Por Roberto Samora
SÃO PAULO, 5 de maio (Reuters) – As exportações totais de café do Brasil na próxima safra (junho de 2009 a julho de 2010) podem atingir até 30 milhões de sacas de 60 kg, contra estimadas 31 milhões de sacas para 2008/09, ainda faltando dois meses para o término do atual ano fiscal, afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
“Acho que será entre 29 e 30 (milhões de sacas)”, declarou João Lian, referindo-se ao produto verde e o equivalente em solúvel, ao ser questionado durante uma conferência que discutiu as perspectivas do agronegócio para 2009 e 2010.
Na safra 2009/10, o Brasil passará pelo ano de bianualidade negativa do café arábica, o que explicaria, em parte, a consequente queda nas exportações de café ante 08/09.
O mercado estima a produção de café em 09/10 em aproximadamente 40 milhões de sacas, contra cerca de 50 milhões em 08/09.
Os estoques finais em 2008/09, com safra oficialmente prevista pelo Ministério da Agricultura em 46 milhões de sacas, devem ficar em 8 milhões de sacas, de acordo com o Cecafé, ante algo em torno de 4 milhões de sacas no fechamento da safra anterior (2007/08).
Com um aumento dos estoques, Lian destacou que o governo precisa implementar rapidamente um programa de financiamento do carregamento de estoques, para evitar que os diferenciais em relação aos futuros do arábica em Nova York se alarguem ainda mais.
A indústria e os exportadores deverão contar com recursos já aprovados da ordem de 400 milhões de reais para o financiamento da armazenagem.
“Não dá para estocar café com financiamento de trading”, ressaltou Lian, lembrando que esse tipo de negócio leva o exportador a escoar o seu café.
Carlos Alberto Fernandes Santana Jr., da trading Interagrícola, concorda com o presidente do Cecafé sobre o volume de estoques finais em 08/09.
“Acreditamos que estamos terminando esta safra recuperando aproximadamente 3 a 4 milhões de sacas. É um incremento de estoques que não será transferido para o consumidor”, declarou ele, tomando como base os números do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) para os estoques finais em 07/08 (5 milhões de sacas).
Já para a temporada 09/10, Santana Jr. avalia que em função das boas chuvas nas regiões produtoras o Brasil não terá déficit no mercado, apesar de ser um ano de baixa na safra.
APOIO DO GOVERNO
Na opinião de Santana Jr, o programa de leilões de opções de compra anunciado pelo Ministério da Agricultura para 3 milhões de sacas, que deverá resultar em uma recomposição dos estoques públicos, vai permitir uma redução dos diferenciais do café brasileiro em relação aos futuros de Nova York.
Segundo ele, o desconto atual, de 25 centavos abaixo de Nova York, poderia diminuir um pouco. “Vai corrigir esse problema”, disse ele, acreditando que o programa não contaminaria os preços de Nova York, pelo menos em um primeiro momento, dando mais sustentação às cotações internas.
Lian considerou ainda positiva a disposição do governo de realizar leilões de opção para o café e afirmou que um outro programa, de Pepro, para o produtor familiar, também poderia beneficiar a cafeicultura.
“Estamos ouvindo que haveria também um Pepro para o agricultor do Pronaf. Fala-se que o governo destinaria 100 milhões de reais, para um programa que pagaria um prêmio de 20 reais por saca, para apoiar a comercialização de 5 milhões de sacas”, disse.
(Edição de Camila Moreira)