentada em um precário albergue de Tacana.
As equipes humanitárias estão preocupadas com epidemias e com a poluição da água em lugares como Cua e Panabaj, onde até 1.400 pessoas morreram nos deslizamentos.