A desaceleração dos preços das commodities (alimentos, petróleo e minerais) no mercado internacional deve afetar diretamente no saldo da balança comercial. Para os especialistas, a queda do saldo é esperada porque o crescimento das exportações brasileiras está sustentado na elevação dos preços e não no aumento da quantidade vendida.
No mercado internacional, soja e milho não param de cair. As cotações na Bolsa de Chicago, principal centro financeiro do agronegócio, amargam perdas desde 16 de julho. Rosemeire dos Santos, assessora-técnica da Comissão Nacional de Cereais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explica que não é possível prever se a turbulência que tomou conta do mercado de itens agrícolas negociados em Bolsa está perto do fim ou apenas no começo. “Não dá para saber. A luz amarela está acesa. A volatilidade é muito grande”, completa a especialista.
Dados preliminares da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostram que o volume vendido recuou 1,6% no primeiro semestre de 2008 em relação a 2007, enquanto o valor avançou 25,3%. No caso dos preços, a expansão foi puxada, principalmente, pelos produtos básicos (39,9%) , cuja a participação nas exportações saltou de 30,57% para 35,31%.
Recuo do saldo
Com a perspectiva de um reajuste menor das commodities, especialistas já consideram inevitável um recuo do saldo comercial. O mercado prevê que o País deva fechar o ano com um superávit na balança comercial de US$ 23 bilhões. Para 2009, esse valor deve despencar para US$ 15 bilhões. “O efeito da desaceleração das commodities aparece no resultado das exportações e importações. Mas é inevitável um impacto da balança porque exportamos mais esses produtos do que importamos”, explica o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Dércio Munhoz.
Apesar da redução, no entanto, não há motivos para pânico. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Primo Segatto, os preços dos produtos com cotação internacional continuam num patamar elevado. O reajuste dos preços dos produtos básicos deve ficar em 42% neste ano, comparado à 2007. Para 2009, esse valor não deve superar a marca dos 9%. Além disso, os estoques de alimentos, por exemplo, estão baixos em todo o mundo, o que deve continuar contribuindo, em menor intensidade, para os superávits da balança comercial.
O câmbio é outro fator dessa análise. Ontem, a Vale do Rio Doce anunciou lucro 21,7% menor no trimestre, em comparação ao mesmo período do ano passado. Tomando como base a contabilidade americana (US GAAP), expressa em dólares, o lucro da Vale no segundo trimestre subiu 22,3%. A diferença entre os dois saldos se deve à variação cambial.